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Com juros altos para comprar máquina nova, produtor prioriza manutenção da frota atual

Tendência observada na Tecnoshow Comigo, em Rio Verde (GO), é de investimentos em peças e reparos

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Produtores Cidney Balduíno e Deyvson Balduíno visitaram a feira de Rio Verde (GO) (Foto: André Passos)

As vendas de peças, manutenção e reparos devem contribuir com um resultado positivo para as empresas de máquinas agrícolas na 22ª edição da Tecnoshow Comigo, realizada nesta semana em Rio Verde, no sudoeste goiano. A boa safra regional é um alento, mas não o suficiente para reverter os entraves econômicos que seguram a expansão do setor. Juros altos, taxa Selic e limitações no acesso ao crédito desestimulam investimentos em equipamentos novos por parte dos produtores que visitam a feira, que iniciou na segunda (07) e termina nesta sexta-feira (11).

Apesar do bom desempenho da safra de verão e de previsões positivas para a safrinha, o produtor Cidney Balduíno está reticente em investir esse ano. “Está difícil. Saímos de taxas entre 9,5% e 10% (ao ano) e hoje chegamos a quase 18% se incluirmos todas as taxas”.

Diante do gerente de vendas de uma concessionária presente na feira, ele orçava valores de trator, plantadeira e pulverizador, mas deve utilizar os equipamentos que já possui por mais um ano. “O ideal era já iniciar o plantio, em agosto, com máquinas novas. O mais certo é que vamos apenas reparar o que já temos e segurar mais esse ano”, observa.

Com isso, o produtor goiano, que, juntamente com o sócio, Deyvson Balduíno, cultiva soja, milho, feijão e painço em 4 mil hectares no município de Jataí (GO), deve contribuir com as previsões de estabilidade dos principais representantes do setor de máquinas agrícolas.

MERCADO

A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), acredita que o setor deve registrar números semelhantes aos de 2024, com projeção de leve crescimento ou estabilidade nas vendas em 2025. No ano passado, foram comercializadas pouco menos de 49 mil unidades, uma retração de quase 20% nas vendas em relação ao ano anterior.

No entanto, os números de vendas nos dois primeiros meses de 2025 (últimos resultados divulgados) mostram melhora em relação ao mesmo período do ano anterior, com 7.326 unidades vendidas, contra 5.133 unidades comercializadas no primeiro bimestre de 2024, alta de 42,7%.

Vinicius Netto Rodrigues, gerente de máquinas usadas e implementos da New Holland, aponta que o que vai segurar as vendas durante a feira é justamente a busca por manutenção. “Viemos para feira apreensivos com relação ao cenário que estamos vivendo esse ano”, diz. O resultado final, explica ele, só será melhor que o do ano passado considerando a base ruim registrada em 2024. “Ano passado o resultado foi negativo. Agora esperamos melhora de 30%, sendo que 20% devem vir de vendas de peças e reformas”, explica.

É que nem a performance robusta do agronegócio no Centro-Oeste, impulsionada por condições climáticas favoráveis, tem sido suficiente para alavancar significativamente o mercado. A região, segundo levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgado nesta quinta (10/4), terá um incremento de 12,9% na produção de grãos no ciclo 2024/25.

Na feira encontramos pacotes de revisão e manutenção de peças com preços com desconto”, diz o produtor Rogério Machado (Foto: André Passos)

Exemplo desse cenário, o agricultor do município de Mineiros (GO), Rogério Machado, relata produção de 80 sacas de soja por hectare na safra de verão e espera entre 130 a 150 sacas na safrinha de milho.

Mas os bons números não serão estímulo para investimentos este ano. Junto com sua família, ele conta ter adquirido equipamento em 2023 e também em 2024. “Estamos precisando, mas além dos juros, os valor das máquinas, com relação ao preço que está sendo pago pela soja, dá um pouco de medo em fazer qualquer investimento”, avalia Machado, que está negociando a saca de soja entre R$ 108 e R$ 109 na região.

Sua visita à feira foi com a finalidade de encontrar preços melhores e promoções para manutenção e reparos dos equipamentos que possui. “Aqui na feira encontramos pacotes de revisão, manutenção e peças com preços melhores e com desconto”, afirma.

Já no município de Caldas Novas (GO), o produtor Flávio José Dias de Oliveira, cultiva soja e milho em aproximadamente 3 mil hectares. Ele foi à feira com a esposa, Helen Kássia dos Santos, para orçar valores de alguns equipamentos que precisa. No entanto, deve deixar a aquisição para o futuro.

“Está inviável com esse cenário de juros. É melhor ter os pés no chão e investir apenas em caso de extrema necessidade. Estou cuidando das máquinas que possuo para adiar ao máximo a aquisição de novas”, declara.

“É melhor ter os pés no chão e investir em caso de extrema necessidade”, diz produtor Flávio José Dias de Oliveira (Foto: André Passos)

A cautela também é sugestão do presidente-executivo da Comigo, Dourivan Cruvinel. “Deve comprar quem realmente estiver necessitando”, diz ele, informando ainda que, no setor de insumos, onde a cooperativa atua, o resultado deve superar o ano passado.

O produtor voltado à pecuária também segue esse raciocínio. Para o confinador Adelmo Barbosa de Freitas, do município de Caçú (GO), tem evitado investimentos de longo prazo. “Tivemos preços da arroba a R$ 330, voltou para R$ 290, e em seguida melhorou novamente. O fato é que ainda não sabemos se os preços vão se acomodar. Somando tudo, preços pagos, despesas e crédito muito caro, o melhor é adiar qualquer investimento que não seja de urgência”, avalia.

Diretor comercial da Somafertil Massey Ferguson, Marcilei Faria, aponta que a região Centro-Oeste, diferentemente de outras do país, que têm produção mais diversificada, tem sofrido maior impacto da decisão do produtor por não comprar diante das elevadas taxas de juros. “Por isso, Goiás e o Centro-Oeste vai um pouco contra a corrente do país, que teve as vendas de máquinas estimuladas pela alta do café, citros, entre outros produtos”, constata.

Supervisor comercial da Case, Fareid Junior, aponta que os resultados na Tecnoshow foram entre 15% e 20% melhores já nos primeiros dias. As vendas de máquinas mais pesadas, no entanto, têm caído. “As taxas têm dificultado especialmente as vendas de pesados. Quem compra é aquele que precisa ou que se antecipou, seja por planejamento ou por consórcio”.

Para os próximos meses, representantes do setor acreditam que o comportamento do mercado dependerá, entre outros fatores, de decisões políticas internas, especialmente em relação ao Plano Safra