
Nesta semana o presidente dos Estados Unidos Donald Trump anunciou que vai aplicar uma taxação a produtos importados de outros países, seguindo uma tabela; para produtos brasileiros a taxa será de 10% sobre qualquer produto que entre nos Estados Unidos.
A situação em questão acende um alerta no interior de São Paulo, especificamente na cidade de Gavião Peixoto, onde está instalada uma das unidades mais estratégicas da Embraer. A medida, anunciada, promete impactos significativos sobre empresas exportadoras, especialmente nos setores de siderurgia e aeronáutica — altamente dependentes do mercado norte-americano.
Segundo o advogado tributarista e especialista em comércio exterior Jean Paolo Simei e Silva, a Embraer já projeta perdas de até 9% no seu EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) em 2025, como resultado direto da nova tarifa.
“A sobretaxa compromete a competitividade dos produtos brasileiros, que chegam mais caros ao mercado norte-americano. No caso da Embraer, cujos aviões fazem parte de contratos de longo prazo com os Estados Unidos, o impacto é particularmente sensível”, explica o especialista.
A fábrica da Embraer em Gavião Peixoto é uma das maiores e mais modernas instalações da empresa, responsável por parte da montagem final de aeronaves, além de testes e manutenção. O risco, agora, é que a tarifa prejudique o ritmo de produção e reduza as margens de lucro, podendo gerar reflexos também no nível de empregos na região.
Para Simei e Silva, o efeito dominó pode alcançar também as pequenas empresas do entorno, ainda que indiretamente. “Com a redução das exportações, grandes companhias como a Embraer podem redirecionar parte de sua produção para o mercado interno, aumentando a concorrência e pressionando os preços localmente”, alerta.
IMPACTO CAMBIAL E CENÁRIO GLOBAL
A valorização inicial do real frente ao dólar — que chegou a R$ 5,62 — foi interpretada por analistas como um alívio momentâneo. No entanto, a médio prazo, a queda nas exportações e a elevação dos juros nos EUA podem causar desvalorização da moeda brasileira, agravando a inflação e encarecendo ainda mais os insumos importados utilizados em setores industriais estratégicos.
Apesar do cenário desafiador, o especialista aponta janelas de oportunidade para o Brasil. Com tarifas muito mais altas sendo aplicadas a países como China (34%) e Vietnã (46%), produtos brasileiros como soja, petróleo e minério de ferro podem ganhar espaço no mercado americano. No entanto, setores como o da aviação, onde a dependência de contratos internacionais é alta, encontram mais dificuldade em reposicionar seus mercados.
CAMINHOS PARA MITIGAR OS IMPACTOS
Para reduzir os danos da medida, Simei e Silva recomenda estratégias como a diversificação dos mercados-alvo, com foco em países da União Europeia, China e Japão, além de revisões de preços e negociações bilaterais. A diplomacia brasileira, por sua vez, tem priorizado acordos multilaterais para evitar retaliações e preservar o equilíbrio nas relações comerciais.
O especialista conclui: “A guerra comercial iniciada pelos EUA não terá vencedores claros. Ela impõe custos imediatos, mas também obriga o Brasil a acelerar sua inserção em um mundo cada vez mais multipolar. Cabe ao país transformar a crise em impulso para inovação e novas parcerias.” (Correio do Interior)