O assunto é palpitante. Se de fato é bom para uns, ruim para outros. Estamos falando do reajuste salarial dos vereadores e do prefeito, temeridade em ano eleitoral e onde a classe legislativa/executiva corre no fio da navalha, pois todos temem a repercussão negativa que poderá ocorrer, já que agora as redes sociais estão mais próximas e mais afiadas. As redes sociais são o próprio fio da navalha.
O vereador que atualmente recebe R$ 8 mil, na prática são R$ 9 mil bruto, depois vem os descontos, tem o livre arbítrio para escolher se deseja ou não um vencimento reajustado. Cada um é dono de si, porém, a prática exige que todos se juntem em torno de um único ideal: sim ou não, pois se um falar que não deseja o aumento – independente da forma que virá, vão dizer que o seu não, é pura demagogia.
Publicamente ninguém ousa discutir ou emitir opinião, mas entre quatro paredes, tudo se fala; até pode ser que o reajuste venha em forma de reposição da inflação e neste caso o vencimento do parlamentar pode passar de forma liquida os R$ 9 mil, quer dizer – salário limpinho, limpinho.
Embora o aumento tenha a nomenclatura de reposição inflacionária é verdade que na linguagem popular aumento é aumento e forçosamente tem que ser discutido agora, urgentemente, pois deixar o assunto para estudos até 30 dias antes das eleições é também aumentar ou triplicar a ira da população.
Como cachorro picado de cobra tem medo até de linguiça tem vereador, que temendo a reação popular e correndo o risco de não se reeleger, sinaliza que o melhor seria deixar o assunto para ser resolvido no ano que vem, dada a complexidade e a gravidade da vida parlamentar após, pelo menos a maioria dela, ter votado para o aumento do IPTU. É gente, acabou o lendário ditado – o povo não tem memória. Até o facebook lembra o que aconteceu em nossas vidas – um, dois, cinco anos atrás.
Passados três anos da legislatura tem vereador comentando que aumentar o salário, pode gerar desgaste. De fato, gera este incomodo popular, pois o eleitor sabe que o seu escolhido deixou muito a desejar e ainda que exista uma ‘naturalidade discursiva’ própria do político disposto a se defender, logo, aumentar salário do vereador e do próprio prefeito é apagar o incêndio com gasolina.
Dentro de uma conta simples, caso os vereadores decidam repor a inflação dos últimos quatro anos – de 2016 a 2019 -, o acumulado seria de 16%, assim o subsídio em 2021 pode chegar a R$ 9.280. Se índice semelhante for aplicado ao cargo do prefeito, de R$ 19 mil salta para R$ 22 mil.
Com resposta afiada e na ponta da língua há parlamentar que acha pouco o que ganha e admite que o subsidio deveria ser maior, seguindo índices que se aplicam ao salário do deputado estadual (50% menos). Ora, mas o deputado já ganha muito pelo tanto que faz, além do isso tem feito da sua atividade uma carreira profissional. Somos contra o político que faz da política seu único meio de vida, abandonando sua profissão. Ao mesmo tempo, temos que ser contra, sobretudo quando se trata de um jovem, que não se interessa absolutamente nada pela política, nem sequer para criticá-la, que hoje é a tarefa mais fácil de se realizar.
*Ivan Roberto Peroni, jornalista e membro da ABI, Associação Brasileira de Imprensa
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