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O eleitor ainda quer o candidato em casa e levar tapinha nas costas

Por Ivan Roberto Peroni

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A onda que levou o presidente Jair Bolsonaro a ser eleito, formada pelas redes sociais é bem diferente – dois anos depois – do que estamos vendo nas eleições em Araraquara, onde a figura do candidato foge praticamente da questão que os concorrentes denominam – necessidade da mudança. O que se observa então é que, nem partido, nem militância terão tanta influência na escolha do futuro prefeito e em quem o eleitor pretende votar.

Essa definição tem recaído sobre a pessoa, sobre o homem, o ser humano. Ledo engano dizer que o eleitor vai votar porque o partido tal lhe inspira confiabilidade. O eleitor quer votar no cara, naquele que está a sua frente, olhos nos olhos. Daí, entendemos que a peregrinação do candidato pelos bairros, batendo de porta em porta, tomando café ou um Tang, comendo bolo de fubá ou pão com manteiga, prá nós interioranos ainda tem um incrível poder de convencimento sobre o eleitor e o voto.

Qual o eleitor que ao receber a visita de um candidato a prefeito na sua casa não terá motivos para comemorar? Vai falar dessa visita no seu trabalho, para sua tia, seu avô, tio, enfim, vai fazer um estardalhaço muito maior que o tempo disponível dentro do horário gratuito poderia fazê-lo.

Nós que vivemos em uma cidade de porte médio ainda temos este hábito, este costume. É verdade que há um público que não pensa assim, se preocupa com plano de governo, propostas;  as vezes vai mais além optando por algum tipo de benefício, reivindicações individualizadas e nunca coletivas, transformando o seu voto em uma arma capaz de ser disparada contra a própria sociedade.

As redes sociais têm influência na conduta do eleitor? Tiveram no caso de Bolsonaro, ineditismo, uma eleição onde o candidato não poderia estar em todos os lugares ao mesmo tempo dada a enorme extensão territorial do país. Só que nós estamos em Araraquara, demarcada em uma área de mil quilômetros quadrados, menor que São Carlos, maior que Jaú e Bauru. Com seus 100 bairros, Araraquara é até mesmo fácil de ser dividida e ter suas regiões colocadas à disposição de qualquer candidato para visitas. Lembro-me que Marcelo Barbieri sempre foi um especialista em bater de porta em porta, disposto amassar barro, panfletar nas portas de fábricas e o vejo na minha leitura um maluco por política desde os anos 80 quando saiu candidato a deputado. Tem méritos nesta sua caminhada.

Mas quando vejo candidato acreditando que as redes sociais ou os programas políticos farão a diferença e elegerão prefeito e vereadores, entendo como piada. Eleitor de cidade como a nossa quer receber o candidato em sua casa, levar um dedo de prosa, se sentir valorizado, mesmo porque como pessoa simplória se sentirá orgulhosa, importante ao apertar a mão do candidato, até em levar um tapinha nas costas.

O que existe no rádio, na televisão, nas redes sociais de positivo para um candidato interiorano não representa mais que 15% em uma campanha política. 85% estão relacionados aos contatos, visitas, café com açúcar, sem açúcar, ki-suco, Tang, bolo de chocolate em casa, churrasquinho, cachaça em buteco. Este é o nosso eleitor no interior. Alguns vão contestar – mas estes infelizmente não terão tempo para retroceder, são acomodados e ficaram na esperança de que os marqueteiros poderiam mudar os hábitos do seo Zé da Esquina ou seo João Ninguém.

Ainda não. Estes têm os seus pensamentos próprios. De receber o candidato em casa e votar.

*Ivan Roberto Peroni, jornalista e membro  da ABI, Associação Brasileira de Imprensa

**As opiniões expressas em artigos são de exclusiva responsabilidade dos autores e não coincidem, necessariamente, com as do RCIARARAQUARA.COM.BR