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Enquanto propriedades rurais são saqueadas, polícia dorme em berço esplêndido

Por Suze Timpani

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Foi-se o tempo onde o campo era um lugar tranquilo e seguro para viver ou trabalhar.

Na noite desta segunda-feira (26), uma propriedade na Fazendinha, na região de Guarapiranga, distrito de Ribeirão Bonito, foi visitada por bandidos pela terceira vez. Levaram o que tinha pela frente, roçadeira, assoprador, bomba d’água, moto serra, um baú de ferramentas instrumentais e nem o porco escapou, foi abatido e arrastado. Anteriormente já haviam furtado da mesma propriedade uma caminhonete, um trator e uma moto, que nunca foram encontrados.

Este é apenas um caso em meio a tantos outros que ocorrem nesta “Fazendinha de meu Deus”, onde produtores de cana-de-açúcar em sua maioria associados da Canasol – Araraquara, são roubados diariamente e o máximo que conseguem fazer é um boletim de ocorrência, que na maioria das vezes são engavetados, sem investigação ou solução dos casos, levando muitos produtores a revolta. Muitas vítimas sequer procuraram a delegacia de polícia para elaborar um boletim, pois já não acreditam em sua eficácia.

Há meses a Fazendinha vem sendo saqueada por assaltantes, mais de seis propriedades já foram roubadas, de onde os marginais levam de porcos a tratores e nenhuma providência é tomada pela Polícia no intuito de prender os meliantes. “Quando nossos implementos agrícolas são roubados, somos nós quem temos que correr atrás dos marginais se quisermos reaver algum bem que compramos com tanto esforço e trabalho”, disse o dono de uma fazenda que já teve suas terras invadidas e vários tratores e implementos furtados.

No mês passado um dos sítios visitados por esses marginais, teve sua sede invadida e até mesmo a fiação da casa foi arrancada, além de vários produtos roubados. Foram tantos itens levados, que o boletim de ocorrência foi elaborado em quatro folhas. O ladrão foi visto, identificado, inclusive com foto, e até o momento ninguém foi preso.

Vítimas que reclamam por serem assaltadas, já ouviram na polícia como resposta: “o que você tem feito para deter os assaltos em sua propriedade”, como se a responsabilidade fosse do cidadão pagador de impostos e não de funcionários pagos com os mesmos impostos. Nem todas as propriedades podem se valer de câmeras de monitoramento, pois internet não funciona em meio rural. E ao que parece segurança pública também não.

Diante desse caótico quadro, em que se visualiza a fragilidade da segurança e da impossibilidade de defesa das vítimas, resta apenas aos produtores rurais, trabalhar ainda mais, para adquirir novos implementos agrícolas e aguardar o próximo roubo, muitas vezes sob a mira de armas de fogo, pois se dependermos da polícia que dorme em berço esplêndido, seremos massacrados por marginais que agem livremente e que contam com a impunidade que impera na região. Vale ressaltar que é mais fácil marcar uma audiência com o Presidente da República do que falar com o delegado de Ribeirão Bonito. Eu mesma já tentei, mas em vão.

Quantos roubos ainda terão que acontecer para que a justiça cumpra o papel que lhe cabe diante da sociedade ? O Estado tem a obrigação constitucional de empenhar-se o máximo para oferecer, no mínimo, condições seguras a quem trabalha e produz. O Agro não irá sucumbir, vamos resistir. Nossa propriedade não é terra de ninguém.

*Suze Timpani é jornalista e diretora da Associação dos Fornecedores de Cana de Araraquara – Canasol

** As opiniões expressas em artigos são de exclusiva responsabilidade dos autores e não coincidem,necessariamente, com as do RCIARARAQUARA.COM.BR