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Se o governo não conter altas de juros, Brasil pode quebrar!

Por Walter Miranda 

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Nesta disputa polarizada entre Jair Bolsonaro e Lula rumo à presidência do Brasil, tem sido difícil ter diálogos respeitosos sobre a conjuntura política, principalmente com as despolitizadas, consideradas como tal as que não entendem, por exemplo, que não basta elegermos um salvador da pátria. É importante saber se o perfil ideológico e a história de vida do candidato se adequam à sua ideologia.

É sabido que economia não é uma ciência exata. Assim, se colocarmos frente a frente diversos economistas, com certeza veremos opiniões diferente sob o ponto de vista das identificações dos governantes responsáveis pelo absurdo endividamento do Tesouro Nacional nos últimos anos, e consequentemente pelo montante dos altos juros pagos aos credores da dívida que, beneficiados pelas altas taxas de juros no governo Bolsonaro, que subiu muito em 2021 e vem endividando ainda mais o país.

Infelizmente o analfabetismo político leva as pessoas a pensar que a solução é votar num salvador da pátria que vai resolver os seus problemas. Elege e fica esperando o milagre. O diálogo fica ainda mais difícil, quando o nível de formação educacional, cultural da pessoa o leva pensar que é normal, por exemplo, ainda termos brasileiros dormindo na rua e passando fome num país com 8 milhões e 500 mil quilômetros quadrados.

Penso que um dos principais, senão o principal, motivos para a profunda crise de estagflação (inflação com estagnação) que estamos vivendo, é a alta taxa de juro cobrada pelo sistema financeiro, endividando 70% da população. Neste universo pelo menos 40% veem mensalmente significativa dos seus salários, fruto dos seus trabalhos, serem usurpados pelo sistema financeiro que nada produz. Tudo isso junto com o arrocho salarial dos trabalhadores, e tudo que o “diabo” adora.

É normal as pessoas endividadas se culparem pelo uso do cartão de crédito até para comprar alimentos. Estimulados parcelam as compras, sem entender que são vítimas da crise econômica, do desemprego, do arrocho salarial. Não conseguem pagar mensalmente os valores devidos, caem no golpe do pagamento mínimo, e passam a pagar taxas de juros mensais de até 23% ao mês, ou 350% ao ano. São vítimas da política monetária e fiscal praticada pelo governo Bolsonaro/Paulo Guedes, que gera inflação, forçando as pessoas a se endividar para não morrer de fome.

A taxa de juros, no regime capitalista, é definida como o preço do dinheiro num determinado período. No ano de 2020 e 2021 a taxa de juros fixada pelo Banco Central, uma das mais altas do mundo, tem representado gastos relevantes às pessoas.

Sob o ponto de vista macroeconômico, é sabido que não podemos continuar suportando o preço do dinheiro emprestado ao Tesouro Nacional. Com as taxas de juros nas alturas, o consumidor foge do endividamento, por exemplo, para comprar um veículo e pagar parcelas altas de financiamento a médio e longo prazo.

Com os consumidores empobrecidos, portanto sem poder de compra, as vendas despencaram afetando os capitais de giro das pequenas e médias empresas. Esta política só enriquece os rentistas e banqueiros nacionais e internacionais, que nada produzem.

No ano de 2021 o aumento da taxa de juros, segundo o governo Bolsonaro/Paulo Guedes, para tentar conter a inflação não pesou somente nos bolsos dos brasileiros, mas também no aumento das despesas com juros da dívida da União, que cresceu R$ 136 bilhões em relação ao montante pago no ano de 2020. A taxa Selic que era 2% ao ano em 2020, foi alterada pelo governo Bolsonaro para 9,75% no ano de 2021, e prevê-se que poderá atingir mais de 12% neste ano em 2022.

Para terem ideia da gravidade da situação, nos anos de 2019 a 2021 (Governo Bolsonaro), incluindo os dois mais graves anos com a pandemia da Covid-19, o Brasil gastou R$ 1.128.312 trilhão com o pagamento de juros sobre a dívida pública. Só no ano de 2021 o gasto com juros foi R$ 448 bilhões.

A título de comparação, no mesmo período, o Governo Federal gastou apenas R$ 437,7 bilhões com Saúde. Não precisa ser um expert em economista para entender que, se não contermos as altas taxas de juros, a curto o médio prazo o país pode quebrar.

(*) Walter Miranda é presidente do Sindifisco-Nacional / Delegacia Sindical de Araraquara, diretor do SINSPREV-Sindicato dos Trabalhadores nos Serviços Públicos de Saúde, Previdência e Assistência Social do Estado de São Paulo, e militante da CSP Conlutas – Central Sindical e Popular.

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