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Hospital São Francisco e o respeito para com seus usuários

Por Ivan Roberto Peroni

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Neste final de semana, ao ver em nosso portal que o médico cearense Cândido Pinheiro Koren de Lima está entre os dez brasileiros mais ricos do mundo, exclamei, como qualquer cidadão em sã consciência teria feito ao se deparar com essa informação. Foi um “Deus seja louvado” tão espontâneo que até os mais próximos ficaram indignados. Ele, fundador da Hapvida é quem comprou o Grupo São Francisco e do qual a antiga Beneficência Portuguesa faz parte.

É verdade que alguns dias após o Grupo São Francisco finalizar a reestruturação do antigo hospital, anunciando que todas as áreas já estavam abertas para atender aos mais de 73 mil beneficiários da região, nos embebedamos na notícia e não a menosprezamos: Hospital São Francisco contempla tecnologia conservando traços da Beneficência. Era o que víamos naquele momento, felizes com o empreendimento.

Mas, como nem tudo está para o céu, passado um mês da entrega solene veio o que ninguém esperava. Em meio à euforia da inauguração o grupo informou que aceitara uma proposta e, com isso suas empresas passariam a fazer parte da Hapvida, que se tornará com esta aquisição, a maior operadora de saúde do Brasil com quase 6 milhões de beneficiários nos planos de saúde e dental.

A partir daí, enquanto a negociação era analisada pelo CADE – Conselho Administrativo de Defesa Econômica, autarquia federal brasileira vinculada ao Ministério da Justiça, a vida do usuário do plano de saúde começou a sentir os efeitos de desmanche, uma espécie de fim de feira ocasionado pelo desinteresse do plano em corresponder com atendimento de excelência, não fazendo jus ao que lhe é pago por quem nele se associou.

Alguém poderá dizer – mas isso é normal, logo tudo vai mudar, o novo dono deverá dar uma ‘injeção’ de ânimo e as coisas entrarão no eixo. Num primeiro momento pode ser que ocorra essa compreensão, mas quando se trabalha com vida o sentido é outro e as insinuações sobre atendimentos pouco convincentes nos levam a refletir sobre semelhanças que acontecem quando queremos nos desfazer de algo.

Por mais bem intencionado que esteja o grupo, já que a venda foi autorizada, é preciso entender que a história do São Francisco foi construída em grande parte por usuários que sofriam para pagar o plano de saúde e a essa gente se deve o respeito e a atenção. Então, enquanto não se entregar a chave para o doutor Cândido é de extrema importância que todos estejam em posição de altivez para cumprir os sagrados direitos da medicina. Aqui não se fala de manobras empresariais para se promover um atendimento – mais ou menos.

E comentários pouco recomendáveis é o que não faltam em meio a este processo de transição, onde se observa até mesmo a inversão de valores quando a necessidade bate na porta do homecare. Há caso em que – a opinião da enfermeira tem mais poder decisório que o relato do médico. Ou casos em que serviços disponibilizados em domicilio estão minguando por conta de uma economia que não reflete o que a saúde prega – que é a humanização.

Como araraquarense é verdade que desejamos o melhor pra nossa gente, independente se o dono for Pedro ou Paulo, mas que tenha sabedoria na prestação de bons serviços e não avance os sinais do desprezo e do desrespeito ao ser humano. Somos vivos e seremos mortos, sem direitos exclusivos no carregamento das coisas que nos rodeiam. É o nosso jeito de pensar em uma pequena cidade, mas provida de caráter para receber bem quem chega.

**As opiniões expressas em artigos são de exclusiva responsabilidade dos autores e não coincidem, necessariamente, com as do RCIARARAQUARA.COM.BR