O ano de 2019 para a Ferroviária ficou marcado pelo bom desempenho das equipes profissionais, com a ida do time masculino para as quartas de final inédita, desde o novo formato e seu retorno ao Paulistão, assim como as conquistas das Guerreiras Grenás do Brasileirão e o vice da Libertadores Feminina.
Porém, o grande êxito veio com suas categorias de base, com os times Sub-17 e 20 chegando à terceira fase do Paulista, e o Sub-15 chegando as quartas de final da competição, tendo o seu melhor desempenho nesta categoria na história do clube. E ainda tem o time Sub-17 feminino, que também está na disputa da terceira fase do estadual e com chances de classificação ao mata-mata, além da negociação de alguns destes atletas para gigantes do futebol brasileiro e europeu.
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A imprensa e torcida que acompanham as entrevistas dos treinadores devem ter percebido que sempre um nome era citado nas falas de Vinícius Munhoz e Tatiele Silveira, com “uma Annie ali, outra Annie aqui”.
Por isso, a reportagem da RCIARARAQUARA teve o prazer de conversar com Annie Kopanakis, a psicóloga que tem feito a diferença dentro dos elencos das categorias de base e profissional que a Ferroviária possui hoje.
Formada na área de Psicologia na PUC-Campinas e Mestre em Ciências Sociais pela UNESP-Araraquara, Annie sempre teve atenção voltada para área da juventude e foi através daí que o clube grená se interessou em contar com a profissional para ajudar na rotina dos jogadores nas categorias de base.
“Na Psicologia, me envolvi na área clínica e de pesquisa. Com um grupo de pesquisas aqui de Araraquara, que estudava a área da juventude, e sempre trabalhei com grupos de jovens em outros contextos. Através deste trabalho, a Ferroviária me encontrou para que eu trabalhasse em suas categorias de base, porque o clube tinha uma preocupação e queria um profissional para trabalhar com estes jovens adolescentes”, conta.
“A partir disso, eu comecei também a estudar psicologia no esporte para agregar ainda mais os meus conhecimentos. Foi uma ponte que foi feita (risos)”, complementa.
Natural de São Paulo, Annie conta que sempre teve uma aproximação com o futebol graças ao seu pai e avô, que não chegaram a competir profissionalmente, mas passaram pelas categorias de base de Palmeiras e Santos, respectivamente.
De uma família apaixonada pelo futebol, não chegou a se aventurar no esporte, mas começou a frequentar os estádios na capital, porém com ressalvas quanto a sua presença na praça esportiva pelo temor da violência.
“É uma família que sempre foi voltada ao futebol. Sempre assistimos juntos e eu gostava. Achava muito divertido. Eu nunca cheguei a fazer algo profissionalmente, só como hobby [no esporte]. Eu não tenho esse vínculo de ter sido uma atleta profissional, muitos menos no futebol (risos)”, conta.
“Me mudei para Araraquara aos 11 anos, mas minha família começou a torcer para a Ferroviária. Meu pai é torcedor, meu sogro é torcedor, claro que eu o conheci depois, mas sempre esteve presente no estádio, e acabei me tornando torcedora. Inclusive, foi aqui que comecei a ir com mais frequência ao estádio, por ser um futebol um pouco diferente do que existe lá em São Paulo. Quando eu morava lá, tinham muitos problemas com relação a violência da torcida, por isso ficava aquela restrição de levar a criança, de conseguir ir com o meu pai ou não, e aqui era muito mais tranquilo, desde jovem. Agora eu estou em todos os jogos”, enfatiza.
Confira abaixo a entrevista completa com a psicóloga, Annie Kopanakis:
RCIARARAQUARA: Com a frequente presença na Fonte Luminosa, você começou a criar um desejo de trabalhar na Ferroviária?
Annie Kopanakis: Eu tinha uma curiosidade para saber como era essa vida do jovem que se tornava atleta. Como eu trabalhei muito tempo com a juventude, fui entendendo que existem alguns espaços que são oportunidades para jovens. A gente pode pensar que a base recebe muito adolescente em questões de vulnerabilidade social. Essa criança ou jovem vai se envolver com a atividade desportiva ou muitas vezes ele se envolve com coisas que são prejudiciais, como por exemplo o tráfico.
No país, para estes jovens menor de idade, no futebol ou outro esporte, isso é uma instituição importantíssima para ele. Neste sentido, eu tinha muita curiosidade em entender, o que é este fenômeno? Por que os jovens buscam tanto isso? Aí, acaba sendo lógico.
