O Sporting Benfica era quase imbatível no concorrido futebol amador dos anos 70; daí o fato de ser tri-campeão carregando no semblante de cada um dos seus atletas, o estigma de uma paixão que nasceu no alegre palavreado do seu fundador Álvaro Fleury Fina.
1970, 5 de dezembro. Pouco mais das sete da noite. Um grupo de jovens está reunido no Bar do Mexerica em frente a Igreja Matriz. A águia do chafariz no meio da praça parece olhar seus filhos com tamanho zelo que, entre uma cerveja e outra discutem como vencer o Palmeiras da Vila na grande decisão do Campeonato Amador daquele ano. O jogo será no dia seguinte. Consta que enquanto os jogadores do Benfica bebiam, o time do Palmeiras estaria concentrado na Estância Uirapuru e durante aquela noite teriam sido molestados pelo buzinaço dos carros que vinham da Rua Maurício Galli. Este é um dos muitos capítulos da história que cerca o Benfica, que em 2013 comemorou 50 anos de fundação, mantendo ainda suas atividades esportivas.
SPORTING BENFICA
O Benfica foi fundado por um grupo de amigos com o objetivo de formar uma equipe de futebol amador para disputar partidas amistosas na cidade e região. O nome é uma homenagem aos dois times de Portugal: Sporting e Benfica em sua fase áurea no futebol mundial no começo dos anos 60 e surgiu durante a primeira reunião realizada em 22 de agosto de 1963, em uma residência na Avenida D. Pedro II, 655, no centro.
ETERNAMENTE NOS CORAÇÕES
Como se fosse por encanto, os clubes têm símbolos que os caracterizam. O Benfica além da águia pontuada em sua camisa, fazia o branco despontar na entrada em campo. Aqueles senhores da bola pareciam mais jovens, silenciosos nos passos encenados e nos toques que davam de maneira refinada.
O mais recente título do Campeonato Amador da Divisão Especial do Benfica foi conquistado em 6 de dezembro de 1981 diante do Palmeiras, no Estádio Municipal. O placar de 3 a 0 feito na primeira etapa com gols de Jorge Longhini, aos 24’ e aos 35’ e Luiz Roberto (Galinha), aos 44’, deram o tri-campeonato alternado; as outras conquistas foram em 1970 e 1972.
Com a experiência do técnico Arnaldo Araujo Zuocco, o “Cana”, Rui Júlio comandando o time no meio campo e o oportunismo do artilheiro Jorge Longhini, o Benfica administrou a segunda etapa quando o Palmeiras partiu para o ataque e criou oportunidades. Jorge ainda acertou a trave do verdão antes do apito final de Carlos Roberto Marques, o “Pezinho”. Cana escalou: Laerte, Edmilson, Marcos, Paulo e Demá; Júlio César e Rui Júlio (Vilela); Luiz Roberto, Jorge Longhini, Juninho e Zé Paulo (Picin).
O Palmeiras teve que amargar o vice-campeonato com Carlinhos, Stéfano, Pereira, Tarugo e Toninho; Amaral, Jaiminho (Zinho) e Réo; Oreca, Pemba e Joãozinho (Claudinho).
A rivalidade entre o clube da Vila Xavier e o do Carmo cedeu pausa para um gesto digno de elogios. Ao final da acirrada luta no gramado, o então presidente do Palmeiras, Sebastião Pedro Goulart, entregou o troféu de campeão ao presidente vitorioso Álvaro Fleury Fina, que retribuiu a gentileza entregando o de vice para Goulart, sob aplausos dos torcedores que se confraternizavam nas arquibancadas.
O Benfica, por justiça se transformou num dos maiores clubes esportivos da cidade, não apenas pelos resultados obtidos em campo, mas acima de tudo pelo caráter dos seus dirigentes.
O ILUSTRE ATLETA
O ex-vice-prefeito e ex-coordenador da Mobilidade Urbana, Antônio Clóvis Pinto Ferraz, o Coca, chegou ao Benfica em 1970. Antes passou pelos juvenis da ADA e Estrela e o aspirante da Ferroviária. Conquistou o título no primeiro ano de clube e também em 1972.
“Tínhamos um time forte e vencemos o Palmeiras por 4 a 3 na final do Campeonato Amador de 1970. O interessante é que no sábado à noite, véspera da decisão, nos reunimos no bar do “Mexerica” e tomamos algumas cervejas, já o Palmeiras se concentrou na Estância Uirapuru. Torcedores do Benfica rondaram a estância de madrugada buzinando e perturbando o sono dos rivais”, lembra humorado Coca Ferraz.
