ARTIGO
Por Luís Carlos Bedran
A Bíblia é uma coleção de antigos textos da religião cristã que influenciou a civilização ocidental nestes mais de 2000 anos. Elaborada por vários autores, está sujeita a inúmeras interpretações. Segundo o Livro de Mateus, no dia 25 de dezembro comemora-se o nascimento de Jesus, chamado Cristo, no tempo de Herodes, o tetrarca da Galileia. É uma data aproximada, mais ou menos por volta do ano 5 ou 4 a. C., o que é dito também no Evangelho de Lucas.
Coincidência ou não, é a época em que o Sol atinge o ponto extremo do equador celeste, o solstício, situado “no diâmetro da eclíptica perpendicular à linha dos equinócios”. O Sol, em seu movimento próprio aparente, corta o equador celeste, o que corresponde à igualdade dos dias e das noites.
E é lá no hemisfério norte que marca a passagem extrema desse astro, o dia mais curto do ano, o início do inverno, ao contrário do que se sucede em nosso hemisfério, o Sul, onde nessa data aproximadamente começa o verão, o dia mais longo do ano, com a duração de 13h35.
Tudo muito matemático, científico, mas que os antigos já conheciam pela observação da natureza, pelos astros.Uma época toda especial, que o mundo religioso adaptou para corresponder às suas necessidades de crença e de fé do ser humano, o que não deixa de ser uma prova da aproximação entre ciência e religião.
E foi no Oriente Médio o berço das três maiores religiões universais, o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. Dia de festa para o cristianismo, com o Natal e até o Chanucah, o Festival das Luzes dos judeus (de 2 a 10 de dezembro).
De qualquer forma, uma ocasião alegre, como todo nascimento de uma criança. Porém, onde estamos, pelo clima, calor intenso, praias, férias, ainda muito mais agradável, pelo começo do verão.
Dizem que é a festa dos presentes e mais ainda a dos comerciantes, tradição iniciada pelos três reis Magos, quando do nascimento de Cristo. Os religiosos mais ortodoxos criticam essa euforia consumista, nesse mundo capitalista, dizendo que o momento deve ser de paz, o da união entre os homens e Deus.
Entretanto, há um exagero nisso tudo. Não há porque separar a alegria da fé. A crença não deveria ser triste – pelo menos em nosso hemisfério – onde, com o verão, celebra-se a vida e esta não deve ser trágica, muito embora a religião cristã seja sinônima de sofrimento, de dor, da crença num mundo melhor do que este em que vivemos.
Mas este é o nosso mundo. Pode até ser ruim algumas vezes, mas ainda é o melhor deles. Pois é aqui onde se encontram os breves momentos de felicidade, o que todos almejam, apesar das agruras inevitáveis da vida cotidiana. Se Jesus tivesse nascido nos trópicos talvez o mundo seria bem diferente, bem menos trágico.
Mas Ele foi nascer justamente numa região desértica, propícia à reflexão, origem das religiões monoteístas, porque onde não há chuvas e o céu está sempre limpo, à noite veem-se as estrelas, o que induz ao mistério. E toda religião é sempre misteriosa.
No frio a luta pela vida é mais acirrada, mais intensa, não tem a natureza pródiga dos trópicos, não tem caça, nem pesca e menos ainda árvores frutíferas à vontade. Difícil observar o céu estrelado na floresta fechada. No Natal dos cristãos antigos, de recolhimento, de meditação, pelo inverno, inevitável uma profunda reflexão sobre os mistérios da vida e da morte, muito mais da morte do que da vida.
E as famílias recolhidas pelo frio não tinham alternativa a não ser meditar, a não ser acreditar em um ser superior, numa vida futura, a não ser usufruir o convívio junto à família, com os entes queridos.
E a comemorar o nascimento da vida, cujo filho maior para os cristãos é representado por aquele que se dispôs a se sacrificar por suas ideias – tal como o filósofo grego Sócrates – em favor da humanidade.
Um feliz Natal a todos os amigos, leitores e leitoras desta coluna.