
A exportação brasileira foi recorde para o mês de abril, mas os dados mostram que a redução de preços impediu maior contribuição das commodities no superávit da balança comercial brasileira. A queda de preços também tirou o brilho da soja, cujos embarques são sazonalmente fortes em abril. A evolução de preços de commodities, que têm mostrado tendência de queda, apontam especialistas, é um dos riscos para o superávit comercial esperado em 2025. Ao mesmo tempo as importações também foram recorde para o mês de abril, como reflexo de demanda interna mais aquecida que o esperado, outro risco para o saldo comercial deste ano.
A balança comercial registrou superávit de US$ 8,15 bilhões em abril, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex/Mdic). As exportações somaram US$ 30,409 bilhões, com alta de 0,3%. As importações somaram US$ 22,26 bilhões, com crescimento de 1,6%. No acumulado até abril, o superávit alcançou US$ 17,7 bilhões, queda de 34,2%, resultado de US$ 107,3 bilhões em exportações e US$ 89,6 bilhões em importações. Contra igual período de 2024, o valor exportado caiu 0,7% e o importado avançou 10,4%.
O diretor de estatísticas e estudos de comércio exterior do Mdic, Herlon Brandão, avalia que “a atividade econômica continua crescendo no Brasil, demandando bens importados”. Já as exportações, diz, têm mostrado “certa estabilidade” a cada mês, contra mesmo período de 2024.
Lucas Barbosa, economista da AZ Quest, ressalta que o superávit de abril veio “um pouquinho melhor” do que nos três primeiros meses do ano. “Principalmente em relação ao primeiro trimestre como um todo, em que o resultado foi bastante fraco”, diz. O superávit no primeiro quadrimestre, segundo a Secex, ficou 34,2% abaixo do resultado de iguais meses de 2024.
Na balança de abril, os preços fizeram diferença. A soja foi o principal item exportado em abril, com US$ 5,9 bilhões. O volume embarcado do grão subiu 4% em abril contra igual mês de 2024, mas como o preço médio caiu 9,7%, a receita de exportação caiu 6,1%. No petróleo também houve alta de 1,1% de volume, mas a queda de 1,3% do preço neutralizou esse aumento e fez o valor exportado cair 0,2%. No minério de ferro a queda de preços mostrada pela Secex é de 16,4%. Mesmo com alta de 2,4% no volume embarcado, a receita de exportação caiu 14,3%. Juntos, soja, minério de ferro e petróleo representaram 41% da receita de exportação do país em abril.
O preço da soja, lembra José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), caiu cerca de 20% em 2024 e neste ano vem caindo perto de 10%. Para este ano como um todo, diz, espera-se que, com a safra favorável, o volume embarcado do grão aumente em relação a 2024, mas o preço médio deve se manter abaixo do que foi o do ano passado. “O Brasil não tem nenhuma influência nisso e até agora não enxergo nenhum fator que possa gerar aumento de preço da soja.
O petróleo também tem preços que têm demandado atenção, diz. A cotação vem oscilando e caiu para perto de US$ 60 o barril, destaca, mesmo com a decisão da Opep+ (o conjunto de países que reúne os maiores produtores globais de petróleo] de reduzir o volume de produção da commodity.
Do lado das exportações, diz Barbosa, da AZ Quest, os preços são a variável que pode ser mais rapidamente afetada pela guerra comercial. Caso o movimento de queda de preços se intensifique, principalmente do petróleo, as exportações brasileiras podem se “machucar um pouco”. “Do lado das importações, surpreende elas seguirem bastante fortes neste começo de ano, tanto por produtos quanto por grandes categorias econômicas. Isso é compatível com a demanda interna resiliente, que tem vazado via importações.
” Pela Secex, o valor importado em bens de capital cresceu 7,6% em abril contra igual mês de 2024. Os bens intermediários avançaram 4,9%, e os de consumo, 3,8%. O crescimento do total das importações só não foi maior porque houve queda de 23% em combustíveis.
“A alta do volume de importação total, que veio acima do esperado no primeiro quadrimestre, somado à queda no preço das exportações, como resultado de uma desaceleração da economia global, começa a trazer algum risco de baixa para a projeção de balança comercial”, diz Barbosa. A estimativa da AZ Quest hoje, diz, é de US$ 80 bilhões para o superávit comercial em 2025. A projeção não foi revisada, mas há riscos, diz, que o resultado caia para algo em torno de US$ 70 bilhões a US$ 75 bilhões.
Nas importações de abril pode ter havido influência da medida do governo que, em março, zerou o Imposto de Importação sobre dez produtos, como forma de combater o aumento dos preço de alimentos. O volume importado cresceu em abril contra igual mês de 2024 em sete dos produtos, mas a maior parte dos resultados precisa ser avaliada com cautela, frisa Brandão. Ele destaca a alta da importação de café, principalmente com origem no Vietnã, que historicamente não é competitivo no Brasil.