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Chile: a ditadura construída

Por Domingos Carnesecca Neto

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Chile e Brasil (3) (*)

O Chile é um país que, ao longo de história, tinha uma grande estabilidade política.

Enquanto a América Latina era assolada por golpes e revoluções, o Chile seguia sua linha.

Isto, com instituições sólidas e é democráticas, propiciou a eleição do médico socialista Salvador Allende, que assumiu a presidência disposto a fazer pacificamente transformações sociais e assim melhorar a vida de milhões de chilenos.

Nesta época a maioria dos países latino-americanos estava mergulhado em graves crises políticas ou econômicas, e o modelo ditatorial prevalecia.

Ressalte-se que o Uruguai tinha este mesmo perfil democrático.

Pois bem, com reformas nacionalistas e anti-capitalistas, o governo Allende foi ganhando opositores nas camadas mais conservadoras do país.  Estes opositores, incluindo grupos armados de extrema-direita, foram sendo fortalecidos.

Neste ambiente, misto de um porto seguro para refugiados políticos com um porto de águas revoltas de conspirações, encontravam-se muitos brasileiros. Dentre as centenas de refugiados, lá estavam Fernando Gabeira, José Serra, César Maia (inclusive seu filho, o deputado Rodrigo Maia, lá nasceu) e o araraquarense, do então Distrito de Gavião Peixoto, Percy Sampaio Camargo.

Filho do seu Alziro Sampaio, que era o responsável pelos registros civis de Gavião, e de Dona Djanira, benfeitora do distrito. Irmão de Vavy, que foi subprefeito de Gavião Peixoto durante os anos 70 e 90, e de Doroty Sampaio Camargo, conceituada enfermeira que trabalhou na formação da Secretaria da Saúde de Araraquara, Percy era professor da Faculdade de Odontologia de Araçatuba (atualmente parte integrante da UNESP) e se envolveu no apoio à luta contra a ditadura no Brasil. Para salvar sua vida Percy saiu do  país e foi para o Chile, exercendo o cargo de professor de Odontologia na Universidade de Concepcion no sul do Chile. Por sua liderança foi vice-presidente da Associação dos Refugiados Brasileiros e assim permaneceu até acabar a democracia chilena.

Pois bem, este Chile democrático e acolhedor sofreu com um golpe militar, que depôs e matou o presidente Salvador Allende, e foi conduzido pelo general Augusto Pinochet.

De repente os refugiados tiveram que fugir mais uma vez, os chilenos passam a ser perseguidos, presos ou mortos, e o Chile implantou uma ditadura que levou às últimas consequências o capitalismo neo-liberal, acabando com os programas e legislações sociais e de apoio aos necessitados da ajuda pública.

O golpe de 1973, apoiado e idealizado por economistas e intelectuais da Universidade de Chicago, com a parceria da Universidade Católica do Chile e setores militares.

Convém ressaltar que o nosso atual ministro da Fazenda, Paulo Guedes foi justamente estudar no Chile dos Chicago Boys e da ditadura. Nem preciso concluir que ele foi aluno aplicado e aqui no Brasil, nos últimos anos, tentou conduzir nossa economia naquele formato experimentado no Chile.

Depois de muitos anos de ditadura, no início dos anos 90, o Chile começou a se democratizar e agora elegeu um jovem presidente de esquerda. Gabriel Boric, de 35 anos, assumirá a presidência para conduzir reformas democráticas e sociais novamente.

Ao mesmo tempo uma Assembleia Constituinte trabalha exclusivamente para redigir uma nova Constituição. Tempos de muita ebulição política no Chile. E, apesar das enormes diferenças entre Brasil e Chile, temos também muitas semelhanças.

O Portal RCIA acompanha neste momento os acontecimentos vivenciados no Chile e está apresentando reportagens que pontuam o histórico de vida do país.

(*) Domingos Carnesecca Neto, Bacharel em Economia/UNESP, Licenciado em História/UNINOVE.

**As opiniões expressas em artigos são de exclusiva responsabilidade dos autores e não coincidem, necessariamente, com as do RCIARARAQUARA.COM.BR