A escalação do Benfica campeão de 70, Coca Ferraz recorda de imediato: Castro, Paulo Preto, Hélio Primiano, Tiana e Tatá; Coca e Dênis; Gustinho, Liminha, Salami e Zequinha.
Na entrega das faixas, o Benfica enfrentou os profissionais da Ferroviária e apesar da goleada de 5 a 1 para os companheiros de Bazani, Coca afirma que o jogo foi equilibrado. “Pelo menos três gols que sofremos poderiam ser evitados e encaramos, sim, para valer o time profissional afeano”, recorda.
Em 1972, a festa das faixas aconteceu contra a Seleção de Profissionais do volante Dudu, do Palmeiras. “Conseguimos empatar por 2 a 2 numa partida inesquecível”, completa.
É nos encontros de quinta-feira no campo do Benfica que até hoje os antigos diretores, jogadores e torcedores ainda se reúnem para um tradicional happy-hour, lembrando os momentos que viveram felizes em nosso futebol amador.
FUNDADORES DO BENFICA
Ademar Velloso de Almeida, Carlos Alberto Prada Martins Siqueira, José Roberto Tolói, Carlos Alberto Saavedra, Teruo Itokagi, Joviro Pasetto, Arakem Carlos Gonçalves, Mário Antônio Benassi, Reinaldo Sabbag, Terry Dias Júnior, Sérgio Grande, José Roberto de Paula, José Venâncio de Paula, Hélio Paulo Primiano, José Rui Ferreira Moraes, Jarbas Barbosa Filho, Urias Braga Costa, Gervásio Pereira, Luis Roseto, Percival Carati Lima, Demerval Carati Lima, Roberto Salami, Walderley Albino, Paulo Victor Tolói Costa Navega, Carlos Alberto Aiello, Claudymir Carlos Bersanetti, Heleno de Jesus Pasetto, Wladimir Manoel Albino, Carlos Coutinho de Oliveira Filho, Luiz Sarti, Wanderlei Jorge Martins, Mário Caraciollo, Pedro Fornazari, Justino Vieira de Mendonça, Laerte Fernandes, Aristides Wanderlei Boschetti, João Almeida Moraes, Demerval Custódio de Lima, Waldomiro Fornazari, Flávio Wiggert Almeida Moraes, Moacir Velloso, Durvalino Sualdini, Jurandir Borges Nogueira, Mário Pescuma Tolói, Pedro Colette Neto (Porunga), Antônio Carlos Nogueira, Edivar Jurandir Pupim e Nelson de Abreu.
ROBERTO SALAME, O CRAQUE
O ferroviário aposentado Roberto Salami, de 77 anos, com a camisa do Benfica, acompanha o clube desde a fundação, em 1963. Como atleta participou das conquistas dos campeonatos amadores de 70 e 72 e duas edições da Taça Gazeta Esportiva. “Comemoramos 50 anos em 2013 com uma grande festa. Tenho orgulho de fazer parte da história do Benfica, um clube que tem respeito e credibilidade”, relata Roberto, hoje vice-presidente do clube que ele tanto adora.
PRIMEIRA DIRETORIA
O primeiro presidente do Sporting Benfica foi Carlos Alberto Prada Martins Siqueira, o Carlinhos, um bancário, que por muitos anos residiu em São Paulo. Seu mandato foi de 1963 / 1967.Presidente: Carlos Alberto Prada Martins Siqueira
Vice-Presidente: José Roberto Ferreira Tolói
1º Secretário: Jarbas Barbosa Filho
2º Secretário: Mário Antoninho Benassi
1º Tesoureiro: Paulo Victor Tolói Navega
2º Tesoureiro: Carlos Alberto Saavedra
Diretor de Esportes: Ademar Velloso de Almeida
Diretor Social: Teruo Itokagi
Conselho Fiscal – Efetivos: Demerval Caratti Lima, Carlos Alberto Aiello e José Venâncio de Paula
Suplentes: Hélio Paulo Primiano, Arakem Carlos Gonçalves e José Roberto de Paula
Foram também presidentes do clube: Ademar Velloso de Almeida (1967), Alberto Nicodemo Senapeschi (1967/1976), Álvaro Fleury Fina (1976/1982), Walter Bergo (1982/1990) e Sérgio Salami (desde maio de 1991)
Pesquisa publicada em junho de 2016 na Revista Comércio, Indústria e Agronegócio de Araraquara