As instituições financeiras estão de olho na demanda por investimentos em um setor que cresceu 33% no ano passado
Miguel Renato Esperança, produtor de orquídeas e de rosas em Holambra (SP)
Definitivamente, as operações de crédito relacionadas a energias renováveis, eficiência energética, gestão de água e de resíduos, floresta e agricultura sustentável estão na mira dos bancos, das empresas e dos produtores brasileiros. Eles se rendem, cada vez mais, à economia verde, um conceito criado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), da Organização das Nações Unidas (ONU). “Os investimentos em tecnologias voltadas para a preservação ambiental não têm volta”, diz Miguel Renato Esperança, produtor de orquídeas e de rosas no sítio Santo Antonio, em Holambra (SP). “Esse movimento está só começando.” Esperança investiu R$ 592 mil, com recursos do Banco do Brasil e a juros anuais de 6,5%, na instalação de placas fotovoltaicas para a geração de energia elétrica. O sistema começou a funcionar no mês passado e vai gerar 150 quilowatts por hora, no pico da produção. A expectativa é atender 85% da demanda da propriedade.
Esperança faz parte de um público que desperta muito interesse ao setor financeiro. Atualmente, pelo menos 25% dos recursos liberados pelas instituições financeiras no País são destinados, principalmente, à agricultura de baixo carbono, preservação do meio ambiente, eficiência no uso de recursos naturais e inclusão social. Segundo estudo divulgado em junho pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), as 15 maiores instituições do País liberaram R$ 412,3 bilhões para a economia verde no ano passado. Esse total equivale a 27,6% de toda a carteira de empréstimos dessas instituições para pessoas jurídicas, que foi de R$ 1,5 trilhão. Os recursos liberados no ano passado representam um aumento de 33,4%, comparado aos R$ 309 bilhões do ano anterior. Na ocasião, eles representaram 18,8% da carteira de crédito dos bancos, de R$ 1,6 trilhão.
Em Roraima, o governo está desenvolvendo um programa para pequenos produtores
O estudo também mediu as emissões de títulos para os setores e as empresas da economia verde. Em 2017, elas foram de R$ 45,1 bilhões, valor 82,9% acima do ano anterior. Também se destaca nesse cenário o mercado de bonds, como genericamente são conhecidos os títulos de dívidas emitidos por companhias ou por governos no exterior. Os títulos verdes (green bonds, em inglês), dos bancos somaram R$ 8,1 bilhões, volume 181% acima do ano anterior. No Brasil, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) foi o primeiro do País a emitir green bonds no mercado internacional, em maio do ano passado. O título de US$ 1 bilhão foi listado na Bolsa Verde de Luxemburgo, expira em 2024 e tem um cupom de 4,75% ao ano. Além disso, pela primeira vez, em 2017, as instituições captaram recursos destinados à economia verde. O volume foi de R$ 3,23 bilhões.
O mercado é promissor e o sistema financeiro sabe disso. No caso de Esperança, produtor que se dedica às flores desde 1987 e hoje cultiva 22 hectares, a ideia agora é buscar mais recursos. Ele já calculou que precisa de R$ 900 mil para instalar placas fotovoltaicas em mais duas propriedades: uma no município de Andradas e outra em Jacutinga, ambos em Minas Gerais, onde cultiva rosas e astromélias. Cada um dos projetos deve gerar 90 quilowatts de energia, por hora. No caso do sítio de Holambra, a conta de consumo de eletricidade é de R$ 10 mil mensais. Nas propriedades mineiras, ela é de R$ 7 mil em cada uma. “Com as placas, espero reduzir em 5% o valor do consumo de energia elétrica, no custo total de produção”, afirma Esperança. “Além da energia limpa e mais barata, poderei utilizar mais tecnologia.” O custo de produção é R$ 350 reais por mês, para cada 25 mil vasos de orquídeas. A produção anual é de 300 mil vasos. Nas flores, que são para corte, o custo é de R$ 50 mil mês, por hectare. Por ano, são colhidas 13 milhões de hastes.