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O Dia Nacional da Consciência Negra

Por Walter Miranda

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Neste dia 20 faz 326 anos que a elite econômica e política no poder, na época, assassinou o grande líder na luta contra o racismo e a discriminação dos afrodescendentes no Brasil. Falo do grande líder Zumbi de Palmares, o mais importante Quilombo brasileiro pela sua organização e luta política de resistência contra a opressão do regime escravocrata no Brasil.

Palmares, na época, era uma Capitania de Pernambuco, localizada na Serra da Barriga, cidade de União de Palmares. No ano de 2019 tive a grande emoção de junto com a minha esposa Jane, estar no local, pisar o solo e ter uma aula de história contada por um culto motorista e guia turístico.

Quase sempre paro e me questiono: “o que leva seres humanos escravizar outros seres humanos por, aproximadamente, 353 anos (1535-1888), tratando-os como animais irracionais?”. É indignante ainda saber que tudo isso ocorreu com muita violência praticada por supostos “cristãos”, majoritariamente da religião católica, coniventes com o regime capitalista opressor da época.

O Papa Francisco, este verdadeiro cristão, quando esteve no Brasil, pediu perdão à comunidade negra pelos mais de 400 anos de escravidão, com a conivência da religião católica na época, é claro. Este gesto foi enaltecido e elogiado pelas principais lideranças da comunidade negra organizada no Brasil.

A pandemia da Covid-19 tem demonstrado que a população preta, miscigenada, integrando a maioria da população pobre no Brasil, localizada na base da pirâmide em termos de renda, é a que mais sofreu, morrendo sem saúde, sem saneamento básico, emprego, e sofrendo com a alta dos preços da energia elétrica, gás de cozinha, fome, miséria, em decorrência da perda do poder aquisitivo agravado pelas altas dos preços dos alimentos.

Os pretos saíram das senzalas e quilombos e foram para as regiões periféricas, degradadas econômica e socialmente, das grandes cidades. A desigualdade persevera e vem atingindo níveis insuportáveis, quando uma significativa parcela da população branca tem assumido o comportamento nazista, com suas adaptações à hipocrisia do racismo brasileiro, incorporando o mito da democracia racial, que não existe, consubstanciada na condição igualdade de negros e brancos na sociedade capitalista onde tudo está ligado ao dinheiro.

O governo Bolsonaro, e o denominado “Mercado”, que nada mais é do que os donos dos meios econômicos e financeiros da economia brasileira, insistem em aprovar a PEC32 (Reforma Administrativa), enviada pelo Bolsonaro ao Congresso, abrindo caminho para o desmonte dos serviços públicos, principalmente saúde e educação, conquistados com muita dificuldade de mobilizações com a aprovação da Constituição no ano de 1988, para facilitar privatizações. Quem mais vai sofrer com isso, pela sua condição social e econômica, será a população preta pobre, que é a maioria.

Com as cinco formas de contratações de servidores municipais, estaduais e federais, os servidores passarão a estar diretamente vinculados ao governantes, e não à população e ao Estado. Será o fim dos concursos públicos e a volta ao passado quando, por exemplo, o prefeito que governava por um curto período escolhia o servidor.

Neste caso, considerando que no Brasil o racismo e o preconceito racial, frutos da ignorância cultural ainda sobrevivem, sem concurso público a tal da boa aparência, fundamentada no padrão de aparência europeu vai prevalecer. É aqui que se explica o respeito ao nosso eterno herói Zumbi de Palmares, assassinado há 326 anos resistindo, com seu povo, à escravidão.

Deixo claro que com este artigo eu não quero me conflitar com a população não afrodescendente, de origem europeia. O principal objetivo é dialogar com muito respeito, objetivando conhecermos a nossa verdadeira história, e não continuar repetindo. Somos todos brasileiros, filhos do mesmo Deus, sem nos dividirmos em virtude da opção religiosa.

Finalmente penso que o 20 de novembro, Dia nacional da consciência negra, tem que ser lembrado ainda com muita tristeza, pois é possível ver que a população preta ainda continua em condições de profunda desigualdade racial, social e econômica. Zumbi de Palmares vive! Viva Zumbi de Palmares!

(*) Walter Miranda é presidente do Sindifisco-Nacional/Delegacia Sindical de Araraquara, direto do SINSPREV-Sindicato dos Trabalhadores nos Serviços Públicos de Saúde, Previdência e Assistência Social do Estado de São Paulo, e militante da CSP Conlutas – Central Sindical e Popular.

** As opiniões expressas em artigos são de exclusiva responsabilidade dos autores e não coincidem,necessariamente, com as do RCIARARAQUARA.COM.BR