
Tradicionalmente celebrado em 12 de outubro, o Dia das Crianças é uma das principais datas comemorativas do segundo semestre do calendário varejista. A Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) realizou a Pesquisa de Intenção de Compras para o Dia das Crianças 2025, com base nas respostas de consumidores das 27 capitais brasileiras, abrangendo diferentes faixas etárias e classes econômicas.
O levantamento, que foi analisado pelo Núcleo de Economia do Sincomercio Araraquara, a fim de avaliar o comportamento dos consumidores e identificar de que forma a conjuntura econômica atual pode influenciar as vendas na ocasião. Apesar da alta adesão, o estudo aponta uma retração no poder de compra de grande parte da população, já que o gasto médio previsto é de R$ 297, valor R$ 46 menor do que em 2024, o que impacta diretamente o volume total movimentado no setor.
De acordo com a pesquisa, 37% dos consumidores pretendem gastar mais este ano. Entre os principais motivos, estão o desejo de comprar um presente melhor (43%), a alta dos preços (37%) e a intenção de adquirir uma maior quantidade de presentes (33%). Os principais presenteados serão os filhos (as) (50%), seguidos por sobrinhos(as) (34%) e netos(as) (16%). Em média, cada consumidor deve adquirir 2,3 presentes nesta data.
Por outro lado, 12% afirmaram que irão gastar menos, justificando a decisão pela necessidade de economizar (27%), pelo orçamento apertado (26%) e pela existência de dívidas em atraso (21%). O prazer em ver as crianças felizes é o principal motivo que impulsiona as compras (32%), seguido pelo hábito de presentear pessoas queridas (22%) e pela importância simbólica da data (18%). Outros 18% afirmam que a criança “merece ser lembrada” na ocasião.
Entre os consumidores que não pretendem realizar compras, as justificativas mais recorrentes são a ausência de crianças próximas na família ou círculo de amigos (38%), o foco no pagamento de dívidas (14%) e a falta de dinheiro (12%).
PRODUTOS MAIS BUSCADOS
As categorias mais procuradas refletem uma combinação entre utilidade e desejo das crianças, com roupas e calçados liderando as intenções de compra (43%), seguidos por bonecas e bonecos (36%) e jogos educativos ou de tabuleiro (26%). Os brinquedos clássicos, como carrinhos, aviões e bolas, dividem a preferência com chocolates e doces, ambos com 17% das respostas.
Gráfico 1 – Categorias de produtos mais procuradas e suas respectivas porcentagens

CRITÉRIOS DE DECISÃO E FORMAS DE PAGAMENTO
O processo de escolha do presente mostra que o consumidor busca mais do que apenas o menor preço. Embora o valor ainda seja relevante (48%), outro aspecto interessante é a qualidade dos produtos (46%) e as promoções e descontos (39%).
Na hora de definir o presente, 30% dos consumidores priorizam a qualidade do item, acima do desejo da criança (20%) e do preço (14%). Além disso, 70% dos entrevistados destacaram o risco de acidentes como preocupação central ao comprar produtos infantis sem verificar procedência e segurança.
“O Dia das Crianças, por sua natureza simbólica e afetiva, estimula um aumento nos gastos das famílias com presentes. Contudo, a elevação na sensibilidade aos preços tem promovido uma postura mais racional de consumo. O comprador atual demonstra maior preocupação em otimizar a relação custo-benefício, priorizando produtos que conciliem qualidade e valor, em detrimento da simples busca pelo menor preço”, destaca Bruno Camacho, pesquisador do Núcleo de Economia do Sincomercio.
Em relação às formas de pagamento, 85% dos consumidores devem pagar à vista, com o PIX sendo o meio mais utilizado (50%). Entretanto, 40% pretendem parcelar as compras, principalmente no cartão de crédito (34%), em média em cinco prestações.
A pesquisa de preços também aparece como hábito consolidado: 76% dos entrevistados afirmam que comparam valores antes da compra, e 62% percebem que os produtos estão mais caros do que em 2023.
Gráfico 2 – Modalidades de pagamento e frequência de utilização

COMEMORAÇÕES E HÁBITOS SOCIAIS
O estudo revela ainda que 91% dos consumidores pretendem comemorar o Dia das Crianças, reforçando o caráter afetivo e familiar da data. A própria residência foi o local mais mencionado (37%), seguida pela casa de parentes (12%) e dos avós (7%), o que indica que a celebração tende a ocorrer em ambientes de convivência familiar. Ainda assim, atividades fora de casa também têm destaque: 13% dos consumidores pretendem comemorar em shoppings, 8% em parques de diversão e 5% em restaurantes ou almoços fora.
Mesmo entre os que admitem ter orçamento apertado, a intenção de comemorar permanece elevada, mostrando a importância simbólica da data, que ultrapassa a simples troca de presentes.
COMPROMETIMENTO FINANCEIRO
A pesquisa aponta uma preocupação com o comprometimento financeiro das famílias. Cerca de 27% dos consumidores afirmam que costumam gastar mais do que podem nesta data, enquanto 12% admitem que deixarão de pagar alguma conta para garantir o presente das crianças.
Entre os que pretendem presentear, 37% possuem contas em atraso, e, dentro desse grupo, 73% estão negativados. A principal fonte dos recursos utilizados será o salário ou renda mensal (65%). Fica evidente o empenho em presentear, contudo, os indicadores de endividamento e a tendência de comprometer despesas essenciais exige maior cautela dos consumidores.
Um fator que tem agravado o quadro de inadimplência é a taxa de juros Selic, que serve como referência para todas as outras taxas de juros do país, como as de empréstimos e investimentos. É um instrumento clássico da política monetária, e, no caso atual, está no nível mais alto desde 2006, atuando, portanto, como desestímulo ao consumo e à produção ao encarecer as linhas de crédito no país.
Gráfico 3 – Evolução da taxa Selic de outubro de 2024 a outubro de 2025

Coordenação de pesquisa: Elton Casagrande | Analista de Estudos Econômicos: Maria Clara Kirsch Junqueira | Pesquisador: Bruno H. Camacho