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Impossível servir a dois senhores!

Por Walter Miranda

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“Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto porque eles são pobres, chamam-me de comunista” (Dom Hélder Câmara)

O “invisível” mercado é inerente ao sistema capitalista. Sempre se irrita quando retiram seus lucros para distribuir aos pobres. Entende-se como economia de mercado um sistema econômico onde predomina a iniciativa privada. Segundo opiniões de alguns pensadores, principalmente os neoliberais, até as empresas públicas devem se adequar às regras de funcionamento estabelecidas pelo mercado ‒ compreendendo também o mercado financeiro.

No sistema capitalista, prevalecem o lucro e a acumulação das riquezas, baseados na propriedade privada dos meios de produção (máquinas, terras, instalações industriais, etc.). Existem duas classes sociais: os capitalistas e os trabalhadores. Os ricos são os donos dos meios de produção, do sistema financeiro, enquanto os trabalhadores prestam serviços para eles em troca de remuneração, quase sempre mínima.

Após os conceitos acima traçados, discordo do Editorial com o título “Mau começo”, publicado pela Folha de São Paulo do último dia 12 de novembro de 2022.  Nele, a FSP afirma: “Lula abraçou a demagogia mais rasteira ao vociferar contra a tal da responsabilidade fiscal; ao posar de único preocupado com a pobreza no país e ao resmungar contra a possível reação negativa dos mercados financeiros”.

Continua a FSP: “O presidente eleito parece não ter aprendido que responsabilidade fiscal é responsabilidade social. Se colocar em prática seu falatório, a sangria dos cofres do Tesouro não tardará a alimentar a inflação, que mal deixou o patamar de dois dígitos, os juros – já estratosféricos hoje – e a dívida pública”.

É claro que a FSP não pode contrariar quem a banca financeiramente. Defende os donos do tal “Mercado” principalmente o sistema financeiro, preocupados em continuar mantendo os seus exagerados lucros, cobrando altas taxas da classe trabalhadora, majoritariamente a pobre, levando a população ao insuportável endividamento. Lula prometeu, e precisa cumprir, salvar a população desses sanguessugas financeiros que prejudicam quem, de fato, produz.

Entre a responsabilidade fiscal e a social, o governo Lula deve optar pela segunda, começando por evitar o pagamento de juros sobre a dívida pública, que precisa ser auditada. Até o fim deste ano o governo Bolsonaro estará pagando R$ 500 bilhões de juros ao capital especulativo. Esses recursos têm que ir para a responsabilidade social, objetivando eliminar urgentemente a fome de 33 milhões de seres humanos; promover o aumento real da renda dos mais pobres, principalmente os valores das aposentadorias.

Quem vem há anos sangrando os cofres do Tesouro Nacional, dentre outros, são os banqueiros; boa parte da classe política envolvida com a corrupção; os gastos absurdos com os cartões corporativos do Palácio do Planalto; e muitos outros gastos desnecessários.

Em Mateus 6:24, Jesus Cristo nos ensina: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas”. Entre atender aos desejos e interesses do tal mercado e o da classe trabalhadora, principalmente os pobres, o governo Lula tem de atender os segundos, como recomendado em Mateus 25:35-36.

Quem deve governar o Brasil é o Lula e não esse “invisível” mercado, composto por diversos sociopatas que não se sensibilizam com a miséria e pobreza no nosso país. Lula tem que governar para a maioria. Impossível servir a dois senhores.

(*) Walter Miranda, graduado em Economia e Contabilidade; mestrado em Ciências Contábeis pela PUC/SP; pós-graduado em Gestão Pública pela UNESP/Araraquara, militante do PSTU e da CSP-CONLUTAS Central Sindical e Popular.

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