A psicologia no esporte encontra ainda algumas dificuldades para poder encontrar um espaço de atuação. Para nós psicólogos, por exemplo, não tem este curso na faculdade. Então, para entendermos esta atuação dentro do âmbito do futebol, tem que ter um interesse muito específico.
RCIA: Dentro de um contexto geral, este jovem vulnerável as drogas, por exemplo, você acha que ele consegue levar isso para dentro de um clube?
Annie: Quando o jovem chega em um clube, é lógico que vamos procurar saber sobre a vida, saber dos seus problemas, porque a gente faz um trabalho que envolve muitos eixos. Mas, o esporte, por si só, acaba ajudando o jovem a não se envolver com essas coisas. É muito incrível. Ele acaba encontrando um outro spa. O jovem que vai procurar uma coisa diferente, ele está com ausência de alguma coisa, está em sofrimento. Ali [no futebol] é muito mais difícil de acontecer.
Quando chega alguém com dificuldade, não exclusivamente para o uso de drogas, pois isso é um problema que tem no Brasil e é uma questão estrutural, mas o clube também faz um movimento de acolhimento, da família, do jovem. A gente tem que trabalhar ele como um todo. Por isso, o esporte é um fenômeno importantíssimo dentro da sociedade brasileira. No futebol, é algo incrível e na base é algo impressionante pelo que a gente consegue fazer de trabalho.
RCIA: Você está na Ferroviária desde 2017, correto? Como está sendo este trabalho dentro do clube?
Annie: Nossa, vai fazer três anos que estou na Ferroviária. Passa rápido, né? (risos). Eu comecei a trabalhar com as categorias de base, com o Sub-15 e 17, e isso foi aumentando. Hoje, eu trabalho com o Sub-14, 15, 17, 20 e outras categorias do clube, com a profissional masculina e recentemente fiz um trabalho com a equipe de futebol feminino. Acabei passando por todas as categorias.
RCIA: Viu alguma diferença do jovem na categoria de base para o “marmanjo” do profissional? Claro que o jovem ainda está em formação, mas com o profissional, é mais fácil de lhe dar?
Annie: São mundos diferentes. São épocas de amadurecimento bem distintas. O jovem que está na base ele ainda não se consolidou dentro da profissão. A gente sabe que é uma minoria de jovens que conseguem o acesso a uma categoria profissional e temos que trabalhar este jovem com várias perspectivas dentro da vida dele.
O clube não pode apenas priorizar o futebol, porque ele tem uma vida. Tem que estudar, tem uma relação com a família, se sociabilizar. Então, a gente tem um olhar voltado neste sentido, de fazer um trabalho bem humano nas categorias de base e, é claro, dentro da psicologia a gente trabalha o desenvolvimento de capacidades esportivas, de acordo a faixa etária de cada menino.
No futebol profissional, ele [jogador] já passou por muitas etapas, mas é claro que tem a dimensão humana. Os trabalhos, neste sentido, são muito parecidos. O que muda é a questão do amadurecimento do ser humano em cada etapa para acabar propondo o trabalho.
Muitas vezes, com a base de ir se acostumando com este sentido, quando tem essa transição, fica mais fluído, porque muitos clubes não têm este serviço. Acaba sendo uma novidade para estes profissionais, mas depois que a gente começa a trabalhar juntos, as coisas começam a fluir muito bem.
RCIA: Nesta questão das categorias de base e profissional, como são os diálogos com os treinadores?
Annie: Muito próximos. É um trabalho em equipe. O psicólogo tá ali para trabalhar uma série de coisas, inclusive para ajudar este menino ou equipe dentro de campo. O olhar da psicologia contribuí muito para o trabalho dos técnicos e de toda a comissão técnica. Então, o trabalho é muito próximo. A gente trabalha realmente lado a lado. O serviço de psicologia ele é integrado nas comissões técnicas. Ele não fica fragmentado. Esta construção é super importante.
RCIA: Na sua ausência, os treinadores acabam se tornando os psicólogos?
Annie: Psicólogos eu não diria (risos). São profissões muito específicas, mas eles vão desenvolvendo um olhar bem preocupado, atento, bem psicológico, digamos assim, para a vida do atleta, dos treinamentos. É muito bacana de ver este desenvolvimento.
RCIA: Sobre o trabalho da mulher dentro do futebol. Como você vê isso dentro da Ferroviária?
