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Voto útil não coloca fim na crise brasileira

Por Walter Miranda

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Na semana retrasada um story postado na rede social Instagram pelo jovem professor, ator e Youtuber Guilherme Lima Pereira, causou muita polêmica, principalmente entre os eleitores do Lula, que caíram de pau em cima do jovem.

Guilherme criticou a aliança de Lula/Alckmin, bem como a omissão do programa do Lula em relação a temas relacionados à reforma trabalhista. Aumentou a polêmica quando o Guilherme recomendou voto na candidatura da pré-candidata do PSTU, Vera Lúcia, como a mais importante na linha ideológica, socialista e revolucionária capaz de atender os interesses dos trabalhadores.

Diversos eleitores lulistas consideram “irresponsável” Guilherme chamar voto no PSTU no primeiro turno, pois significaria dar ao Bolsonaro a oportunidade de ir para o segundo turno, correndo o risco da ameaça golpista de Bolsonaro se concretizar. Alguns afirmaram que a aliança Lula/Alckmin é útil para eleger mais facilmente o Lula.

De fato, sob o ponto de vista eleitoral, a política de alianças e construção de um governo de coalizão com a direita, linha política adotada pelo PT apoiado pelo PSOL, não deixa de ser legítima e compreensível. Essa mesma tática ocorreu na eleição e reeleição do Lula em 2003 e 2007, e da Dilma em 2011 e 2015. Fica a pergunta: conquistamos, de fato, o sonhado governo dos trabalhadores planejado nos anos 80? É claro que não.

Estamos mergulhados numa crise econômica e social profunda. É sabido que aproximadamente 90 milhões de pessoas chegam ao final do dia com fome, porque estão desempregadas ou subempregada, ou porque estão em estado de profunda pobreza, morando nas ruas. Quem está empregado ou aposentado não é remunerado adequadamente para suprir as suas necessidades básicas, dentre outras: alimentação, saúde, habitação, vestuário, lazer.

Penso que, sem acabar com os privilégios de poucos que se fartam com lucros excessivos, dentre eles os grandes empresários, os banqueiros – enfim, os bilionários e super-ricos -, a promessa do Lula de possibilitar à classe trabalhadora pobre voltar a comer churrasco pelo menos no final de semana, na minha opinião, não passara de mera promessa eleitoral.

Por favor, não me considerem radical, mas alguém com formação econômica e contábil suficiente para analisar a crise que, desde o impeachment da Dilma, vem cada vez mais acabando com o Brasil, endividado e destinando recursos bilionários para banqueiros e outros especuladores financeiros, principalmente após a gestão do atual Governo.

Eu poderia, como sempre tenho feito, encher este artigo de números para comprovar o que estou afirmando. No entanto, deixo de fazê-lo para não cansar os leitores. Não acredito que Lula e Alckmin vão derrotar o golpismo, e a ultradireita elegendo Lula no primeiro turno. O pior virá depois da eleição, pois o bolsonarismo continuará influenciando politicamente pelo menos 30% da população, comprometendo a governabilidade.

Entendo que a ameaçada de golpe, com o apoio dos militares, não passa de blefe. Não estamos em 1964, mesmo porque a cibernética, a robótica e a informática avançada estão aí para denunciar, em segundos, via redes sociais e outros meios de comunicação, as atitudes desonestas dos eventuais golpistas.

Os petistas não devem se preocupar com o pequeno PSTU, ou se sentir ameaçados com a humilde candidatura socialista e revolucionária da Vera Lúcia, mulher, operária e a única preta num país com quase 60% da população afrodescendente. Devem, sim, se preocupar com a ultradireita numa eventual vitória do Bolsonaro. Nos Estados Unidos, num cenário de crise e inflação, os Republicanos, sob a liderança de Donald Trump, aparecem como favoritos para as próximas eleições.

Não basta o voto útil numa eleição polarizada para acabar com a fome, a desigualdade social, o desemprego e a precarização nas relações entre capital e trabalho. É ilusão prometer comida três vezes ao dia para a população pobre e excluída, a conquista da liberdade democrática somente através de eleições dominadas pelo poder econômico, tendo à frente justamente quem se beneficia com esse injusto e excludente sistema capitalista.

*Walter Miranda, Vice-presidente do Sindifisco Nacional-Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil/Delegacia Sindical de Araraquara, Diretor do SINSPREV-Sindicato dos Trabalhadores Públicos em Saúde e Previdência do Estado de S. Paulo, militante da CSP

**As opiniões expressas em artigos são de exclusiva responsabilidade dos autores e não coincidem, necessariamente, com as do RCIARARAQUARA.COM.BR CONLUTAS-Central Sindical e Popular