Ministério da Agricultura monitora nuvem de gafanhotos no Sul do Brasil

Desde 1940 a praga não atacava as lavouras brasileiras com voracidade

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Uma nuvem de gafanhotos de proporções colossais se aproxima da fronteira brasileira no Rio Grande do Sul. A praga consome em um dia o equivalente ao que 2 mil vacas ou 350 mil pessoas comem.

Segundo projeção da Argentina, os insetos podem chegar ao Oeste do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, oferecendo riscos às lavouras.

O engenheiro agrônomo da Canasol Tone Antonelli, explica que nem todo defensivo agrícola registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), pode ser usado para uma pulverização aérea.
“Nesse caso o defensivo utilizado seria os registrados como inseticidas mas devemos ressaltar que toda aplicação deve estar ligada ao registro do produto a determinada praga e cultura e que toda aplicação segue de um receituário agronômico. As regras para o Agronegócio sempre foram muito rígidas” afirmou o engenheiro.

De acordo com o entomologista e pesquisador da Embrapa Soja, de Londrina (PR), Adeney de Freitas Bueno, uma forma de combater a nuvem de gafanhotos é utilizar inseticidas específicos nas plantações para matar os insetos.

“Porém, o uso de inseticida é paliativo e pode não ter um resultado tão bom. Pois são muitos insetos que voam de forma muito rápida a longas distâncias, em grande quantidade. Quando eles chegam, devoram rapidamente tudo o que é verde. Então, até o produtor tomar a decisão de colocar inseticida e o produto fazer efeito leva alguns dias. Somente para o inseticida fazer efeito são dois dias”, explica Bueno.

Por isso, o pesquisador ressalta que o monitoramento, neste momento, é muito importante. Já para prevenir esse estrago no longo prazo, a saída, segundo Bueno, é fazer um uso racional dos defensivos agrícolas e manejo integrado de pragas e doenças.

Reforçando que o controle dessas pragas deve ser feito e indicado pelas autoridades, no caso o Ministério da Agricultura. “Até porque, se o agricultor fosse aplicar (inseticida), ele precisaria de um receituário agronômico para comprar o defensivo, e isso é fiscalizado,” finaliza.

Em nota o Ministério da Agricultura afirma que o Serviço Nacional de Sanidade e Qualidade Agroalimentar da Argentina ( Senasa) informou ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) que uma nuvem de gafanhotos da espécie Schistocerca cancellata encontra-se próxima à fronteira com o Brasil. De acordo com o monitoramento climático que vem sendo realizado pelos especialistas argentinos, os insetos devem seguir em direção ao Uruguai.

No entanto, considerando a proximidade com a região fronteiriça do Brasil, o Mapa emitiu alerta para as Superintendências Federais de Agricultura e aos órgãos estaduais de Defesa Agropecuária para que sejam tomadas medidas cabíveis de monitoramento e orientação aos agricultores da região, em especial, no estado do Rio Grande do Sul, para a adoção eventual de medidas de controle da praga, caso esta nuvem chegue em território brasileiro.

As autoridades fitossanitárias brasileiras encontram-se em permanente contato com as autoridades argentinas, bolivianas e paraguaias, por meio do Grupo Técnico de Gafanhotos do Comitê de Sanidade Vegetal (Cosave). Ação essa que tem permitido um acompanhamento do assunto em tempo real, com o objetivo de adotar as medidas cabíveis com vistas à minimizar os efeitos de um eventual surto da praga no Brasil.

Esta praga está presente no Brasil desde o séc. XIX e causou grandes perdas às lavouras de arroz na região Sul do país nas décadas de 1930 e 1940. No entanto, desde então, tem permanecido na sua fase “isolada”, que não causa danos às lavouras, uma vez que não forma as chamadas “nuvens de gafanhotos”. Recentemente voltou a causar danos à agricultura na América do Sul, em sua fase gregária (formação de nuvens). Os fatores que levaram ao ressurgimento desta praga em sua fase mais agressiva, na região, estão sendo ainda avaliados pelos especialistas e pode estar relacionado a uma conjunção de fatores climáticos, como temperatura, índice  pluviométrico e dinâmica dos ventos.