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Não somos o que falam de nós !

Por Ivan Roberto Peroni

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Em meio as comemorações do Dia da Consciência Negra, neste 20 de novembro, o mundo acompanhou a abertura de mais uma edição da Copa do Mundo de Futebol. Curiosamente, o conteúdo programático de ambos os eventos envolveu diretamente – as desigualdades, os preconceitos, as diferenças. E se de um lado está a euforia pelo esporte, do outro, a gente encontrou a oportunidade de refletir sobre o modo de vida que as pessoas estão levando, principalmente os negros e a pobreza daqueles que vivem num estado de vulnerabilidade.

A data então reforçou a importância de uma sociedade antirracista, o fomento do protagonismo negro e a conscientização para construir uma efetiva democracia racial no Brasil. E na democracia não pode ser diferente. E o que a gente sente, é que os dados mostram que ainda há muito a fazer para alcançar a equidade racial também entre os representantes do povo.

Não basta apenas investir, promover o luxo e a riqueza como foi dito na abertura da Copa: “Nós investimos para o bem de toda a humanidade. Que beleza juntar essas diferenças todas, essa diversidade toda para reunir todo mundo aqui”.

A frase embora tenha seu lado real, neste caso mais comercial que humano, mostra que as pessoas que lá estão devem ser vistas muito mais como mercadorias, produto pronto para espalhar para o mundo que o Qatar é um paraíso e que nunca teve desigualdades, a começar pelos princípios éticos e morais, pautados pelos religiosos ou credulidade no poder de um rei.

Já aqui, convivemos com a conscientização sobre outro tema, ainda que o pano de fundo seja a desigualdade nos levando a entender que 20 de novembro tornou-se a data para celebrar e relembrar a luta dos negros contra a opressão no Brasil.

Se Treze de Maio, data em que a abolição da escravatura aconteceu, foi deixado de escanteio, e se o foi assim de fato, logo imaginamos que Treze de Maio sempre representou uma “falsa liberdade”, uma vez que, após a Lei Áurea, os negros foram entregues à própria sorte e ficaram sem nenhum tipo de assistência do poder público.

Ora o Dia da Consciência Negra é uma data significativa, pois traz à luz questões importantes: o racismo e a desigualdade da sociedade brasileira. É uma data que relembra a luta dos africanos escravizados no passado e que reforça a importância da realização de novas lutas para tornar a nossa sociedade mais justa.”

O Dia da Consciência Negra é importante para relembramos que a nossa sociedade foi construída por meio da escravidão. Por mais que melhorias e mudanças tenham acontecido, a falta de oportunidades para a população negra, o racismo presente nos detalhes do cotidiano e as tentativas de apagamento de cultura africana evidenciam que ainda temos um longo caminho a ser trilhado. É disso que se trata o Dia da Consciência Negra.

Quando vemos a ostentação de uma Copa do Mundo, mercantilizada para contestar princípios políticos, dar vazão ao luxo e tentar explicar ao mundo que – nós não somos isso que o mundo a nós se refere – aqui, os negros buscam apenas o espaço que lhes cabe por conta do seu amor a terra que ajudaram a construir. Seria o reconhecimento ao valor humano, ao ser humano. Questão apenas de igualdade que não se vê e não se enxerga, simplesmente por causa da cor. Uma sociedade injusta por não querer entender a importância dessa gente em nossas vidas.

*Ivan Roberto Peroni, jornalista e membro  da ABI, Associação Brasileira de Imprensa

**As opiniões expressas em artigos são de exclusiva responsabilidade dos autores e não coincidem, necessariamente, com as do RCIARARAQUARA.COM.BR