Certa vez, durante uma das reuniões realizadas pelo nosso grupo: Mulheres do Agro Araraquara, a Carmem, uma das integrantes, contou rapidamente pra nós sobre a sua trajetória de advogada em São Paulo, para fazendeira aqui no interior. Lembrou o início de suas atividades na fazenda, trabalhando sozinha num outro ramo de negócios, as várias situações novas e as dificuldades enfrentadas e no final da sua fala fez uma comparação entre a sua posição atual junto ao nosso grupo e àquela em que estava quando começou a trabalhar na sua propriedade. Usou uma expressão, que jamais esqueceremos: gente, nas águas dessa vida, passei de lambari a tubarão depois, que eu encontrei vocês!
O que nesse mundo pode ser melhor, do que a gente sentir essa sensação de segurança e prazer quando fazemos aquilo que é preciso da melhor maneira, não é mesmo!!
Mas o que é preciso fazer pra conquistar esse espaço, onde eu assumo a liderança e sou responsável pelo o que, como e quando…
Sabemos que, esse modelo de sociedade em que, a mulher toma a dianteira de negócios, sejam eles próprios ou não, é uma nova estrutura social que, vem se estabelecendo aos poucos, à custa de muita persistência das mulheres, para superarem as barreiras que, ainda existem à sua participação em assuntos que não sejam domiciliares, porque afinal, desde os primórdios, lá atrás, as mulheres exerciam apenas as funções de criação dos filhos e dos cuidados com a agricultura de subsistência, enquanto os homens saíam, a princípio para a caça e depois para novas conquistas de territórios e poder.
Dessa forma, a maioria de nós, vem passando de geração em geração, colocando os ideais dos outros: primeiro dos pais, depois dos maridos e dos filhos, sempre antes dos nossos. Não fomos habituadas a darmos ouvidos e muito menos voz aos nossos interesses, aos nossos sonhos. No entanto, temos visto que algumas mulheres embora saindo apenas do papel de suporte dos seus pais ou companheiros, já assumiram a liderança de propriedades rurais, apesar de ainda representarem uma minoria frente aos negócios no campo.
Mas o primeiro passo que, precisamos dar para nos apossarmos de nós mesmas é darmos ouvidos à nossa voz interior essa que, comanda nossa garra, nossa disposição pra trabalhar. Precisamos desenterrar nossos talentos, nossos dons, há tanto tempo adormecidos dentro de nós, pra começarmos nossa nova jornada no agro. Somos capazes de conciliar família e trabalho externo sim, afinal, nós mulheres é quem temos o dom da pluralidade não é!!! Somos persistentes, detalhistas e buscamos o aprimoramento constante, características importantes para que os negócios tenham sucesso e prosperem.
Então meninas, tomem a iniciativa de dar o primeiro passo pra assumirem sua posição no Agro, ouçam o chamado da terra pra vocês, percebam os sinais ao seu redor e usem seus dons e talentos. É assim que damos sentido à nossa vida, é assim que nos tornamos pessoas melhores que, sentimos aquela sensação gostosa de segurança e prazer da qual a Carmem falou.
E não podemos deixar de partilhar nossas histórias com mais mulheres, porque a partir do nosso testemunho muitas outras descobrem que, apesar dos grandes desafios do dia-a-dia de uma mulher agro, nós somos capazes de assumir uma postura de inovação, conhecimento e conduta profissional que, é essencial para minimizar a desigualdade de gênero e tornar o universo do agronegócio um lugar melhor para todos.
*Maria Emília de Oliveira Souza Taddei, é empresária do agronegócio, associada do Sindicato Rural e integrante do Grupo Mulheres do Agro Araraquara
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