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Pesquisa usa palha de cana-de-açúcar na produção de painéis

Trabalho ainda é experimental, mas há planos de um projeto-piloto de produção. Produto pode substituir tapumes de madeira na construção civil.

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Uma pesquisa desenvolvida pelo Instituto Senai de Tecnologia em Celulose e Papel e a Empresa Brasileira de Pellets (EBP) abriu mais uma possibilidade de utilização para a palha da cana-de-açúcar: a produção de painéis que podem substituir os de madeira em diversos usos, como na construção civil. O projeto ainda é experimental, mas já existe a expectativa de um projeto-piloto de produção.

“Os nossos painéis são feitos de madeira reconstituída, mas o problema desse material é que ele absorve água e incha. A palha da cana seca, por outro lado, repele a umidade naturalmente, e seria muito interessante se a gente conseguisse trazer essa propriedade para o nosso produto”, explica o engenheiro químico da EBP, Roberto Felipe Gomes.

Ele conta que a empresa já fazia o recolhimento e a queima controlada para a geração de energia. Mas a quantidade era grande e foi preciso encontrar outras aplicações que pudessem agregar valor econômico e ambiental ao resíduo. Assim, a pesquisa começou com o objetivo de produzir painéis mais resistentes.

“Mas apenas pegar a palha e submeter ao processo convencional não deu certo. Como em qualquer estudo, foram encontrados alguns problemas e novidades, foi necessário, por exemplo, utilizar uma resina muito diferente do processo normal”, conta.

Segundo Gomes, mil toneladas resultam em cerca de 700 toneladas de painéis. “Tudo que produzimos até agora foi em escala de laboratório e de teste, mas, nas próximas etapas, nós teremos uma fábrica piloto e queremos aperfeiçoar ainda mais os processos”, afirma ele sobre os próximos passos antes de partir para uma produção em escala industrial.

Segundo o gestor de negócios da EBP, Danilo Augusto Monteiro, o volume recolhido de palha pela empresa é de 6 a 8 toneladas por hectare. O volume representa 70% do total, diz ele, lembrando que, em menor quantidade, manter a matéria orgânica na lavoura é boa para o solo. A grande disponibilidade dessa matéria-prima é fator importante para o sucesso do projeto dos painéis.

“Quando divulgarmos esse trabalho concluído, não vai faltar oportunidade de vendas, até porque além das qualidades, nós estamos falando de um produto sustentável”, acredita ele.

A coordenadora do IST Celulose e Papel, Adriane Queji de Paula, compartilha da expectativa positiva. Segundo ela, a ideia de fabricar os painéis vai ao encontro de propostas de práticas sustentáveis.

“Os painéis são feitos com o resíduo de um processo, o que por si só já reduz os custos. Mas se a gente ainda considerar a quantidade de plantações de cana que temos no território nacional, essa palha fica ainda mais acessível, o que também torna o produto economicamente mais viável”, afirma.

A pesquisadora do projeto no Instituto Senai, Ana Carolina Nascimento, afirma que estão sendo estudadas outras possíveis aplicações para o painel. “Queremos melhorar os processos e fazer outros testes. Além de funcionar como tapumes na construção civil e na indústria, queremos ver qual o potencial deles para o isolamento acústico, por exemplo”, relata.

Fonte – Visão Agro