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Resgatar o passivo social

Por Marceo Solimeo

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O Brasil desenvolveu durante vários anos programas importantes visando reduzir a pobreza, especialmente por meio do Bolsa Família e de mecanismos de distribuição direta de renda para as camadas mais vulneráveis da população.

Os avanços obtidos, no entanto, foram perdidos durante a pandemia, com a volta da pobreza a níveis anteriores, com o ressurgimento da miséria absoluta, que havia sido erradicada, e o aumento da desigualdade na distribuição de renda.

Programas emergenciais são urgentes e importante, mas é preciso criar condições para permitir a superação da pobreza e da dependência, para que as pessoas sejam capazes de obter renda suficiente para satisfazer as necessidades básicas de suas famílias.

Se os avanços obtidos antes da pandemia foram um processo demorado, pois uma mudança dessa natureza não se faz em curto prazo, as perdas das conquistas obtidas foram muito rápidas, tendo sido parcialmente amenizadas pelo Auxílio Emergencial, mas sem mudanças estruturais das condições criadas pela pandemia.

Agora assistimos à volta do Bolsa Família repaginado, mas, novamente, sem medidas que possam atacar as causas da pobreza.

O mais urgente no momento, no entanto, é compensar enorme passivo social e sanitário acumulados nesses dois anos, cujo maior custo foram as mortes de milhares de pessoas, resultando, também, na desestruturação de famílias que perderam seus mantenedores, no aumento da pobreza, da fome e da desnutrição, sequelas de muitos atingidos pelo vírus que precisam ser tratadas, acúmulo de exames e tratamentos de outras doenças e distúrbios das condições emocionais de imensa parcela da população.

Além do desemprego, que em muitos casos se tornou irreversível pela destruição das vagas pela tecnologia, as novas oportunidades no mercado de trabalho exigem formação profissional.

Na educação, no entanto, talvez esteja o maior prejuízo causado pela pandemia, não apenas com a falta de aulas e desistências no período, mas, em muitos casos, a regressão no aprendizado, que já era insuficiente.

É preciso fazer um balanço abrangente desses enormes passivos social e sanitário para elaborar estratégias específicas para cada um deles, e, paralelamente, fazer um programa de curto e médio prazos para atacar estruturalmente as causas da pobreza.

O ataque a esses passivos precisa ser iniciado com urgência para que não se perca toda uma geração – as crianças e jovens de hoje – que já sofreu tanto durante a pandemia. Para que ela não tenha também seu presente e futuro comprometidos pelo descaso, a demora ou a omissão.

Na educação, um plano de emergência deveria se concentrar em oferecer uma dose de reforço nos vários níveis, de português, matemática e inglês durante o período de férias, ou com aumento do número de horas-aula, utilizando, se necessário, estudantes universitários, devidamente treinados, para procurar repor o aprendizado perdido.

Essas matérias são básicas para que se possa avançar para outras fases e, também, para o ensino profissional.

Especial atenção deve ser dada aos que desistiram da escola, seja por necessidade, por desinteresse ou qualquer outra razão, para que não se crie um contingente de “nem-nem”, que não trabalham, nem estudam, que serão um peso para suas famílias e para a sociedade.

Essa imensa tarefa deve ser articulada e realizada pelos três níveis de governo, mas, também, contar com o apoio e participação de toda a sociedade.

*Marcel Solimeo, é economista-chefe da Associação Comercial de São Paulo

**As opiniões expressas em artigos são de exclusiva responsabilidade dos autores e não coincidem, necessariamente, com as do RCIARARAQUARA.COM.BR