Pensando em um cenário de intensa transformação tecnológica, identifiquei um tripé tecnológico: formação, socialização e conectividade. Formação no sentido de capacitação, socialização como forma de conectar pessoas com os mesmos interesses, e conectividade para gerar negócios.
Vivemos em um momento com muita tecnologia à disposição. Mesmo que todos não tenham acesso, elas já existem. Estamos o tempo todo conectados nas redes sociais, “perdemos um dedo, mas não perdemos o celular”. E fazendo intendo networking, pois nos dedicamos intensamente à nossa carreira.
Neste tripé, eu identifico as mulheres com forte influência na transformação digital do agronegócio, pois possuem fortalezas intrínsecas ao gênero que as colocam em posição de destaque. Por exemplo: as mulheres são comunicativas, antenadas, compartilham informações e estão conectadas; formam grupos e criam redes com mesmo perfil e interesses, o que fortalece ideias e opiniões; possuem um perfil de gestão que é ancestral. Na época da caça, o homem tinha a obrigação de trazer comida, e a mulher cuidava dos filhos, casa, roupa, comida e marido; são mães, logo são um forte incentivo para a sucessão familiar dos negócios. São as filhas que estão ensinando os pais a usarem o WhatsApp e redes sociais, e são as produtoras e gestoras rurais que estão trazendo informações sobre plataformas de gestão e tecnologias no campo; mulher é mais sensível e empática e contribui para a equidade de gênero.
E por que se preocupar com a gestão e liderança de mulheres no agro já que elas possuem fortalezas e a grande maioria já é capacitada? De acordo com uma recente pesquisa da ABAG, 60% das mulheres possuem nível superior completo, 36% gostam da vida no campo, 34% estão no agro porque membros da família já atuavam. Porém, 59% relatam problemas de liderança por serem mulheres.
Mesmo sendo capacitadas, fortes, decididas e determinadas, as mulheres sofrem por falta de autoconhecimento e autoconfiança, que são reflexos de baixa autoestima, além do medo, que gera ansiedade e insegurança. Em minha Mentoria Carreira & Negócios, tenho focado muito no desenvolvimento pessoal e profissional de estudantes, profissionais e gestoras do agro, pois a maioria dos relatos são relacionados a busca de desenvolvimento pessoal para serem felizes e terem sucesso pessoal, profissional e financeiro.
É de extrema importância que gestores e profissionais do agronegócio busquem se capacitar para se tornarem Líderes. Desenvolver habilidades de comunicação, inteligência emocional, empatia, cultivar relações interpessoais saudáveis, e por fim, inspirarem e motivarem.
Como gestora e líder de mulheres do agro, eu passo constantemente por desafios que me fazem crescer e aprender muito a cada dia. Precisei desenvolver habilidades como empatia, inteligência emocional, comunicação direcionada e paciência.
Sempre disseram que sou inteligente, pois tirava as melhores notas na graduação e no mestrado, fiz estágios, tive 3 bolsas de iniciação científica, mas quando fui para o mercado de trabalho deparei-me com uma realidade: a falta de lideranças que me orientassem melhor, me motivassem para desafios e para a realização do trabalho do dia a dia e que pudessem contribuir para o meu desenvolvimento pessoal e profissional e retorno para as empresas.
Mas meus gestores não tinham essa obrigação, não é mesmo? Eles queriam profissionais prontos e que não precisassem investir tempo na gestão. Mas isso é gestão? E será que os gestores estão fazendo só gestão e por isso não fazem liderança?
É muito mais simples atuar com profissionais prontos, bem desenvolvidos pessoalmente e profissionalmente, que sabem o que querem, que têm foco e planejamento de vida. Mas essa não é realidade do nosso mercado. O que mais percebo e sinto nos jovens e profissionais é a falta de autoconhecimento, baixa autoestima, falta de foco, planejamento de vida e maturidade emocional.
E quando falamos em gestão e liderança de mulheres lidamos com questões fisiológicas e emocionais, aliás o cérebro do homem é diferente do cérebro da mulher, bem como o funcionamento do corpo. Eu busco sempre entender a profissional, seu contexto de vida e como ela gosta de se relacionar e interagir. Não é tão simples quanto parece, pois também tenho minhas limitações e fraquezas
O trabalho que faço em minhas Mentorias é o mesmo que pratico com minha equipe: promover o desenvolvimento pessoal e profissional diariamente. É fácil? Não. Pode dar errado? Sim, e às vezes dá. É muito comum o profissional chegar como um iniciante e após estar mais maduro profissionalmente, ter aprendido e crescido, ele fica mais resistente ao aprendizado para o seu desenvolvimento pessoal, pois acha que sabe de tudo e que está pronto para atuar como gestor.
Na minha opinião, leva tempo para que os profissionais desenvolvam a habilidade de liderança e de gestão. E sabe quando percebo que não estão preparados ou que precisam de mentoria? Quando centralizam todos os processos e não querem ensinar o que lhes foi ensinado.
O ideal é que as empresas invistam em capacitação em desenvolvimento pessoal através de mentorias ou coaching para seus colaboradores e, no caso das mulheres, este trabalho pode ser realizado de mulher para mulher. Vejo que o olhar e a vivência femininos trazem mais coragem, referência e uma conexão mais íntima e apoiadora. Uma mulher liderando e ensinando outra mulher traz exemplos de vida que fortalecem outras mulheres, pois quando encontramos pessoas que passam por desafios parecidos não nos sentimos só, mas sim apoiados e fortalecidos.
Vanessa Sabioni é Engenheira Agrônoma, Mestre em Fitopatologia, empreendedora, Consultora, Mentora, palestrante e fundadora da Rede AgroMulher, a maior rede de mulheres do agro que tem como propósito capacitar, inserir e valorizar as mulheres do setor através de plataforma de capacitação, redes sociais, cursos online, mentorias, palestras e workshops. Mais informações em www.agromulher.com.br.