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A desigualdade social poderá provocar rebeliões e saques em 2022

Por Walter Miranda

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Penso que a população brasileira tem sido muito resiliente diante da conjuntura econômica e social interferindo nas suas qualidades de vida. Penso, no entanto, que a habilidade das pessoas responderem às frustações cotidianas, como fome, desemprego, falta de habitação, tende a se esgotar.

No ano de 1986, o então governo José Sarney, objetivando conter a violenta alta nos preços das mercadorias, editou um grupo de medidas, dentre elas o congelamento dos preços. O Governo congelou os preços das mercadorias, e rapidamente as mesmas sumiram das gôndolas ou prateleiras. Num gesto populista o Sarney estimulou a população a fiscalizar os supermercados. Nas grandes cidades houve muitas denúncias. Vendo que não adiantou denunciar, povo começou a saquear.

No ano de 1990 o governo Collor instituiu o Plano Collor I que bloqueou os depósitos em poupança, permitindo saques de até 50 mil cruzados, reduziu a inflação apenas no primeiro mês, mas depois descontrolou. Depois lançou o Plano Collor II, que aumentou o número de congelamentos, energia, correios, transporte, etc.

Diante da crise econômica e social, a população da periferia, das favelas nas grandes cidades se organizou e resolveu saquear supermercados. Esses saques ocorreram em todo país, porém com mais intensidade na grande São Paulo e Rio de Janeiro. Com caminhões o povão enchia os carrinhos de mercadorias e as levava para a periferia. A PM não conseguia conter, pois tudo acontecia ao mesmo tempo.

A Fundação Abrinq lançou a primeira edição do Cenário da Infância e Adolescência no Brasil 2021. A publicação informa indicadores sociais. Indica que na faixa de 0 a 14 anos, temos 9,1 milhões de crianças e adolescentes vivendo em extrema pobreza (renda per capita mensal inferior ou igual a um quarto do salário-mínimo) e 9,7 milhões em situação de pobreza (renda per capita mensal de mais de um quarto até meio salário mínimo).

No dia 17 de março deste ano de 2021, um grupo de 20 pessoas fez um arrastão em um supermercado na Rodovia Raposo Tavares, Zona Oeste da cidade de São Paulo. No início da noite invadiram uma unidade do supermercado Carrefour na Rua Pamplona, no centro de São Paulo. Protestaram contra os preços altos dos alimentos.

No último dia 16 de dezembro, cerca de 200 pessoas do MLB-Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas, ocuparam um dos supermercados do Extra na cidade de Recife/PE. O atendimento aos clientes foi suspenso e as pessoas só saíram após receber as cestas básicas. Os ocupantes disseram que “decidiram fazer a ocupação chamado de Natal Sem Fome, para denunciar a carestia e a miséria que o pessoal está passando”.

Dados do DIEESE- Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos demonstram a obscena desigualdade social que persiste desde sempre no Brasil, onde os 10% mais ricos têm uma renda de 29 vezes maior que a da metade mais pobre da população. Enquanto os 56% mais pobres ganham, em média, R$ 8.800,00 ao ano, o que representa menos que um salário mínimo, os 10% no topo da pirâmide detêm quase 60% da renda nacional.

No ano de 2022, se piorar a desigualdade, poderemos ver as voltas de rebeliões e saques no Brasil, a exemplo do que aconteceu em 1986 e 1990, e já está acontecendo atualmente nas grandes regiões urbanas pobres do Brasil. A população faminta, econômica e socialmente excluída, sem alternativas para sobrevivência poderá, amparada pelos artigos 23 e 155 do Código Penal Brasileiro, cometer o furto famélico.

O reajuste do salário mínimo de apenas R$ 110,44, previsto para o ano 2022, não vai ser suficiente para comprar alimentos e outras necessidades básicas da população. Em algumas regiões do Brasil, não dará para comprar um botijão de gás.

O Auxílio Brasil, no valor de R$ 400,00 por família, não vai dar para uma alimentação digna, e poderá provocar rebeliões e saques no ano de 2022. Aqui está, com certeza, um dos motivos que está levando o presidente Jair Bolsonaro à mais vergonhosa derrota da história do Brasil.

(*) Walter Miranda é presidente do Sindifisco-Nacional/Delegacia Sindical de Araraquara, diretor do SINSPREV-Sindicato dos Trabalhadores nos Serviços Públicos de Saúde, Previdência e Assistência Social do Estado de São Paulo, e militante da CSP Conlutas – Central Sindical e Popular.

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