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O racismo na base

Por Márcia Lia

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Desacostumada a questionar e a defender seus direitos, e, ao contrário, por muitas vezes contestar direitos constitucionais por não reconhecer “merecimento” no outro, parte significativa da população brasileira convive com o racismo de forma natural.

Ele está presente individualmente nas ações, no vocabulário, nos gestos, e coletivamente nos discursos oficiais e nas ações policiais, com farta produção de vítimas.

A história mostra como a elite que sempre escravizou enfureceu-se desde a contestada lei Áurea, talvez a mais burlada da história, com cada direito de negros e negras reconhecido a duras penas.

Libertaram os escravos e, na sequência, ao invés de criar programas de inclusão social fizeram leis como a da vadiagem (que no Código Penal de 1890 incluía “exercícios de habilidade e destreza corporal conhecidos pela denominação de capoeiragem”); os proibiram de frequentar escolas, perseguiram sua religião e sua cultura, os mantiveram à margem de qualquer destino que não fosse o da miséria das beiradas das cidades.

Quantas vezes ouvimos a frase “é um negro de alma branca” para expressar o “valor” de uma pessoa negra, geralmente a que ascendeu socialmente. Uma tragédia completa que busca classificar a raça humana pela cor da pele, reafirmando a crença na supremacia branca.

Como construir uma sociedade sadia sem reconhecer-se no outro?

O racismo é um mal a ser combatido minuto a minuto, a ser desconstruído a cada segundo interna e externamente. Falar e debater, propor e lutar para mais e mais políticas públicas e legislação é uma tarefa de todos nós.

O retrocesso ruidoso que nos cerca não é maior que a nossa disposição de luta e de vitória.

A defesa da democracia é também a nossa defesa contra as desigualdades e as injustiças, qualquer delas. É nossa proteção e resistência a tudo e todos que não convergem para um mundo de oportunidades iguais, um mundo onde possa se realizar sonhos de ser o que se quer ser.

Não nascemos todos para agirmos iguais, mas nascemos todos para sermos felizes. Simples assim.

*Márcia Lia, é deputada estadual (PT)

**As opiniões expressas em artigos são de exclusiva responsabilidade dos autores e não coincidem, necessariamente, com as do RCIARARAQUARA.COM.BR