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O futebol feminino é de todos, não o que a grande mídia quer

Por Rafael Zocco

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A Seleção Brasileira Feminina de Vadão ficou para trás depois de cair para anfitriã França na última Copa do Mundo. O lugar deixado por ele foi preenchido pela sueca Pia Sundhage, um bom nome em que a CBF aposta para um (res)surgimento de uma seleção que sempre teve jogadoras bastante promissoras, mas que nunca chegaram ao seu ápice com a camisa amarela, claro que com as exceções de Marta e Cristiane.

O mais esperado momento para imprensa e torcida aconteceu na semana passada, quando foi anunciada a convocação para a disputa de uma competição amistosa, o Torneio Uber Internacional de Futebol Feminino, que será disputado no estádio do Pacaembu, em São Paulo. Para a surpresa, boa parte do elenco que disputou o Mundial foi mantida, inclusive Marta, mas com algumas caras novas, como no caso da volante Yaya, de apenas 17 anos, que atua no São Paulo.

Porém, a volante Thaisa, que está no Real Madrid e foi uma das remanescentes da Copa, teve que ser cortada devido a uma lesão muscular. Em seu lugar, para surpresa novamente de todos, a meia-atacante Aline Milene, da Ferroviária, foi convocada e se apresentou nesta segunda-feira, em São Paulo, para início dos treinamentos com a Seleção.

Em meio a esta convocação, muitos esperavam alguma jogadora de Corinthians ou Santos, principais times do momento no país, para completar a lista dos convocados, mas parece que o nome não foi digerido por parte da “imprensa especializada”, o que terminou no principal assunto futebolístico do dia.

A Jornalista Ana Thais Matos, do SporTV, fez uma publicação em seu Twitter sobre a convocação da jogadora grená:

Seria mais uma postagem sobre a ausência de jogadoras que teriam maior potencial de estarem presentes na seleção, mas o comentário deu a entender que “se não tiver Ferroviária no currículo, não entra”, insinuando que poderia existir algo entre CBF e o clube, causando um reboliço na rede social.

Utilizando a sua conta, a Ferroviária respondeu a jornalista na tarde desta segunda-feira e deu uma aula sobre como funciona o futebol feminino dentro da agremiação.

A rede foi a loucura e ganhou muito apoio de torcedores da Ferroviária, de outros clubes e de quem prestigia o futebol em geral. Apesar de ter se expressado muito mal, Ana Thais , em resposta, não largou o osso:

Vamos lá. Um clube que trabalha com o futebol feminino desde 2001 e se mantém de forma sólida, não precisa de propaganda, e sim de trabalho e esforço para se manter, ainda mais se tratando de um clube de futebol no interior.

Não podemos esquecer que toda vez que mencionamos Seleção, a memória de quem trabalha com Ferroviária vem com a maldita “Seleção Permanente”, criada em 2015 pela CBF. Aquilo esfacelou o clube de Araraquara. Foram SETE jogadoras CEDIDAS para confederação. Reparem a data da notícia: 20 de janeiro de 2015.

Oito meses e cinco dias depois, a CBF fez um draft com “suas” jogadoras para serem emprestadas para as quadrifinalista do Brasileirão daquele ano. E a Ferroviária, que havia cedido boa parte, não estava entre as classificadas. Talvez não tenha sido um motivo de surpresa ou até mesmo de comoção nacional com o clube tendo que convocar jogadora de 16 anos que jogava futebol de salão para a disputa da Libertadores da América, quando com mérito e muita raça, faturou o caneco. Como foi no Twitter de muitos profissionais da “mídia especializada” que tentam insinuar algo? Acho que zero aparições. Lembrando que a rede social do passarinho azul surgiu em 2009.

Aline Milene, de 25 anos, possui apenas oito jogos na Seleção, como a própria Ferroviária informou. Fez apenas um gol com a camisa amarela e tem o título da Copa América de 2018. Quando se fala de renovação, a jogadora se encaixa perfeitamente no quesito. Quem acompanha o futebol feminino, sabe o quanto Aline é uma jogadora muita habilidosa e rápida, sempre desequilibra. O que peca é a finalização. Mas estamos falando de uma Seleção Brasileira. Outras jogadoras podem fazer esse papel e a atleta pode se encaixar perfeitamente no esquema de Pia.

Fica claro o que incomoda de quem faz a cobertura da Seleção a pouco tempo. E me refiro apenas da seleção. Querem sempre a presença de nomes que fazem parte dos grandes clubes, porque vendem jornal e tem pauta para ser discutida nos programas esportivos, já que é fácil ter imagens e porque “fica do lado e é mais fácil para acompanhar”.

O interior não faz parte do “eixo”, como torcedor popular sempre fala. Podem apostar nisto. Não só de Ferroviária a Seleção viveu, mas também de São José e Rio Preto, este último é o atual vice-campeão brasileiro, mas pediu licença de disputar campeonatos este ano.

A ofensa gratuita proporcionada por muitos contra Ana Thais não pode fazer parte disso também. Mas faltou humildade e brilhantismo na hora de ouvir. Poderia ter saído por cima. Tentou se retratar, mas acabou deixando margem para erros. O jornalista não pode errar ou se equivocar na hora de informar, e se errar tem que assumir, não sumir.

Como eu havia dito no Twitter em uma mensagem para ela (mesmo que não tenha lido), o futebol feminino em Araraquara é levado muito a sério. Em termos de conquistas, tem até mais âmbito que o masculino: Campeonato Paulista, Copa do Brasil, Brasileirão e Libertadores. Não pode passar batido os feitos que a categoria conquistou não só para a cidade, mas para o Brasil.

Que possam ir mais jogadoras das Guerreiras Grenás para a Seleção e suas categorias, e de clubes que levem o esporte a sério também. O futebol feminino precisa disso, de trabalho, não de insinuações.

**As opiniões expressas em artigos são de exclusiva responsabilidade dos autores e não coincidem, necessariamente, com as do RCIARARAQUARA.COM.BR