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Rússia está fora do tarifaço dos Estados Unidos

Por Walter Miranda

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Minha querida avó Norberta Rodrigues Miranda gostava de, geralmente nos finais das tardes, reunir os netos e netas e transmitir seus pensamentos, fruto de muitos anos de vida. Ela dizia que o leão nunca ataca o elefante porque o elefante é bem maior e mais forte que ele.

Nesse pensamento eu enquadro o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com sua arrogância e irresponsabilidade. Em apenas três meses de mandato, ele conseguiu desorganizar a economia de mais de 180 países e territórios ao redor do planeta, criando tarifas globais semelhantes ao nosso imposto de importação, prejudicando severamente as exportações dos países atingidos. Trump e seus incompetente assessores — incluindo Elon Musk — não compreendem que vivemos num mundo globalizado.

O mais impressionante é que o valentão e autoritário Trump deixou a Rússia de fora do tarifaço, enquanto manteve na lista países como a Ucrânia — enfraquecida pela guerra — e o Brasil, punidos com tarifas de 10%. No ensinamento da minha avó Norberta, Trump é o leão que se aproveita dos mais pobres, daqueles que não têm poder bélico para enfrentá-lo, enquanto poupa o “elefante”, no caso, a Rússia.

A decisão de Trump tem provocado colapsos nas bolsas de valores dos países afetados, e o contra-ataque tem vindo em forma de novas tarifas sobre produtos americanos, gerando aumento de preços, desemprego, inflação. Com isso, os Estados Unidos deixam de contar com um mercado global de oito bilhões de consumidores para depender apenas de seus 300 milhões de habitantes. O Federal Reserve (FED), equivalente ao Banco Central do Brasil, já alerta que Trump, governante de extrema-direita, pode provocar uma grande recessão e comprometer o crescimento econômico do país.

Para justificar o caos que vem provocando, Trump afirma que pretende transformar economicamente o mundo em benefício dos trabalhadores americanos. Promete que, em um prazo não muito longo —embora não diga qual —, tudo irá melhorar nos Estados Unidos, país que, segundo ele, estaria sendo prejudicado pelo crescimento acelerado de outras economias. Ele cita como exemplo a China, cujo Produto Interno Bruto tem crescido a taxas invejáveis. Por outro lado, o governo chinês tem criticado duramente essa estratégia, como mais uma evidência do declínio dos EUA.

A preocupação maior é que essa guerra econômica vem sendo usada como demonstração de força pelo país com o maior PIB do mundo e um dos exércitos mais bem equipados do planeta. Na opinião de diversos governantes, isso pode se transformar numa terceira guerra mundial. Onde isso vai parar?

Nesta guerra comercial, que vem se intensificando a cada dia, o segundo país mais rido do mundo, a China, decidiu atacar os EUA taxando as compras daquele país em 34%. O arrogante Trump, no entanto, ameaça retaliar com tarifas superiores a 50% sobre produtos comprados dos chineses.

Trump ignora os efeitos de sua ofensiva comercial, que já provocou quedas acentuadas nas bolsas de valores ao redor do mundo, inclusive nos Estados Unidos, gerando um clima de pânico. Os lucros das empresas norte-americanas despencaram. Em protesto, milhares de trabalhadores e cidadãos saíram às ruas no último dia 5 de abril, em mais de 1.200 localidades nos 50 estados dos EUA, além de diversas cidades na Europa. 

Foi difícil entender por que o valentão e arrogante Trump não incluiu a Rússia entre os países atingidos pelo tarifaço. Tem que entender as contradições do capitalismo criticadas por Karl Marx. Talvez isso apenas confirme o que minha avó Norberta Rodrigues Miranda dizia: o leão pode até ser o rei da selva, mas nunca ataca o elefante.

(*) Walter Miranda, graduado em Economia e Contabilidade; mestrado em Ciências Contábeis pela PUC/SP; pós-graduado em Gestão Pública pela UNESP/Araraquara, militante do PSTU e da CSP-CONLUTAS Central Sindical e Popular.

**As opiniões expressas em artigos são de exclusiva responsabilidade dos autores e não coincidem, necessariamente, com as do RCIARARAQUARA.COM.BR