Chile e Brasil (1) (*)
Os fãs do futebol não esquecem a gloriosa participação brasileira na Copa do Mundo de 1962, a do nosso bi-campeonato, e a consagração de Garrincha e Amarildo nos gramados de Viña del Mar e Santiago.
Os intelectuais lembram de Pablo Neruda (1971) e Gabriela Mistral (1945), escritores chilenos que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura e lamentam que até hoje nenhum escritor brasileiro nos trouxe esta honraria.
Os amantes do vinho se deliciam com o prazer de uma boa taça de um chileno daqueles que frequentam nossas mesas, como um Concha y Toro, Casillero del Diablo e outros rótulos.
Os que gostam de música popular se recordam de Elis Regina cantando Gracias a La Vida. Tão pouco esquecem de Milton Nascimento ou Chico Buarque de Holanda nos emocionando com Volver a Los 17, ambas da inspiração poética da talentosa e trágica chilena Violeta Parra.
Se formos para a política, os esquerdistas se recordam do governo do médico Salvador Allende e suas idéias de construir o socialismo com democracia e liberdade. Já os direitistas se vangloriam do General Augusto Pinochet que implantou um capitalismo radical por aquelas terras.
Os que olham o Chile com as lentes da economia vão se lembrar da nacionalização de empresas estrangeiras, a estatização dos bancos e a reforma agrária no governo Allende. De Pinochet ficam as medidas de internacionalização econômica, do controle salarial e da privatização da previdência social. Medidas que foram acompanhadas de perto pelo atual ministro brasileiro Paulo Guedes à época professor e assessor econômico em Santiago.
O Chile acolheu centenas de refugiados brasileiros no período 1964-1973, que com o golpe militar do general Augusto Pinochet tiveram que se refugiar em outros países, sem poderem voltar para o Brasil, o que só pode acontecer com a Anistia em 1979.
O Brasil recebeu os refugiados chilenos depois de 1973 até 1990 quando eleições elegeram o presidente Patrício Alwin e o Chile passou a reconstruir sua democracia.
Enfim Chile e Brasil, mesmo que não nos demos conta, têm muitos pontos em comum, interfaces que se tocam, apesar da barreira da cordilheira dos Andes, e de não termos fronteiras em comum.
O Chile tem 756 mil km2 de área territorial, em grande parte desértico ou montanhoso, e com um extenso litoral de 6.400 km no Oceano Pacífico. Tem uma população estimada pela ONU em 19 milhões de habitantes e um PIB, segundo o FMI, de US$ 272 bilhões. Seus principais produtos de exportação são o cobre e em menor escala outros minerais, as frutas, os vinhos, os peixes e a celulose destinados principalmente para a China, EUA, Coréia do Sul, Japão, Brasil, Índia, Espanha, Peru, Holanda e Canadá. . Estes mesmos países fornecem os produtos importados pelo Chile, que também compra do Equador, da Alemanha. O turismo é uma outra grande fonte de riquezas para o Chile, notadamente no inverno com suas pistas de esqui na neve a atrair amantes deste esporte.
O Brasil já é um gigante, com 8.515 mil km2, 212 milhões de habitantes, um PIB de US$ 1,3 trilhões, e exportações de minério de ferro, derivados de petróleo, de produtos agropecuários (soja, milho, açúcar, álcool, carne bovina, carne de aves), celulose e outros. Os principais destinos das exportações brasileiras são a China, EUA, Holanda, Argentina, Japão, Chile, México, Alemanha, Espanha e Coréia do Sul. Estes também nos fornecem produtos que importamos, além da Rússia, Itália, Índia.
Ou seja, desconsiderando as dimensões do Brasil e Chile, e o volume de recursos utilizados nas importações e exportações, as semelhanças continuam com os mesmos países comprando e vendendo.
Nas próximas semanas uma mudança vai acontecer no governo do Chile: sairá o presidente conservador de direita Sebastião Pinera e assumirá o presidente progressista de esquerda Gabriel Boric. Coincidentemente o mesmo destino se reserva ao Brasil, com a polarização esquerda versus direita e todas as pesquisas de opinião, até hoje, apontando uma vitória da esquerda.
É preciso conhecer mais o que se passa atrás da Cordilheira dos Andes.
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O Portal RCIA vai acompanhar estes acontecimentos no Chile e estaremos trazendo várias reportagens nas próximas semanas.
(*) Domingos Carnesecca Neto, Bacharel em Economia/UNESP, Licenciado em História/UNINOVE.
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