Se há duas datas importantes para mim neste outubro (dois aniversários de familiares), há outras duas muito mais para a Nação: presumivelmente chegaremos ao segundo turno e então teremos um novo presidente.
Também não podemos deixar de comemorar o Dia das Crianças e o dos Professores, esses abnegados e abnegadas que lutam para que nossos filhos sejam, pela educação, bons cidadãos para forjar nosso país.
Mas há um outro que quero registrar: o Dia de Nossa Senhora de Aparecida.
Depois de muitos e muitos anos voltei à cidade de Aparecida em companhia de duas pessoas muito queridas para que elas pudessem cumprir uma promessa. Foi num domingo de missa, aliás, missas consecutivas, acompanhadas por milhares de romeiros ou visitando o santuário e outras tantas, cumprindo promessas prometidas, às vezes há muito tempo e vindas de todos os Estados do País, pelas centenas e centenas de ônibus e carros lá estacionados. E tudo na maior paz de espírito, sem confusões, todos unidos em torno da fé na santa, numa devoção tranquila, aparentando um sentimento de dever cumprido, de desejo realizado.
Gente rica, de Mercedes, mas também, a grande maioria, de pessoas humildes, que viajaram centenas e centenas de quilômetros em ônibus e que, depois de assistirem à missa, foram lanchar na enorme praça de alimentação e depois comprar os souvenirs, as imagens da santa, pequenas lembranças que foram previamente benzidas para presentear aos amigos e familiares e até mesmo para ser cultuadas e colocadas num nicho todo especial em suas casas, casebres ou mansões.
Pobres e ricos, homens e mulheres, jovens e idosos, negros e brancos. Como aquela idosa senhora, arrastando-se de joelhos, num sacrifício físico extremamente extenuante, para chegar ao altar e receber a benção do padre celebrante da missa; como aqueles jovens, já possuidores de uma fé inabalável, alegres e contentes em participar das orações e, depois, felizes, retornar aos seus lares e dizer que viram a imagem da santa, mostrada com reverência pelo padre e depois devolvida ao seu altar.
E aquela corrente de gente, numa fila sem confusões, todos a reverenciar a pequena, mas poderosa imagem de Nossa Senhora em seu nicho, devidamente protegida. Cumprindo promessas e retornando às suas cidades, com a sensação de missão cumprida e, mais ainda, com sua fé renovada.
Não cheguei a ir à Basílica Velha erigida no local onde a santa foi encontrada por pescadores no Rio Paraíba do Sul, mas vi aquela enorme corrente humana visitando-a. E é preciso muito fôlego para o romeiro conseguir conhecer aquele, hoje, centro turístico religioso, pois não se pode deixar de visitar a Sala dos Milagres, decorada pelas milhares de fotos pregadas no teto e, principalmente, pelas centenas e centenas de ex-votos expostos nas vitrines, além das mensagens, muitas delas comoventes e sentimentais, agradecendo aos milagres. Os primeiros milagres, como o das duas velas que apagadas, acenderam-se espontaneamente, com a interferência da santa; como o do escravo, que, acorrentado, pediu ao seu senhor permissão para rezar, e as correntes, milagrosamente, soltaram-se de seus pulsos; como o do cavaleiro de Cuiabá que, passando pela cidade, quis tripudiar da devoção dos seus humildes moradores e ao tentar entrar a cavalo na igreja, a pata do animal fixou-se numa pedra, impedindo-o de penetrar no lugar santo e depois o homem tornou-se devoto da santa (a pedra, com a marca da ferradura, está exposta no Salão dos ex-votos); o da menina cega; o do menino que caiu no rio, mas que foi salvo do afogamento pelo pai, após pedido de salvação para Aparecida e o do caçador que, ao se deparar com uma onça no meio do caminho, rogou pela santa e o animal foi embora.
E no imenso painel mural do Salão dos Milagres, há a representação pictórica do encontro da imagem por três pescadores, em 1717, que, ao lançarem suas redes para pescar peixes no Rio Paraíba do Sul para complementar o almoço do Conde de Assumar, hospedado na Vila de Guaratinguetá, que a visitava e que era governador da então Província de São Paulo, encontraram o corpo do ícone. Logo em seguida, em novo lance, encontraram a cabeça e então, num verdadeiro milagre, capturaram tantos peixes que o barco quase adernou.
A imagem da santa ficou com a família de um dos pescadores e que embora alguns padres tivessem tentado levá-la para Guaratinguetá, ela foi devolvida ao local onde foi encontrada, perto do Porto de Itaguaçu. Posteriormente, no Morro dos Coqueiros, em 1735, foi erigida uma capela em sua homenagem, local onde está situada a Basílica Velha. A construção da nova foi iniciada em 1955 e é tão grandiosa que só perde para a de Roma, na Itália.
E os agradecimentos pelos milagres da santa lotam o salão com seus objetos representativos, como garrafas de aguardente, provando que o crente deixou de beber, pagando promessa à santa; como facas e revólveres que não atingiram seus objetivos e até mesmo uma curiosidade: panelas de pressão estouradas que, certamente, por um verdadeiro milagre, não feriram as donas de casa que as utilizaram. Promessas todas que foram cumpridas.
Mesmo ou principalmente para um tolerante descrente, não pude deixar de ficar extremamente comovido e sensibilizado com a fé daquela multidão de devotos e nem de deixar de ser solidário com todos eles, respeitando-os profundamente por crerem como creem.
Por isso rendo aqui minhas homenagens à Nossa Senhora Aparecida, a Padroeira do Brasil, em seu dia, 12 de outubro, para que proteja as nossas famílias, o nosso país e todo mundo, pois estamos precisando e muito. Amém.
**As opiniões expressas em artigos são de exclusiva responsabilidade dos autores e não coincidem, necessariamente, com as do RCIARARAQUARA.COM.BR