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Êxodo rural e a qualidade de vida nas grandes cidades

Por Walter Miranda

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Quando vou ao supermercado fazer compras, gosto de conversar com as pessoas sobre o custo da alimentação e a nossa sobrevivência na atual conjuntura econômica. Gosto de conversar com as mulheres, principalmente as mais idosas, que sabem precisamente o que está pesando nos nossos bolsos, saudosos do tempo em que vivíamos felizes na zona rural, produzindo a nossa a própria alimentação.

Não se compravam arroz, feijão, carne de porco, ovos, leite, legumes, frutas e verduras de todas as espécies, enfim, todos os produtos in natura. A minha família, pai, mãe, avó, tios, tias, irmãos e primos, vivíamos na zona rural, numa fazenda onde predominava a monocultura do café, com 200 famílias residindo em colônias de arejadas casas de alvenaria. Não havia desemprego, pois todos eram meeiros.

Cada família tinha sob a sua responsabilidade o cultivo e a colheita de café em quantidade adequada ao número de membros. Não havia desemprego, pois todos eram trabalhadores rurais meeiros, e tinham suas poupanças indexadas às cotações das sacas entregues ao armazém da fazenda.

O êxodo rural significa a movimentação de pessoas dos campos para as áreas urbanas, por vários motivos, dentre os quais a qualidade de vida, e a oportunidades de trabalho. Num país com 310 milhões de hectares de terras devolutas, não é para ninguém passar e até morrer de fome.

Por volta dos anos 1950, segundo o IBGE, aproximadamente 70% da população brasileira vivia na zona rural, e apenas 30% na zona urbana. O PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, em 2015, apurou que 84,72% da população brasileira vive em áreas urbanas, e 15,28% em áreas rurais.

Nos últimos anos houve grande evolução tecnológica, com a predominância da cibernética e robótica. Assim, o campo de trabalho para os trabalhadores qualificados aumentou, os quais, na sua maioria, residem na cidade. Por outro lado, com o crescimento do “exército” dos trabalhadores rurais desqualificados, o êxodo rural aumentou. Robôs agrícolas, por exemplo na cana de açúcar, executam todas as bases de cultivo e até a colheita, operados até por engenheiros especializados.

A rápida e desorganizada urbanização pegou os grandes municípios despreparados para atender às necessidades básicas dos migrantes, provocando uma série de problemas sociais e ambientais. Dentre estes destacam-se o desemprego, a favelização, moradias em locais inóspitos, inseguros, sem saneamento básico, com poluição do ar e da água, sem segurança, e aproximadamente 33 milhões morando nas ruas.

Os preocupantes episódios de violência nas cidades, tem muito a ver com a péssima qualidade de vida, influenciando também na qualidade da educação no Brasil, logicamente dependendo de investimentos. Para ter ideia, de 01/01/2023 a 13/04/2023, segundo o Portal de Transparência da União, o governo Lula gastou com educação apenas 1,91% (R$ 24,7 bilhões) dos R$ 1,29 trilhão do total gasto. Por outro lado, gastou 4,74% (R$ 61,1 bilhões) com pagamento de juros sobre a dívida pública. Esse foi o orçamento herdado pelo atual governo, vindo do governo Bolsonaro.

É preciso pensar no retorno de boa parte da população urbana para a zona rural (Êxodo Urbano), com um projeto de reforma agrária que proporcione todas as condições de vida saudável no campo. Com o êxodo rural a qualidade de vida para a população pobre na cidade ficou insuportável.

(*) Walter Miranda, graduado em Economia e Contabilidade; mestrado em Ciências Contábeis pela PUC/SP; pós-graduado em Gestão Pública pela UNESP/Araraquara, militante do PSTU e da CSP-CONLUTAS Central Sindical e Popular.

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