Annie: A Ferroviária quebra paradigmas dentro do futebol. A gente precisa ter uma clareza e a grandeza do que é esse clube em vários sentidos. E um deles é esse, da quebrança do paradigma da figura feminina dentro do esporte.
A Ferroviária é pioneira na construção de um time de futebol feminino, temos a figura da Ana Lorena [coordenadora do futebol feminino do clube] que é uma profissional incrível e está muito a frente deste trabalho, e toda uma diretoria que apoia, incentiva, trabalha junto e isso está muito integrado muito antes das deliberações de os principais clubes terem futebol feminino.
Pra mim, isso foi uma construção super importante, porque o futebol, tradicionalmente, é muito masculino. Aprender a trabalhar junto com uma figura feminina, aprender o respeito e colocar este lugar para qualquer um que tenha competência, a gente só enriquece o ambiente.
Hoje, eu fico muito satisfeita com este trabalho. A gente consegue trabalhar ali dentro de igual para igual, temos respeito, espaço e quando precisamos desconstruir ou construir alguma coisa, tem a possibilidade de diálogo. Mas, estar ali é sempre desafiador, principalmente para a mulher.
RCIA: Você disse que é uma frequentadora de arquibancada. Falando da Fonte Luminosa, como você analisa o comportamento da torcida no geral? Percebe alguma coisa que não ajuda os jogadores? E estes atletas tanto da categoria de base, quanto do profissional, eles relatam o que ouviram da arquibancada?
Annie: Com certeza. Como espectadora, a gente sempre observa a torcida e quando a gente tá ali no meio, acontecem coisas. O futebol sempre tem essa questão de acabarmos ouvindo agressões verbais e tudo mais.
Queria aproveitar esta questão para falarmos sobre o futebol da base. Temos que ter um compromisso com os meninos que são menores de idade. A torcida precisa começar a aprender isso. Tem coisas que a gente não pode falar. Hoje, temos uma questão mais assídua com casos de racismo, que acontece muito, de homofobia, mas também tem algum xingamentos para meninos muito pequenos que a gente pode tomar um cuidado para não acontecer. Ele está em fase de formação, está na fase de descobrir quem ele é. É difícil. O futebol é muito competitivo e a torcida tem um papel que é fundamental. Ela apoia, cobra também, mas isso pode ser feito de uma forma muito mais saudável. Nós temos um trabalho que conversamos sobre a torcida e é uma coisa que pesa muitas vezes no emocional do atleta. Então, ela pode ajudar ou atrapalhar, mas ela é importante. É ela que movimenta o futebol. A gente quer ter torcida.
Se eles [torcedores] soubessem o que é ter esse apoio, o que é entrar e ver os seus ali, uma torcida que tá querendo te olhar, cobrar também. Não digo que a cobrança não precisa existir, mas isso é a construção do futebol. Sem torcida não tem futebol.
RCIA: Vamos supor que a Ferroviária chame a torcida organizada ou outros torcedores para terem uma palestra sua e entenderem como é uma pressão em cima de um jogador, toparia fazer isso?
Annie: É claro. Seria um prazer. Aliás, que bacana, é? (risos). Dá para construirmos isso juntos. Legal trazer a torcida. Isso seria um sonho. A torcida é o mais importante para nós. Ela é fantástica. Tem gente que viaja conosco, que vive isso, respira o futebol. A torcida é fundamental.
RCIA: Você tocou em um ponto importante com relação aos preconceitos que existem na nossa sociedade e acabam sendo levados para o mundo do futebol. Como você vê esta situação hoje dentro da Ferroviária e o retorno diante disso?
Annie: A gente faz um trabalho dentro destas questões há muito tempo. O que a gente observa é que está tendo uma redução com este tipo de conduta ali no clube e jovens em formação ficam mais educados, cientes, que inclusive cobram outros jovens para terem este tipo de atitude mais adequada. Ali já vivemos isso, trabalhamos com as questões do racismo do esporte.
É fundamental que a gente não possa pensar no futebol de formação sem trabalhar com estas questões, aí entram as outras categorias, pois uma serve de exemplo para outra. Precisamos ter um espaço de diálogo, de combater, enfrentar, mas de deixar o outro falar, se expressar, para ele entender e ir se construindo. Esse movimento é muito bonito de assistir. Evoluímos muito nisso.
