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O tempo não vai apagar

Por Giovani Peroni

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A década de 80 foi um marco não apenas cultural, mas também criativo no Brasil. Uma época em que a publicidade ganhou ares de espetáculo e conquistou seu espaço na memória coletiva através de slogans inesquecíveis, daqueles que grudavam na mente e atravessaram gerações. Eram frases curtas, inteligentes e carregadas de emoção, capazes de transformar produtos em ícones da vida cotidiana.

Quem não se recorda do singelo e divertido “Danoninho vale por um bifinho”, que aproximava o universo infantil da mesa das famílias? Ou do alívio imediato prometido pelo certeiro “Tomou Doril, a dor sumiu”? A propaganda não apenas vendia, mas criava laços afetivos: “Bonita camisa, Fernandinho!” ainda arranca sorrisos de quem viveu aquela época.

As bicicletas viraram sonho de consumo com o recado direto “Não esqueça a minha Caloi”, enquanto o debate criativo ecoava nas padarias e supermercados: “Tostines  vende mais porque é fresquinho, ou é fresquinho porque vende mais?”. Pequenos detalhes do dia a dia eram capturados com genialidade, como o simples pote de geleia que ganhava nova função no bordão “Eu como a geleia e a mãe fica com o copo”.

As propagandas sabiam brincar com a imaginação e os sentimentos: “Você se lembra da minha voz? Continua a mesma, mas os meus cabelos… Quanta diferença!” — slogan que se tornou símbolo de transformação. E quando o assunto era energia, o tom vibrante não faltava: “Super Nescau, energia que dá gosto!”.

Havia irreverência nas campanhas: “Óticas do povo, morou?”, ousadia nos recados simples como “Parece remédio mas não é”, e até uma pitada de sofisticação em “Free, uma questão de bom senso”. A publicidade também ousava sugerir sentimentos com charme: “Se algum desconhecido um dia lhe oferecer flores, isto é Impulse”.

O cotidiano tinha sua dose de reconhecimento: “Deu duro? Tome um Dreher”, e o sabor das refeições ganhava prestígio com “Caldo Maggi, o caldo nobre da galinha azul”. Havia humor na confiança: “Com Rexona, sempre cabe mais um”, e um apelo social que ecoa até hoje: “Não basta ser pai, tem que participar. Não basta ser pomada, tem que ser Gelo.”

Essas frases, tão simples e tão geniais, nasceram de mentes brilhantes como a de Luiz Briquet, ilustrador e publicitário paulista. Foi ele quem deu vida ao divertido Bond Boca, em 1984, e a personagens que marcaram a infância de milhares: o fofinho Lollo, o carismático Tigre Tony, a sapeca menininha Nhac e o inesquecível Toddynho.

Era a força da criatividade humana, pura e espontânea, que transformava produtos em histórias, slogans em cultura popular e anúncios em poesia do dia a dia. Criatividade que nascia do olhar para o mundo, do humor inteligente, da sensibilidade de entender o público.

Uma geração inteira foi moldada por esses bordões que, mais do que vender, criaram identidade, aproximaram famílias, despertaram sonhos.

E por mais que o futuro seja dominado por algoritmos e inteligências artificiais, nada substituirá a genialidade natural daqueles publicitários. Porque havia algo único ali: alma, emoção, humanidade. Mentes como aquelas, a máquina jamais vai superar.

*Giovani Peroni é professor de Educação Física Especialista em Ciências do Esporte; Treinamento Desportivo; Gestão de Pessoas; Ergonomia e Jornalista

**As opiniões expressas em artigos são de exclusiva responsabilidade dos autores e não coincidem, necessariamente, com as do RCIARARAQUARA.COM.BR