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Araraquarenses fumam muito mais na pandemia

Fumante chegou a dobrar o consumo no final do ano passado

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Marcos Gibran fumava um maço de cigarros por dia no início do ano passado e dobrou o consumo neste começo de 2021

Marcos Roxo Gibran, 56, completa 43 anos de fumante em fevereiro de 2021. Tendo o cigarro como companheiro desde os 13 anos, no início do ano passado ele consumia quase um maço por dia. Devido a um problema de saúde, ele até acabou diminuindo essa quantidade nos primeiros meses de 2020, passando para um maço a cada dois dias, ou seja, dez cigarros diários.

Com a quarentena, sem trabalho formal, ele acabou ficando em casa e, embora a recomendação médica fosse para cessar definitivamente o tabagismo, ele não conseguir controlar o consumo, ampliando a quantidade para dois maços, ou 40 cigarros, por dia, a partir do final de novembro.

“Preciso parar de fumar por uma questão de saúde, mas nos últimos meses a ansiedade e a insônia fizeram com que eu fumasse ainda mais”, avalia Gibran. Como ele, muitos outros brasileiros encheram seus pulmões com mais fumaça. Atualmente, entre 16 e 18% da população são fumantes.

A retomada do crescimento nas vendas de tabaco se deu no final de 2019, depois de uma década que registrou queda de 30% nas vendas desse mercado, que enfrentou leis, restrições e movimentos antitabagistas.

Segundo a reportagem apurou, em 2020 foram vendidos no país 56 bilhões de cigarros, 9,8 bi a mais do que em 2019, quando 46,2 bi de cigarros foram comercializados. As empresas que mais vendem atualmente no Brasil são a inglesa Souza Cruz, a suíça Philip Morris e a japonesa Japan Tabaco. Várias pequenas empresas nacionais juntas também ficam com uma pequena fatia do mercado.

Em Araraquara, entre as marcas que mais vendem, estão as que pertencem à categoria de baixo preço (de R$ 5 a R$ 6,25), como a Rothmans (Souza Cruz).

Os pontos que mais vendem na cidade são as lojas de conveniência do Posto Caravan e do Posto Ipiranga da Av. 36 (em frente ao açougue Borsari). A padaria Pão da Terra também registra boa saída de maços.

Historicamente, a cidade registra um grande consumo de tabaco desde o século passado. No livro “Para uma História de Araraquara”, de Rodolpho Telarolli, a Souza Cruz S/A e a Philip Morris Marketing S/A aparecem com destaque entre os 10 maiores contribuintes do imposto no ano de 1999, com base nas declarações do ano de 1998, ao lado de empresas como a Lupo S/A, a Nestlé do Brasil Ltda, a Refrescos Ipiranga S/A e a Sucocítrico Cutrale Ltda.

FATORES DE CRESCIMENTO

Em 2020, foram vendidos 9,8 bilhões de cigarros a mais do que em 2019

A RCIA questionou distribuidores da cidade, que preferiram não se identificar, sobre os motivos do crescimento nas vendas das grandes marcas em 2020 em relação a 2019.

De acordo com eles, além da pandemia, outros fatores incrementaram as vendas dos grandes. Entre eles, o fechamento das fronteiras e o aumento das fiscalizações foram determinantes, pois dificultaram a circulação dos produtos contrabandeados do Paraguai, que entram no país sem regimento de impostos.

Segundo dados de 2019, o Paraguai produzia volume suficiente para três  vezes o seu consumo. Assim, 2/3 vinham para o Brasil.

A alta do dólar também ampliou o mercado para as líderes do setor, pois, como a matéria-prima ficou mais cara, as pequenas fábricas de cigarro ficaram sem muita margem de lucro e foram obrigadas a subir o preço. Assim, o consumidor, em vez de escolher um cigarro das “fabriquinhas”, optou por produtos dessas grandes marcas.