Mais 15 dias de quarentena, agora serão 30 dias. Os 40 dias (quarentena) que ainda não cumprimos, poderão ser 10 dias menos que as contagens cristãs, tomando-se por base a quarta-feira de cinzas, domingo de ramos, a chegada da sexta-feira santa e o domingo de Páscoa. Essa casualidade pode não significar muito, mas nunca uma quarentena foi tão pródiga quanto essa por conta da Covid.
A decisão de João Doria, governador do Estado de São Paulo em protelar um resguardo de 30 dias se não é o melhor remédio, pelo menos uns poderão estar salvos da doença e outros tanto, como nós empreendedores, sufocados pela invisibilidade da praga que nos faz baixar as portas. Poderemos não ser mortos pelo vírus, mas pelo infarto. No mínimo uma depressão, capaz de silenciar de vez o comerciante que já vivia calado por conta da economia nefasta que se arrasta pela desgraçada política que vivemos de uns anos para cá.
Enquanto não passar tais 30 dias, o que nos consola é o trabalho em casa, Home Office decorativo da sala para o quarto, do quarto ao banheiro, do banheiro para a porta da rua e um devaneio ainda mais austero quando a mulher faz umas três ou quatro perguntas como se nós dois estivéssemos sós nas praias serenas e tranqüilas do Oceano Atlântico.
Sei que 14 dias já foram suficientes para decorar as perguntas que ela me faz: “o que foi” e eu cansei de lhe responder – “não foi”. Não bastasse, no cruzamento semafórico da sala para o banheiro, cruzo com ela e vem a pergunta que eu nunca gostaria de responder, pois Dio Mio – o que vou fazer no banheiro? Agora sou que pergunto – o que se faz num banheiro se por conta da quarentena não tenho outro lugar prá ir?
Engraçado que quem convive com a gente tem uma leitura perfeita do que acontece a nossa volta. E, a pergunta dela para mim vem até cheia de preocupação – “você está com algum problema, meu amor? Quando pergunta isso parece despertar uma dor de cabeça que, se não é de toda pior, me faz lembrar os sintomas do coronavírus.
Os 14 dias para um marido aplicado conseguiram convencê-lo a ser prestador de serviços no desmonte de teias de aranha, limpeza de gaveta, troca da borrachinha da torneira que está pingando, luz queimada no quintal e por tudo isso me perguntam – o que está fazendo. “Home Office”, isso porque pensei ser jornalista a vida toda.
Se eu disser que a quarentena me certificou chefe de cozinha vocês vão rir. A dobradinha com feijão branco ficou uma delícia, costela com batata então nem se fala. Cardápio que quarentena que se preza me levaria para participar do master cheff. Mas, para contrariar, dentro do clima “coronalístico”, não há mais perguntas prá serem feitas, pois ao provar aquele menu altamente requintado ela diz – huunm, acho que está faltando sal.
Imagino então como estão nossos amigos comerciantes trancafiados em casa, mergulhados em perguntas, desapontados com o caixa extremamente minguado, lembrando das faturas, dos cheques, das duplicatas se é que elas ainda existem, da conta de luz, água, telefone, IPTU, IPVA, Refis, Casas Bahia… aluguel. Ah Jesus, tende piedade de nós.
E se agora fosse eu um religioso juramentado vos diria sem medo de errar – que a Paz do Senhor esteja convosco, pois mais 15 dias, nem Jó com toda sua paciência aguentaria…
*Ivan Roberto Peroni, jornalista e membro da ABI, Associação Brasileira de Imprensa
**As opiniões expressas em artigos são de exclusiva responsabilidade dos autores e não coincidem, necessariamente, com as do RCIARARAQUARA.COM.BR