Diretor da região Brasil da empresa acredita em preços mais altos para a commodity e sustentação das cotações do biocombustível na safra 2019/2020
Jacyr Costa Filho avalia que a demanda mundial pelo produto está crescendo cerca de 2% ao ano
A multinacional francesa Tereos vê um cenário positivo para o mercado de açúcar e etanol na safra 2019/2020, que, no Brasil, começa no dia 1º de abril. O diretor da empresa, Jacyr Costa Filho, acredita que o ciclo será de preços mais elevados para a commodity e de suporte para o biocombustível, enquanto o setor se prepara para a entrada em vigor do programa RenovaBio, de incentivo a energias renováveis.
“Estamos com uma expectativa positiva para açúcar e para etanol”, diz Costa Filho, no escritório da companhia, em São Paulo.
Na próxima safra, ele estima que a empresa deva processar entre 19 milhões e 20 milhões de toneladas de cana, volume dentro das médias históricas da companhia, que opera sete usinas no Brasil. Atualmente, a empresa trabalha com uma ociosidade em torno dos 10%, considerando um período de moagem entre abril e novembro.
Açúcar
Em relação ao mercado de açúcar, Jacyr Costa Filho avalia que a demanda mundial pelo produto está crescendo cerca de 2% ao ano, com destaque para países asiáticos. Lembra que na China, por exemplo, cerca de 250 milhões de pessoas migraram da área rural para a urbana em 15 anos, consumindo mais produtos industrializados, que utilizam a commodity.
Do lado da oferta, o executivo acredita que a Índia, um dos principais concorrentes do Brasil no mercado global de açúcar, deve entrar em um ciclo de baixa de produção. Situação semelhante já ocorre na Europa, onde tem sido visto fechamento de usinas. São fatores que devem elevar preços, que hoje estão entre US$ 0,12 e US$ 0,14 na bolsa de Nova York (ICE Futures).
Detentor de metade do mercado global de açúcar, o Brasil deve também colher os benefícios de sua atuação na Organização Mundial do Comércio (OMC). Jacyr Costa Filho lembra que o governo da Tailândia reviu seu programa de subsídios depois de um questionamento brasileiro. O país questiona também os subsídios indianos e a salvaguarda da China às importações.
“Eu estou otimista, principalmente com o mercado de açúcar. Acredito que vamos entrar em um ciclo virtuoso de preços de açúcar”, avalia Costa Filho.
Etanol
Em relação ao etanol, o diretor da região Brasil da Tereos sugere uma sustentação dos preços no mercado. Segundo ele, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) tem trabalhado para manter o preço internacional do barril entre US$ 60 e US$ 70. As consequências dessa política sobre os preços dos combustíveis tende a influenciar as cotações do etanol.
Costa Filho lembra ainda que, no Brasil, o consumo o biocombustível aumentou de forma significativa em 2018, o que tende a prosseguir à medida melhorem as condições da economia.
“Não vemos uma perspectiva de nova baixa do preço do petróleo. E com a economia melhorando, aumenta o consumo de combustíveis. Ao mesmo, tempo, aqui no Brasil, espera-se um produção menor de cana, que deve levar a uma oferta menor e, com um aumento do mercado, consequentemente, a uma rentabilidade maior”, acredita o executivo.
RenovaBio
Também presidente do Conselho Superior de Agronegócios da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Cosag/Fiesp), Jacyr Costa Filho está otimista em relação ao início do programa RenovaBio, previsto para 2020. Falta, no entanto, o governo definir a estrutura de negociação do chamado CBIO, o certificado que bonifica a eficiência ambiental e energética das usinas.
Esses certificados, calculados e emitidos de acordo com as premissas do programa, serão instrumentos financeiros negociados a valores de mercado. Segundo o executivo da Tereos, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) já credenciou certificadoras para a emissão dos papeis. Resta saber como será feita a sua negociação.
“Isso está em elaboração pelo governo. Quem será o agente regulador desse mercado, se o Banco Central ou a CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Isso ainda não tem uma definição. Está em estudo, mas terá que ser feito até o fim do ano”, pontua o executivo.