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22 de agosto de 1817. 22 de agosto de 2019. Araraquara.

Por José Pedro Renzi

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As lembranças e recordações que possuo da nossa querida Morada do Sol, vem do fato que nasci aqui desde 17 de março de 1961.

Araraquara está e mora no meu coração poético.

Sou morador do tradicional e moderno bairro do Carmo, onde nasci e cresci ao lado de minha mãe Aladia Biancardi Renzi e do motorista José do Carmo Renzi, Zezinho, que foi por trinta e dois anos, motorista do doutor Eduardo Lauand, saudoso médico ginecologista e obstetra.

Eram tempos diferentes dos nossos, destes com as “redes sociais” e o famoso whatsapp.

O bairro do Carmo era de terra, e convivíamos em 1967 com os primeiro paralelepípedos colocados no chão de terra, onde pisamos descalços em busca do futebol, da Escola Florestano Libutti, onde uma árvore frondosa, fazia sombra, onde tínhamos os famosos rachas de betis, futebol de caixão, e tantas outras brincadeiras de crianças daquela época, de sonhos, inocência e virtudes familiares.

Eram tempos de Atlas do atleta profissional Armando Clemente (1929-2009) e do Coloradinho do Zélemão (1945-2015), onde jogou Carlos Henrique, Careca, Paulo César, Escureba, Nandão, e tantos outros meninos craques do esporte bretão.

Eram tempos de campinhos de terra e de roubar frutas, como seriguela, uvaia, maça azedinha, pêssego, caju, macaúva, jatobá  e tantas e tantas frutas nos quintais do Carmo.

Eram também momentos de irmos para a escola, onde entrávamos depois do meio dia, horário de almoço, com o recreio ou levávamos pão com ovo, pão com manteiga ou simplesmente pão com salame.

Um tempo do bucheiro que vinha vender, bucho, fígado e outras tripas em um carro puxado por cavalos e burros ou ainda do famoso carroceiro, que caiu ao virar a esquina, derrubando todo o leite da carroça, numa madrugada, entre a avenida São José, e a Rua Comendador Pedro Morganti. O barulho foi grande.

Tempos de disciplinas e indisciplinas, quando questionamos o enérgico diretor Aristides Bussadori, sobre o nosso lugar ao Sol, ou seja, o pátio da escola Florestano Libutti e o nosso lugar para jogar futebol ou os nossos rachas no bairro do Carmo.

E mudanças, em uma cidade que abriga, hoje mais de 243 mil habitantes, entre a UNESP, Unip e Uniara, universidades aqui instaladas. Lembranças de quando íamos procurar emprego nos bancos, na Chevrolet do Graciano, nos escritórios de contabilidade ou ainda nas lojas de ferramentas com a dona Benta do Sergio Tucci.

Tantos anos se passaram, na rolança da vida e do tempo, onde a memória afetiva daquela molecada, ainda persegue os nossos sonhos embalados em canções de ninar, cantadas por nossas mães italianas, japonesas, portuguesas, espanholas, alemães e descendentes dos libaneses ou árabes.

Um tempo de lembrança entre os “campos de Aracoara” ou num belo dia de SOL, onde Pedro José Neto estabeleceu a Freguesia de São Bento, em nome de uma terra onde mora o sol, o dia… A luz.

Um lugar onde mora a luz, nestes 202 anos da História da emancipação política e administrativa da nossa e da minha querida cidade Araraquara.

Onde mora o SOL. Na versão da Monografia da Palavra Araraquara, escrita pelo fazendeiro e Lingüística Pio Lourenço Correa (1871-1957). No pé mimoso de Araraquara, onde Mário Raul de Moraes Andrade escreveria o romance Macunaíma: o herói da nossa gente, sem nenhum caráter, publicado na capital paulista em 1928.

Tempos de lembranças, recordações e memórias que precisam necessariamente ser preservadas.

Viva Araraquara!

José Pedro Renzi é sociólogo, professor e poeta

**As opiniões expressas em artigos são de exclusiva responsabilidade dos autores e não coincidem, necessariamente, com as do RCIARARAQUARA.COM.BR