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A liberdade é de expressão, mas não pode ser desrespeitosa

Por Rafael Zocco

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Me formei em 2013 no curso Comunicação Social – Jornalismo na Uniara e sempre digo que a melhor aula que tive foi a de Ética no Jornalismo, ministrada pelo professor Sebastião. Ano que vem, completarei uma década de formação. Apesar disso, me considero jovem na profissão e vivo aprendendo todos os dias o que os mais sábios podem me agregar. Sempre de maneira respeitosa.

A paixão por esporte e o futebol, principalmente, me fez querer mais e mais, ter o convívio com o clube da cidade que sempre amei. A Ferroviária tem sido o meu estilo de vida nos últimos anos. Bom ou ruim, eu não sei se é, mas é o que está acontecendo atualmente.

Dos tantos anos acompanhando e vivenciando isso, acho que o episódio que aconteceu na última sexta-feira (4) foi o maior baque como setorista do clube. A Guerreirinha Esther nos deixou com 14 anos de vida, um o sonho interrompido em ser uma atleta profissional. Ela tinha como inspiração a meia Debinha, hoje selecionada por Pia Sundhage para amistosos e competições do Brasil no futebol feminino.

Mas, cá entre nós. Por que querer registar momentos como esse, difíceis até de presenciar no CT do Pinheirinho? Por que puxar um celular, ir para um canto, como se nada tivesse acontecido e estar fazendo “apenas o meu trabalho”? Devemos colocar o trabalho acima de qualquer coisa mesmo, justo ali?

Quem cobre o clube, sabe. Desde 2017, não existe mais treino aberto, seja profissional ou base, masculino ou feminino para imprensa ou torcida. Apenas pedindo ao clube, fazendo uma manifestação prévia de imagens ou entrevistas com os profissionais. Claro que isso não agrada a maioria. Muitos têm saudades dos outros tempos que poderia pegar uma palavra do jogador na beira do gramado logo após o apito final do professor. Perdemos esse “dia a dia”, mas respeitamos a ideologia do clube e seguimos sempre este critério da comunicação com o comunicador.

Mesmo se tratando de um espaço público como é o Pinheirinho, treinos feitos pelas equipes da Ferroviária precisam ter autorização para estar ali. Certo dia, uma pessoa do clube me perguntou o que eu estava fazendo ali, no mesmo local, no treino da base do futebol feminina e se eu estava autorizado. Disse que sim, mas ela foi checar. Normal. São procedimentos. Tive a autorização e comecei captar imagens, logo depois entrevistas. Queiram ou não, é assim que funciona.

Eu não posso ser maior do que tudo. Por isso, eu me espantei com a presença do repórter, dentro do campo, e começando a filmar toda a cena. Eu compreendi a revolta dos que estavam ali. Era uma criança de 14 anos, lutando pela vida e com os profissionais da saúde prestando o socorro. Não são imagens que eu queria ver, muitos menos que fossem captadas por eu ser jornalista, por estar exercendo a minha profissão. Não estou querendo dizer que não posso ser conivente, mas nem era o lugar e o momento. Ali, não se tratou der ser da Ferroviária, ser diretor, treinador, auxiliar, educador físico, massagista, mas sermos mais humanos.

Os 10 minutos gastos de conversas também poderiam ser “tudo bem pegar uma imagem à distância da ambulância sem mostrar o atendimento?”. Respeito os profissionais que são, de fato, formados na área de comunicação, mesmos os mais sábios.

Mas, eu pergunto para cada um de vocês que estavam no Pinheirinho. A Esther foi velada sábado, dia 5, no Memorial Sinsef, com o endereço divulgado no grupo da imprensa da Ferroviária, com horário das 14h às 16h. Onde vocês estavam? A mensagem do ‘zap’ não interessou?

Estive lá, do início ao fim. Abracei quem pude abraçar. Lamentei e chorei. Nem o anunciante paga por isso, muito menos um clique faz diferença. Fiz o que deveria ser feito. É bom ser humano, é bom ser jornalista, é bom ser torcedor, principalmente da Ferroviária.

Lamento muito que tenha acontecido tudo isso, mas não podemos passar por cima de uma vida que foi perdida dentro de um gramado de futebol, que é um lugar para se ter vida e alegria, não de tristeza e indignidade.

*Rafael Zocco, é jornalista esportivo do RCIA Araraquara

**As opiniões expressas em artigos são de exclusiva responsabilidade dos autores e não coincidem, necessariamente, com as do RCIARARAQUARA.COM.BR