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Para manter setor açucareiro, França libera inseticida que prejudica abelhas

Em meio a uma crise severa na produção de beterraba açucareira na Europa, a França terá que engolir do próprio veneno quando dirige a outros países críticas à sustentabilidade do campo. O governo liberou o uso de neonicotinóides, acusado de matar abelhas e proibido desde 2018, no revestimento das sementes das plantas.

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A Assembléia Nacional da França aprovou na terça-feira (6) um polêmico projeto de lei que permite a reintrodução temporária de pesticidas que matam abelhas para salvar a indústria da beterraba. O debate no congresso francês foi acalorado, e o partido do presidente francês Emmanuel Macron, o República em Marcha (LREM), registrou uma longa disputa entre seus apoiadores na bancada governista.

No total, o projeto de lei obteve 313 votos a favor, 158 contra e 56 abstenções, e agora deve ser analisado no Senado francês em uma primeira leitura.

No LREM, 32 deputados votaram contra e 36 se abstiveram, um recorde inesperado, enquanto apenas 175 do grupo macronista liderado desde setembro por Christophe Castaner votaram a favor deste texto que prevê a reintrodução desses neonicotinóides, os inseticidas que matam abelhas.

A polêmica entre os deputados franceses é claro um sinal de que o “projeto de lei, difícil e importante” não conseguiu conciliar os adeptos da ecologia e da economia, sobretudo entre os apoiadores de Macron, como esperava Julien Denormandie, o Ministro da Agricultura. “Minha posição sobre este assunto não foi difícil de manter no grupo. Todos entenderam”, disse Sandrine Le Feur, deputada do LREM e agricultora de profissão.

Toda a esquerda francesa votou em bloco contra o projeto de lei sobre os pesticidas, a maioria do partido governista e do MoDem [centro-direita] a favor, mas a maioria dos grupos estava dividida. “Há votos que fogem da lógica partidária porque participam de escolhas éticas”, argumentou a ex-ministra do Meio Ambiente Delphine Batho, feroz oponente da volta dos neonicotinóides.

A nocividade dessas substâncias havia se tornado um consenso durante o exame do projeto de lei na noite de segunda-feira. Mas o deputado macronista Jean-Baptiste Moreau argumentou novamente nesta terça-feira que o projeto de lei era uma “resposta pragmática à situação catastrófica em que a indústria francesa de beterraba se encontra”.

“Infelizmente, hoje não podemos, se queremos manter uma indústria açucareira na França, atuar de forma sustentável em tão pouco tempo. As mudas serão produzidas em seis meses e se não for encontrada uma solução, portanto não haverá beterraba e não haverá mais indústria açucareira na França”, disse a ministra Bárbara Pompili.

Essa classe de inseticida, derivado da nicotina, amplamente usado no Brasil em várias culturas, também sob críticas dos ambientalistas e apicultores (o agente é acusado de prejudicar as abelhas), seria a única solução, a curto prazo, para atenuar as pragas que estão atacando as plantações de beterrabas.

REAÇÕES

As reações a esta votação foram imediatamente numerosas: a Confederação Geral dos Plantadores de Beterraba (CGB) da França saudou a “coragem” e a “ambição” do governo Macron.

Uma “decisão responsável”, também aplaudida pela produtora de açúcar Cristal Union. Por outro lado, o Greenpeace denunciou uma “grande regressão ecológica”. Um “insulto” à “proteção dos seres vivos”, alertou a associação nacional de apicultura francesa. Para a União Nacional de Apicultura Francesa (Unaf), que emitiu um comunicado oficial a respeito da liberação dos pesticidas, esta reintrodução do produto é “um insulto à apicultura, ciência e proteção dos seres vivos.”

– APP