Nesta quinta-feira (27), o Departamento Autônomo de Água e Esgotos de Araraquara (Daae) implantou na cidade o novo modelo de coleta de lixo, onde os coletores não são mais transportados na parte traseira do caminhão coletor (no chamado estribos), em uma medida que atende a uma determinação judicial, por meio do Ministério Público do Trabalho. No entanto, o novo modelo desagradou os próprios trabalhadores e prejudicou os serviços oferecidos à população.
Diante disso, o superintendente do Daae, Donizete Simioni, anunciou que o modelo será revisto e que novas reuniões serão solicitadas pela autarquia junto ao MP e também ao sindicato da categoria e coletores para debater a melhor forma de cumprir a determinação imposta, sem causar prejuízos aos trabalhadores e ao serviço de coleta.
Enquanto isso, o modelo antigo, mesmo que fora das determinações legais, volta a ser empregado pelo Daae para que o serviço de coleta, que sempre foi realizado com excelência em Araraquara, volte a funcionar normalmente.
DETERMINAÇÃO JUDICIAL
Em uma live transmitida pela página do Daae no Facebook na tarde desta quinta, Simioni frisou que a mudança não ocorreu por iniciativa da autarquia. “É preciso esclarecer para a população que essa alteração não foi uma vontade do Daae, até porque tínhamos uma avaliação e a população de Araraquara também tem essa avaliação de que a coleta de lixo na cidade, da forma como estava, com os coletores apoiados nos estribos do caminhão, tinha uma avaliação de 99% de aceitação e excelência por parte da população. Tivemos que fazer essa mudança por conta de uma determinação da Justiça do Trabalho, que acatou e julgou uma ação impetrada pelo Ministério Público do Trabalho”, justificou.
Ele relata que Araraquara teve de pesquisar alternativas para se adaptar à determinação judicial. “Durante esse período que estamos discutindo essa questão, nós não encontramos em nenhuma cidade do Brasil esse modelo que está sendo implantado aqui. Por isso que nós estamos tendo tanta dificuldade nessa mudança”, apontou o superintendente, que completou que nenhuma empresa no Brasil fabrica os caminhões sem os estribos, por isso foi preciso fazer uma adaptação nos veículos.
Donizete Simioni entende a intenção de reduzir os riscos dos coletores durante o trabalho, porém destaca que em mais de 30 anos em que o modelo é utilizado na cidade, nunca houve relatos de acidentes. “Essa decisão da Justiça do Trabalho foi tomada visando uma maior segurança do trabalhador, mas eu também esclareço que em Araraquara nós não temos histórico de acidentes com os trabalhadores apoiados ao estribo. Se perguntarmos ao próprio coletor, é um modelo que ele já se adaptou, ele gosta desse modelo”, salientou.
OUTROS MODELOS
Nas redes sociais, uma foto circulou durante o dia com uma sugestão de modelo de coleta em que os trabalhadores são transportados em um compartimento instalado na traseira do caminhão, onde inclusive eles vão sentados. Esse modelo, no entanto, não se encaixa na decisão judicial, segundo o superintendente. “A determinação era para não ter estribos e nenhum apoio do coletor atrás do caminhão. Existia a possibilidade de uma plataforma ou compartimento, por isso estamos pleiteando outra audiência no Ministério Público para perguntar se outro modelo pode ser aceito. Mas já adianto que na foto tudo fica bonito, porém no dia a dia a história é diferente. Temos que continuar debatendo”, sugeriu.
Donizete também revelou que quando a decisão foi confirmada, não foi sugerido nenhum outro sistema melhor que aquele usado até então. “Diante disso, fomos a campo para conferir se tem alguma outra cidade do Brasil que utiliza esse modelo com os coletores sem o estribo, e não encontramos. Nós encontramos algumas cidades que tem a coleta de lixo por conteinerização, ou seja, ao invés de o caminhão de lixo passar pegando o lixo de porta em porta, ele pega nos contêineres. Mas uma coisa é a teoria e outra é na prática”, acrescentou.
Esse sistema, no entanto, seria muito mais custoso para o município. “Hoje nós gastamos em torno de R$ 25 milhões por ano para coletar o lixo nesse modelo, aprovado pela população, com excelência de qualidade e sem acidentes. Essa conteinerização é muito mais cara e sairia de R$ 25 milhões para R$ 60 milhões. E mesmo com a conteinerização, quando o trabalhador coleta o lixo de um contêiner e vai até o outro, ele vai apoiado em uma plataforma ou no estribo do caminhão”, contou Simioni.
FIM DE SEMANA
Donizete explicou que o sistema antigo de coleta será utilizado durante o final de semana, ou seja, sexta-feira (28), sábado (29) e domingo (30), para que o serviço seja estabilizado e também pensando na saúde dos próprios trabalhadores, que sofreram com o cansaço durante o percurso neste primeiro dia de mudança. “Uma parte dos coletores se recolheram na garagem por exaustão e, provavelmente, se não tomássemos essa decisão hoje, amanhã os problemas poderiam ser maiores. Tomamos essa decisão para garantir a continuidade do serviço de recolhimento no final de semana e pediremos a audiência para a Promotoria Pública novamente”, declarou.
O superintendente pontuou ainda que trata-se de uma decisão difícil, mas necessária. “Pode ser que tenhamos alguns atrasos entre hoje e amanhã, ou até no sábado ou no domingo, mas o caminhão de lixo e os coletores vão passar para recolher todo o lixo da cidade”, concluiu.