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Jenifer Júlio e os sonhos dourados da menina violeira

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JENIFER 2

JENIFER 2

Foi no auditório do Sindicato Rural que um seleto público acompanhou o Recital de Viola Caipira, organizado por Jenifer Silva Julio e o seu pai Vicente Julio, mais conhecido como João Platino, que hoje mantém a Escola Sinfonia de Viola, a única da cidade.

Vicente tem no rosto as marcas do homem simples, que um dia mergulhou os seus sonhos na vida do campo e com o cheiro da terra, construiu o ideal de sempre carregar o som da viola caipira. Foi um pacto e do qual, anos mais tarde, viria participar sua filha Jenifer Silva Julio.

A paixão pela música fez Vicente ter acesso ao cenário caipira como João Platino e logo tornou-se  formador de gerações de violeiros em Araraquara. Sua história contudo começou na Fazenda Itaquerê, em Nova Europa, quando um tio, mestre de Folia de Reis, presenteou o ainda menino Vicente com uma viola.

 Na época, com dificuldades de acesso aos discos e métodos, ele sentava com o seu instrumento e ouvia programas das rádios Nacional e Record, tirava as modas de Tonico e Tinoco, Zico e Zeca, Vieira e Vierinha até conhecer o revolucionário pagode de Tião Carreiro e Pardinho.

A HISTÓRIA

Um sonho de Vicente era ter um descendente com o mesmo gosto por este instrumento tão adorado por ele. Aos treze anos, em uma conversa com seu vizinho, sua filha Jenifer escuta dele a seguinte frase que iria mudar totalmente sua vida: “Você vai esperar seu pai fechar os olhos para você saber o que fazer com este monte de violas?”

Daí por diante Jenifer abriu os olhos para aquilo que iria trazer tantas alegrias para sua vida. Ela começa a aprender tocar viola.

Seguindo o conselho de uma amiga, Vicente monta a escola de viola em 1997 e dá o nome de “Escola Sinfonia de Viola”. Neste lugar conseguiu passar um pouco de seus conhecimentos musicais, formando ali grandes músicos e muito mais que isso: grandes amigos.

Não demorou muito para entrar como auxiliar nas aulas de viola, Jenifer sua filha. Com este apoio familiar, Vicente a vê como um “braço direito”, alguém que podia contar e confiar sempre. Hoje os dois são responsáveis pela Escola Sinfonia de Viola.

Em dezembro de 2017, a Escola realizou seu “Recital de Viola Caipira” no auditório gentilmente cedido pelo Sindicato Rural de Araraquara para que houvesse a apresentação dos alunos da Escola Sinfonia de Viola. O recital contou com diversos momentos de extrema emoção onde claramente o público pôde ver e sentir a superação de cada aluno que ali se apresentou. O sindicato estava representado pelo seu diretor financeiro Mário Porto.

“A Escola Sinfonia de Viola agradece o apoio do Sindicato Rural de Araraquara pelo espaço cedido. Colaborando para a realização deste recital, o sindicato prova que juntamente conosco, luta para que a cultura sertaneja raiz sempre se mantenha firme nos dias atuais”, comentou Vicente logo após o evento.

OS DESAFIOS

A vida reservou para Jenifer grandes desafios; um deles, quando completou 13 anos de idade e ganhou a primeira viola e que ela recorda com carinho: “A história dessa viola foi linda: meu pai um dia me perguntou como seria a viola dos meus sonhos. Eu descrevi então a viola e ele mandou fazer na fábrica; quando ela chegou pediu ao ‘seo’ Alcebíades Anastácio, meu vizinho, para que a entregasse. Nunca tive uma emoção tão grande, pois o ‘seo’ Alcebíades fez com que começasse a tocar viola, pois eu mesma não queria aprender, achava coisa de caipira. Hoje, o meu maior orgulho é dizer que sou uma caipira da cidade.

Segundo Jenifer, conhecida artistícamente como ‘Flor Morena’, ‘seo’ Alcebíades foi a pessoa mais importante que passou pela sua vida, pois nem o seu pai havia conseguido fazer com que ela tocasse viola.

“Mas o ‘seo’ Alcebíades me desafiou, eu estava na adolescência e sabe como a gente é nessa idade – se acha dono do mundo. Quis então provar pra ele que tinha capacidade de aprender. Só que, o que ele fez por mim foi muito mais que isso, ele me mostrou meu real dom, minha forma de viver mais feliz com a música, ele foi um conselheiro.. um grande amigo.. um pai para mim”, finaliza.