RCIA: Recentemente, na partida entre Bulgária e Inglaterra [nas Eliminatórias da Eurocopa], tivemos insultos racistas por parte da torcida búlgara. A UEFA puniu a confederação da Bulgária em € 75 mil e dois jogos com portões fechados para os torcedores. Apenas isso. Qual a sua análise das federações e confederações para combater este crime dentro do futebol?
Annie: Acho que é um compromisso que todos temos que assumir a partir do momento que trabalhamos em uma instituição de futebol. O futebol é uma janela, todos consomem futebol. Tudo que acontece neste esporte, todos ficam sabendo, mesmo para aqueles que não vão ao estádio. A partir do momento que a gente entende da potencia disso, tem o dever de levar informação, de levar debates e propor diálogos.
Quando estes casos acontecem, não é só porque acontecem no futebol, acontece no mundo inteiro. A gente tem uma sociedade que é extremamente racista. O futebol acaba sendo incrível também neste sentido, porque o que nós colocamos ali, o que fazemos de campanha, aquilo que é vivido e experienciado, fica todo mundo sabendo.
Então, uma torcida que não permite comportamento racistas, uma torcida que educa e uma instituição que também tem este compromisso, ela realmente causa transformações sociais e eu acredito muito que o futebol é um potencial transformador. Tem condições de fazer isso. É uma mídia que tem contato a todo momento, uma responsabilidade de todos os clubes e instituições em se preocuparem com isso.
RCIA: Na partida do time Sub-15 da Ferroviária contra o Santos [a equipe santista garantiu vaga nas semifinais após empatar por 3 a 3], uma imagem não sai da minha cabeça. Após o jogo, os jogadores das duas equipes foram saudar a torcida presente na Fonte Luminosa e é uma reverência também ao futebol pelo que proporcionaram. Não vemos isso todo dia. Qual o significado desta ação?
Annie: Significa que estamos no caminho certo e que o futebol está dando sinais de que pode melhorar. Essa cena é uma das mais bonitas que eu já vi e foi na categoria Sub-15. Foi sensacional estar ali. Bem emocionante.
Nós aprendemos cada coisa com o futebol e quando a gente menos espera… O jogo foi muito emblemático. Cheio de surpresas que faz a gente ver o futebol através de várias variáveis. As equipes foram incríveis, todos os meninos estão de parabéns e esse apoio de um com os outros, é isso que a gente que ver e precisa. Faz bem para todo mundo, né?
RCIA: Este ano foi importante para a Ferroviária, principalmente pro futebol feminino. Claro que o masculino conseguiu o feito inédito de chegar as quartas de final do Paulista com este novo formato, mas foi o feminino que conseguiu trazer títulos. Como tem sido este trabalho com a Tatiele Silveira?
Annie: Foi maravilhoso trabalhar com todas elas e uma experiência inesquecível da minha vida. Acho que é um time de muito potencial e que se traduz o que a gente vê em campo.
Basta a gente assistir um jogo delas que a gente vai vendo o que é a força desta equipe, o trabalho maravilhoso que essas guerreiras fazem e foi um trabalho muito aberto não só para o trabalho de psicologia, mas à todos das comissões. É um trabalho muito integrado.
A Tati ela tem um olhar muito humano e atento para isso.
RCIA: O olhar da Tati te surpreendeu? Pelas características dela, não é uma treinadora que grita com as jogadoras em campo. Ela mantém um tom com todo mundo, claro que exigindo, futebolisticamente falando, de suas atletas. Como você vê o comportamento dela?
Annie: É um comportamento adequado, muito ponderado e que realmente facilita que aconteça o jogo. Esta é a função do treinado. Ele tem que estar ali, mediando e controlando este aspecto emocional. A Ferroviária tem treinadores muito preparados neste aspecto.
Como você falou, a gente consegue observar isso. Não são todos que ficam atentos a estas questões, mas a Tati é uma técnica muito experiente, concentrada e muito importante. Particularmente, eu acho isso ótimo (risos).
RCIA: É sobre o Vinícius Munhoz? Entre as comissões, é um treinador que está a bastante tempo trabalhando com você. Como foram os trabalhos no Paulista, Série D e Copa Paulista deste ano?
Annie: O trabalho com o Vinícius já é mais a longo prazo. É um trabalho bastante estruturado de entender o atleta, inclusive o jogo, como um todo. É um conjunto de variáveis. São trabalhos próximos e o Vinícius é uma pessoa muito convidativa ao trabalho de psicologia e bastante preocupado com estas questões. Com isso, tudo se integrou juntamente com a instituição ao que é o dia a dia da Ferroviária. É um trabalho que tem bastante trocas e que flui muito bem, claro que com muitos desafios também (risos).
