As ações de enfrentamento da pandemia da covid-19 devem ser regionais, defende o especialista em epidemiologia Alexandre Medeiros de Figueiredo, que é um dos consultores do Comitê de Contingência do Coronavírus instituído pela Prefeitura de Araraquara. O pesquisador tem colaborado com o Município desde abril de 2020. Segundo ele, o alto índice de internações de pacientes de outros municípios preocupa a ocupação de leitos para as próximas semanas.
Alexandre Medeiros de Figueiredo é professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), mestre em Epidemiologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e doutor em Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Medeiros foi um dos primeiros pesquisadores brasileiros a se especializar em coronavírus. Ele estava trabalhando com pesquisas em SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave), na Espanha, quando a pandemia mundial de covid-19 “explodiu no mundo”. Enquanto pesquisador, teve a oportunidade de acompanhar todo o desenvolvimento da doença e acumular muitos estudos sobre o coronavírus.
“Analisando os números, é possível afirmar que, entre fevereiro e março, as internações eram, em sua maioria, de pessoas residentes na cidade de Araraquara. A partir do decreto do lockdown, houve uma capacidade de controle da doença e uma redução das internações. Isso foi bastante positivo e evitou um colapso do sistema sanitário. Entretanto, o que vimos é que o lockdown ajudou a conter a pandemia em Araraquara, mas os outros municípios ao redor não tiveram as mesmas ações. O que ocorreu foi um aumento das internações vindas de outros municípios”, explica Alexandre.
O especialista cita estatísticas do boletim epidemiológico do último domingo (23) para demonstrar sua análise. “Dos pacientes internados em UTI em Araraquara, 35 são de Araraquara e 53 são de outros municípios. Essas 88 pessoas representam uma ocupação alta, de mais de 90%, e nos coloca uma grande preocupação para o futuro”, afirma. Nesta segunda-feira (24), a ocupação de leitos de UTI de outros municípios chegou a 57% dos internados (52 pacientes do total de 91).
“Há uma tendência, de novo, de aumento de casos. O sistema já está muito sobrecarregado. Não estamos falando de um sistema que tem capacidade de receber muitos pacientes, porque já está trabalhando no limite. Qualquer aumento que houver daqui para frente, ele vai gerar um risco de colapso dentro do sistema de saúde do município. Se medidas não forem tomadas agora, muito provavelmente, a gente verá um aumento das internações. E essas medidas não podem ser tomadas apenas no município de Araraquara. Precisam ser tomadas em âmbito regional para que a gente controle a situação em Araraquara e nos municípios do entorno”, complementa o especialista.
Pela própria dinâmica de contaminação pela covid-19, os resultados do isolamento social ou do aumento de casos demoram semanas para serem notados. O mesmo ocorre quando há aumento de casos, que se refletem em novas internações algumas semanas após as infecções.
“Quando houve aumento do isolamento, com redução da mobilidade durante o lockdown e no feriado prolongado [da Páscoa], 1 mês depois nós vimos queda nas internações”, explica Alexandre. “Para o próximo período, a gente espera uma pressão sobre o sistema. Nossa preocupação é de que a pressão seja maior do que o sistema possa aguentar. Por isso, é importante tomar as medidas cabíveis, junto com a sociedade, para não ter um quadro de agravamento dessa situação que já é preocupante”, finaliza.
NOVAS MEDIDAS
Desde esta segunda-feira, um novo decreto municipal publicado pela Prefeitura intensifica as medidas de testagem e de rastreio de comunicantes como forma de controlar a evolução da pandemia da covid-19 em Araraquara.
As novas medidas seguem orientação de diversos especialistas em saúde pública, como é o caso de representantes da OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde), órgão vinculado à OMS (Organização Mundial da Saúde).
O novo decreto ainda estabelece que, para que os segmentos econômicos de Araraquara continuem abertos para atendimento presencial, a taxa de positividade para covid-19 nos testes não pode ultrapassar de 30% dos pacientes sintomáticos (aqueles que buscam os serviços de saúde) ou de 20% nos testes em geral (contando sintomáticos e assintomáticos) por três dias consecutivos ou por cinco dias alternados dentro de um prazo de sete dias de intervalo.
Caso esses índices sejam ultrapassados, a abertura das atividades econômicas será suspensa para o controle da pandemia pelo prazo de, no mínimo, sete dias. O retorno dessas atividades ocorreria após três dias consecutivos com taxa de positivação abaixo de 20% no caso dos sintomáticos ou de 15% na testagem geral.