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O segredo da felicidade

Por Luís Carlos Bedran

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Felicidade nada mais é do que um estado de espírito, o de possuir uma condição de equilíbrio, de satisfação pessoal perante o mundo, de estar de bem com a vida. É procurada por todos, mesmo sem o saberem, vivendo ou não em sociedade e depende do entendimento que cada um tem dela.

Felicidade absoluta e permanente não existe; o que há mesmo são breves instantes de felicidade e, sendo possível, tentar aproveitar ao máximo esses momentos. Ela tem caráter pessoal, compartilhando-a ou não com seu semelhante. Entretanto, alguns filósofos entendem que ela somente pode existir no convívio social e, por isso consideram-na até um direito, tal como exposto no século 18 em alguns Estados da Federação americana e também na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, criação da Revolução Francesa de 1789.

Mas o que queremos expor é uma ideia que evidentemente não deve ser inédita, pois o conhecimento humano é antigo e muito vasto e até nalgum lugar já foi levantada. É que essa qualidade, a de ser feliz, que sequer precisa ser a maior possível, porém mesmo a pequenina, a depender do estado de espírito de cada pessoa, pode subordinar-se a pelo menos três requisitos básicos: Saúde, Sorte e Sabedoria.

Assim a Saúde viria em primeiro lugar, porque sem ela não temos nada. Até poderíamos afirmar que, mesmo com pouca saúde, física e mentalmente, de certa forma viveríamos razoavelmente bem de acordo com as circunstâncias. Porém essa é uma característica que nem todas as pessoas conseguem ter: a da resiliência, ou seja, a capacidade de adaptação do ser humano frente aos obstáculos existentes.Então tudo irá depender de cada um.

Um outro requisito para que possamos atingir a felicidade seria a Sorte. Porque a vida não é matemática, não é racional completamente. Vai depender do acaso, dos acontecimentos que se sucedem durante o tempo, durante o transcorrer da vida, que tanto podem ser ou não favoráveis. Isso na hipótese de que o indivíduo consiga viver bastante, o que nem sempre se consegue.

É aquilo que os árabes chamam de Maktub, o destino, o que estava escrito, o que tinha de acontecer. Pois o que representa o destino, a vida, não é o jogo do xadrez, racional e matemático. É o jogo do gamão para os orientais, o Taule que não depende apenas da habilidade, do raciocínio dos jogadores e sim dos dados que são jogados no tabuleiro, do acaso, da sorte ou do azar.

Será que se não tivermos sorte em nossa existência chegaríamos a ser completamente felizes? Essa é uma reflexão filosófica que nem todas as pessoas costumam pensar e seria típica daquelas que vivem bastante, dos idosos. Porque os jovens de um modo geral, simplesmente vivem o dia a dia e nunca se sabe se conseguirão chegar um dia à velhice.

Mas as pessoas que vivem bastante podem dar muitos exemplos sobre os familiares ou os amigos que, pelas mais várias circunstâncias, acidentes, doenças, ou fatalidades que geralmente não provocaram, morreram ainda jovens. Azar mesmo. Então quer dizer que as pessoas, somente tendo saúde e sorte poderiam ser consideradas felizes?

Aí é que está a questão. Cremos que não. Ou nem sempre. Porque não bastam. Ainda precisamos possuir um terceiro elemento, justamente para administrar ambas, tanto a saúde como a sorte. E que é a Sabedoria. Porque precisamos conduzir a sorte com sabedoria, o que não significa inteligência, desde que, obviamente, tivéssemos saúde.

Meu amigo Manoel José Caldas dos Santos, o Neco, dos velhos tempos do IEBA, faz uma analogia com o pensamento de Al-Khwarizmi, o Pai da Álgebra, um filósofo árabe. Ele pontuava o valor de um homem, considerando para a Ética o dígito 1; para a inteligência, agregava o 0, ou seja 10; para a Riqueza, acrescentava mais um zero, 100 e depois mais um zero para a Beleza, num total de 1.000. Mas se a ética não estivesse presente, nada mais teríamos.

Então, da mesma forma, a saúde vem em primeiro lugar; a sorte, em segundo e para completá-las, em terceiro, a sabedoria, somando 100. Assim, se não tivéssemos saúde, sorte e sabedoria inexistiriam.

Assim, o ser humano tendo saúde e sorte, mas sabendo geri-las com sabedoria, que pode incluir a inteligência — no que nos diferenciamos dos outros seres vertebrados ou invertebrados, os quais ainda desconhecemos o quanto eles são, se são, inteligentes — podemos chegar à conclusão de termos encontrado o segredo da verdadeira felicidade.

**Luís Carlos Bedran, é sociólogo e cronista da Revista Comércio, Indústria e Agronegócio de Araraquara

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