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Lockdown que se preza são sete dias e sete noites

Por Ivan Roberto Peroni

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Com pouco ou nada para se comemorar, o lockdown é a bem da verdade, o remédio que consideramos apenas um paliativo para mostrar a nossa população – o que é a convivência com ruas desertas e uma cidade vazia.

Nunca poderíamos imaginar que chegaríamos a isso, tão pouco ajoelhar para algo que a gente não vê, apenas sente em forma de dor. Temos assim a invisibilidade de alguma coisa que nos derruba e nos cala, nos arrasta para uma experiência que se pontua pela dor, sofrimento e perda.

Ainda é cedo para se dimensionar qual será o proveito deste mergulho no silêncio, talvez quase nenhum, pois lockdown que se preza, parafraseando citações bíblicas – se é que as pessoas acreditam – seriam sete dias e sete noites.

“Vocês permanecerão sete dias e sete noites na entrada da tenda da reunião, e respeitarão as proibições de Javé, a fim de não morrerem. Essa é a ordem que recebi”.

Ainda que seja uma citação bíblica e a ela pouco se dá importância, pois a ciência nos tempos que vivemos diz estar acima destes princípios religiosos e os quais a própria humanidade tenta desmistificar, eu particularmente só gostaria de saber de onde surgiu essa praga. Não bastasse, acha-se aqui o caminho para combatê-la e mais adiante surgem tais cepas como se fosse filme de ficção.

Dois dias e meio, como o dia de ontem – vazio e tenebroso – ainda que exista em mim a fé e a esperança não creio que farão a diferença em uma cidade alardeada como a que melhor se preparou no mundo, para enfrentar a praga. Araraquara esteve no foco do universo, como modelo e exemplo.

Se é que Ironia e destino caminham juntos – foi aqui que o vírus desembarcou de uma forma, duas formas e talvez até três – e a ele e suas cepas não adiantou falar – aqui não. Foi nisso que a população botou fé dispensando máscaras e distanciamento. Assim, aglomeração, era o que o vírus mais queria.

Mas, pensando bem – talvez teria sido pior se não tivéssemos nos preocupado com a estrutura que montamos.

*Ivan Roberto Peroni, jornalista e membro  da ABI, Associação Brasileira de Imprensa

**As opiniões expressas em artigos são de exclusiva responsabilidade dos autores e não coincidem, necessariamente, com as do RCIARARAQUARA.COM.BR