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Advogado de hacker diz que Delgatti tem provas de encontro com Bolsonaro

Defesa de Delgatti afirmou que alegações feitas à CPMI de 8 de janeiro foram reiteradas em depoimento à PF e que a possibilidade de delação premiada não está descartada

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O hacker e o seu advogado, o araraquarense Ariovaldo Moreira (Foto: Ed Alves/CB/DA.Press)

Walter Delgatti Neto prestou novo depoimento à Polícia Federal (PF), nesta sexta-feira (18). O hacker de Araraquara chegou à sede da corporação, na Asa Norte, em Brasília, por volta de 9h e deixou o local no fim da manhã, perto das 11h30. Na saída, após o depoimento, o advogado do depoente, Ariovaldo Moreira, afirmou que a oitiva foi para confirmar as alegações feitas durante a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os atos golpistas de 8 de janeiro.

“Ele apenas reiterou tudo que foi falado ontem (quinta) durante depoimento na CPMI”, confirmou Moreira. Delgatti depôs na CPMI, por cerca de sete horas. Na ocasião, ohacker falou sobre um esquema envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a deputada Carla Zambelli (PL-SP) para fraudar as urnas eletrônicas.

No primeiro depoimento à PF, dado na quarta-feira (16), Delgatti não havia mencionado a participação de Bolsonaro na operação de fraude eleitoral. Depois de revelar essas informações na CPMI, a corporação acreditou haver justificativas para uma nova oitiva, com objetivo de esclarecer possíveis contradições entre o que teria sido falado anteriormente e as afirmações feitas na Comissão.

DEFESA DIZ TER PROVAS DO ENCONTRO

Ainda de acordo com a defesa do hacker, Delgatti tem provas para apresentar e “não há dúvidas que Walter esteve com Bolsonaro”. “O Walter já deu todos os esclarecimentos. Ele tem indícios de provas. Com certeza, no Ministério da Defesa, câmeras, imagens, o Walter dando datas, horários, muito provavelmente essa prova será feita”, garantiu o advogado, emendando que não está descartada a possibilidade de uma delação premiada.

BOLSONARO ASSUMIU QUE ESTEVE COM HACKER

Nesta sexta-feira (18), durante viagem a Goiânia, Bolsonaro assumiu ter se encontrado com Walter Delgatti. O ex-presidente disse que Zambelli levou o hacker até ele e que, naquela época, “procurava ter a certeza de que o sistema é seguro”. “Tanto é que eu o encaminhei para a Comissão de Transparência Eleitoral e a intenção era justamente colaborar com o TSE para que eleição fosse a mais segura possível”, confessou.

“Pelo que eu sei ele ficou lá [no Ministério da Defesa], 15 ou 20 minutos, não foi recebido pelo ministro da Defesa , e sim por alguém da Comissão, foi liberado e, pelo que eu sei, nunca mais voltou lá”, disse Bolsonaro. “O que todo mundo quer é transparência, segurança e que o processo democrático seja perfeito”, completou.

O ex-presidente ainda chamou o hacker de “estelionatário contumaz” e comentou as declarações de Delgatti à CPMI. “Ele está preso e, pelo que eu vi na imprensa, não quer delação premiada. Ele quer entrar no programa de proteção à testemunha, mas quem tá preso não tem programa de proteção”, apontou.

“À tarde, quando o pessoal da oposição começou a inquiri-lo, ele não tocou mais no assunto. Mas ele falou coisas importantes ali, que até 2018 apenas uma pessoa tinha acesso ao código-fonte das urnas. Ele disse que essa pessoa poderia alterar o resultado das eleições”, ressaltou Bolsonaro.

Em depoimento à CPMI, na quinta-feira (17), Delgatti revelou um plano em que Bolsonaro teria pedido para ele modificar o código-fonte de uma urna, com o intuito de expor à população, em apresentação que ocorreria em 7 de setembro de 2022, a fragilidade do sistema de votação. O hacker contou que a ideia era alterar as informações para que, quando um eleitor digitasse o número de um candidato, o voto fosse direcionado a outro.

Na declaração, Delgatti afirmou que o código-fonte é “um conjunto de arquivos” que, antes de ser compilado, pode ser alterado e que ele “obedece ao criador”. “Quem tem acesso ao código-fonte antes de compilá-lo consegue inserir linhas que façam com que seja apertado um voto e o resultado seja outro. O código-fonte obedece a quem está criando ele, então eu posso criar com a ideia de que, assim que compilado, ser inserido um voto e sair outro”, detalhou o hacker.

“Eles [Bolsonaro, Zambelli e o marqueteiro Duda Lima] queriam que eu fizesse um código-fonte meu, não o do TSE, e nesse código eu inserisse linhas que eles chamam de código malicioso porque tem como finalidade enganar, colocar dúvidas na eleição”, reforçou Delgatti.

DELGATTI DEIXARÁ BRASÍLIA NA SEGUNDA-FEIRA

Walter Delgatti está preso desde 2 de agosto, por ser alvo da operação da Polícia Federal que apura a suposta invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e a inserção de documentos e alvarás de soltura falsos no Banco Nacional de Mandados de Prisão (BNMP).

O advogado do hacker afirmou ao Correio que Delgatti ficará em Brasília até segunda-feira (21), quando retorna a São Paulo, seu estado de origem, transferido pela Polícia Federal. Por hora, ele permanecerá preso preventivamente, mas a possibilidade de uma prisão domiciliar é avaliada, segundo Moreira. (Informações Correio Braziliense)