O futebol é um desafio diário, mas o Vinícius tem esse diferencial. A instituição procura por técnicos e pessoas que tenham um olhar mais integrado do ser humano. Trabalhamos a parte do jogo, a competência técnica e tática, entendemos o atleta um ser provido de vida, de subjetividades, de questões extra-campo e isso faz o trabalho ser um pouco diferente.
RCIA: Lembro da declaração do zagueiro Rayan, quando disputou o Paulistão pela Ferroviária. Quando ele veio do Paraná Clube, declarou que não havia um um psicólogo lá e que aqui foi um diferencial para ele. Como foi o trabalho com este jogador?
Annie: Foi um trabalho muito intenso. Aliás, foi um trabalho com todos os jogadores. O trabalho da psicologia é entender como é o comportamento deles em campo, mas entender quem é este atleta para dar condições de se desenvolver ao longo da competição junto com as comissões técnicas.
O meu trabalho também envolve os grupos de psicologia, onde todos os atletas participam, e neste trabalho acontecem coisas específicas. Aquilo foi muito legal, pois encontramos um espaço para pensarmos o futebol de uma forma um pouquinho diferente, para pensar no desenvolvimento dentro e fora das quatro linhas e essa equipe fluiu muito bem dentro deste sentido, inclusive pela própria posição do Vinícius em valorizar este trabalho. Foi uma construção muito saudável.
Assim como o jogo aquele jogo que os atletas saíram de mãos dadas, isso também marcou para mim (risos).
RCIA: O que você gostaria de ver em um estádio ou dentro do futebol? O que a sociedade poderia levar para o futebol e vice-versa?
Annie: Nossa, que pergunta boa (risos). Eu acho que o futebol tem uma responsabilidade social muito grande. Eu gostaria de ver uma torcida muito mais humana, que desse para nós as condições de entender que a nossa sociedade tá mudando. E os jogadores também. Quando falamos disso, uma coisa reflete a outra. Se o futebol conseguisse mostrar superações, como está mostrando, inclusive, nestes aspectos, evoluiríamos muito como sociedade.
Veja bem. A cada tema que levamos para dentro do estádio, confrontamos pessoas. Se a gente fala de racismo, estamos confrontando pessoas racistas. Quando falamos de homofobia, este espaço precisa ser reconsiderado. Se falamos de violência doméstica, de repente alguém ali tem um comportamento diferente ou problemático, também acaba sendo confrontado naquele momento que viveu durante a vida inteira, por homens inclusive.
Isso é incrível de assistir. Por isso que o futebol acaba sendo uma ferramenta de transformação social, também. Uma das ferramentas que a gente tem é… Enfim… É complicado falar alguma coisa. (risos)
RCIA: Pode falar. Desabafe, qualquer coisa…(risos)
Annie: Eu acredito muito que o futebol pode aproveitar esse fenômeno que ele é para trabalhar algumas temáticas. Mas com um futebol mais solidário, assim como os meninos [do Sub-15] fizeram e que a gente, a cada dia, pode ser o nosso melhor, evoluir como seres humanos, ser pessoas melhores, familiares melhores. São estas coisas que fazem valerem a pena, né? E um futebol menos machista, que saiba respeitar as mulheres em campo, inclusive as árbitras.
RCIA: Para encerrar, o que você espera da Ferroviária no ano de 2020? Será um ano muito desafiador. Masculino novamente com Série D, o feminino com Libertadores, e as categorias de base.
Annie: Espero que a Ferroviária continue tendo esta mentalidade, que ela vem desenvolvendo até então. Que possamos colher os melhores resultados possíveis e quem passe por ali possa viver essa felicidade com um futebol praticado com qualidade e seriedade. Espero que a nossa torcida esteja sempre conosco, que ela vá entendendo cada vez mais a importância que a gente está resgatando isso e é um movimento que tem acontecido.
Nós estamos nos sentindo próximos deles. A torcida da Ferroviária é maravilhosa. Então, eu queria poder viver mais isso, desse apoio. Falo isso como psicóloga, também. Todo apoio é fundamental, para que a gente consiga trabalhar e se desenvolver melhor.
Então, se estas coisas continuarem acontecendo, vai ajudar para que os nossos resultados acabem sendo cada vez melhores. E isso é o que todo mundo quer, não é? Crio boas expectativas para estas próximas temporadas!