Apesar de integrarem coligação do tucano, legendas têm demonstrado divisões internas desde o início da disputa presidencial
O candidato à Presidência da República, Geraldo Alckmin (PSDB), discursa durante o evento “Diálogos Eleitor”, realizado pela União Nacional de Entidades do Comércio e Serviços (Unecs), em Brasília (DF) (Adriano Machado/Reuters)
Fiador da candidatura de Geraldo Alckmin à Presidência da República, o Centrão – bloco formado por DEM, PP, PR, PRB e Solidariedade – já discute nos bastidores o que fazer em eventual segundo turno da disputa sem o tucano. Em público, no entanto, seus dirigentes afirmam acreditar em uma “virada” no jogo, nos últimos dias de campanha, e negam essas conversas.
Pesquisas de intenção de voto divulgadas na semana passada mostram o candidato do PSL Jair Bolsonaro na liderança, seguido do petista Fernando Haddad. No bloco intermediário, Alckmin fica atrás de Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede).
Em um segundo turno com Bolsonaro, a tendência é que pelo menos o DEM e o PTB apoiem o capitão reformado do Exército. Há uma possibilidade de divisão no DEM, caso Ciro siga para a próxima etapa, ultrapassando o petista. A maioria do partido prefere fechar com o candidato do PSL.
“Eu me recuso a discutir que o Brasil ficará condenado a um segundo turno entre Bolsonaro e Haddad. Vamos com Geraldo até o fim e acreditamos na virada. Isso não é conversa fiada”, disse à reportagem o presidente do DEM, ACM Neto, que também é prefeito de Salvador. “Eu não me canso de lembrar que, em 2014, nessa mesma altura do campeonato, Aécio estava fora do jogo. Cravavam que a segunda rodada da disputa seria entre Marina e Dilma. Só nos últimos dez dias é que Aécio começou a crescer e aí a história da eleição mudou inteiramente”, disse.
O blog VEJA Bahia mostra que ACM já tem uma estratégia para a provável adesão do DEM a Jair Bolsonaro (PSL) no segundo turno. O prefeito de Salvador, que tem tentado se apresentar como um político de centro, pretende utilizar sua posição como presidente do partido para convocar uma reunião da Executiva e, assim, evitar assumir a responsabilidade por um eventual fracasso do presidenciável do PSL.
Nas fileiras do PTB, que não integra o Centrão, mas faz parte da coligação de Alckmin ao lado de PPS e PSD, as discussões a portas fechadas também agitam o partido. Desde o escândalo do mensalão, que levou para a cadeia o ex-deputado Roberto Jefferson, presidente do PTB, a sigla está rompida com o PT.
Segundo um deputado petebista, é “natural” o partido apoiar Bolsonaro, já que o PT virou um adversário histórico. A exemplo de ACM, no entanto, Jefferson afirma que ninguém trairá Alckmin e nem pulará agora do barco tucano.
LIBERADO
Atualmente, a maior parte dos parlamentares e políticos de partidos aliados a Alckmin tem se empenhado pouco pelo tucano, que está estagnado nas pesquisas. Além disso, quem tenta a reeleição já recebeu repasses de dinheiro do fundo eleitoral e se sente “liberado” para cuidar da própria campanha.
O senador Cristovam Buarque (PPS-DF) avalia hoje que a decisão de apoiar Alckmin foi equivocada. “O PPS cometeu um grande erro. Se lançasse o Raul Jungmann (ministro da Segurança Pública), talvez pudesse ser uma alternativa”, afirmou ele. “Agora, vamos ter de optar entre a catástrofe e o desastre, entre o furacão Florence e o tufão Mangkhut.” Para o senador, que concorre à reeleição, a estratégia do voto útil para enfrentar o PT dificilmente surtirá efeito neste momento.
“Alckmin tem credibilidade para dizer que é o mais preparado, mas não que tem mais chances para derrotar Bolsonaro. Aqui no Distrito Federal, não vejo candidatos do PPS defendendo Alckmin. Eles não se sentem obrigados a isso”, argumentou, lembrando que o PSDB está na chapa do deputado Alberto Fraga (DEM), candidato ao governo que avaliza Bolsonaro.