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Estação do Ouro em Araraquara se torna o caminho do abandono

Animais são jogados diariamente a própria sorte na subestação do Ouro, onde os moradores lutam com dificuldades para sobreviver em um local que segundo o MPF está contaminado por substância cancerígena

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A reportagem encontrou este cachorro chorando na entrada do Caminho do Ouro

Aberta em 1897, a estação do Ouro recebeu esse nome por causa do córrego do Ouro, que passa por ali. A estação estava em um local de muitas fazendas onde a maioria era cafeeira.

A Estação do Ouro, hoje em ruínas

Sempre em zona rural, até hoje, o local era isolado e servia para atos violentos como quanto ponto de fuga e esconderijo, como um fato que ocorreu nove dias depois da inauguração da estação do Ouro. Após a invasão da cadeia de Araraquara, quando um bando de pessoas arrancou as grades e mataram dois dos presos. Muitos habitantes da cidade fugiram, visto que até o promotor público da cidade fugiu para o Ouro. Foi um acontecimento que chegou até o governo do Estado, cujo presidente na época era Campos Salles.

Os cachorros estão carregados de carrapato

Hoje nas casas ao entorno da subestação do Ouro, vivem famílias que dizem ter comprado o direto de residir, lembrando que as terras pertencem a União. Local insalubre que segundo, um processo no Ministério Público Federal que tramita desde 2014, exige em suas alegações finais que a Prefeitura e União retirem as famílias e os animais que vivem no local pelo fato do solo estar contaminado com óleo ascarel, que causa grave problemas de saúde, como a formação de tumores cancerígenos.

Segundo o MPF estima-se que a contaminação tenha ocorrido quando a subestação elétrica foi desativada, há mais de duas décadas. Na época, não houve um plano de remoção e descarte dos transformadores, ficando sujeitos à degradação e saques. “A retirada dessas peças, somada ao abandono e à disposição incorreta dos componentes da subestação, podem ter acarretado o vazamento dessas substâncias no ambiente”- diz o MPF.

A todo momento aparece um cachorro novo na estrada

O Portal RCIA visitou alguns moradores que vivem de forma precária e irregularmente ao redor da antiga subestação, onde o Daae enche as caixas d água uma vez por semana para que não utilizem água do poço que segundo laudo pericial incluso no processo está contaminado.

Ivanete Alves Leitão, que mora ao lado da subestação energética com sua neta de 6 anos

Cleusa Pereira da Silva de 60 anos mora com seu filho Reinaldo, de 30 anos. Segundo ela, comprou os direitos há 8 anos dos antigos moradores. Perguntada se sabia que o local estava contaminado com substâncias que podem causar câncer, ela diz que desconhece o fato, e que nunca foi avisada de nada. Com alguns cachorros espalhados pelo quintal, ela explicou que foram abandonados por tutores e ficam perambulando pelas ruas, “quando sobra comida eu dou pra eles”, afirmou ela.

Segundo Ivanete, “ele apareceu no meu quintal comendo todas minhas galinhas”

 

Magros, machucados e famintos os animais em sua maioria transitam de uma casa para outra a procura de comida. Ivanete Alves Leitão, que mora ao lado da subestação energética com sua neta de 6 anos, diz que são dezenas de cachorros que aparecem diariamente em seu quintal. No dia em que a reportagem visitou o local, um dos cachorros, muito magro e machucado estava preso por uma corda, pois Ivanete diz que ele come todas as galinhas que ela cria, e por isso achou melhor mantê-lo preso até que um possível dono apareça, sem contar outros cães que rondavam o quintal dela. Ivanete conta que semanalmente aparece dezenas de cachorros que abandonam por ali – “eu tenho dó e ajudo como posso, outros a vizinhança também acolhe por isso tem vários pela estrada, as pessoas não tem coração abandonar os bichinhos a própria sorte”.

Muitos animais de abrigam na subestação

Ivanete recebeu a reportagem e nos acompanhou até a subestação elétrica para mostrar uma antiga caixa d´água, onde ela diz que a Prefeitura faz vistorias periódicas e coloca veneno por causa da dengue. “Eles dizem que não é para chegarmos perto daqui, mas não sei o que tem, quando mudei pra cá, tinha muita sujeira, limpei todo o meu quintal, mas deste lado não venho e também não deixo minha neta brincar por aqui”. Ela vive da pequena plantação de banana, milho e uma horta, de onde consegue com suas vendas fazer um dinheirinho, além da criação de galinhas e patos.

O cachorro estava perambulando pela via de acesso ao Ouro

*Triste perceber que pessoas, muitas vezes com condições de criar seus animais abandonam, sem pensar no sofrimento desses cachorros que só pediram um pouco de amor e carinho, se esquecem que animais se apegam aos donos e sofrem com o abandono. Deixam para que outras pessoas, que muitas vezes, lutam para sobreviver dividam com eles o pão e o amor.

Falta um olhar mais humano do poder público a aquelas pessoas que vivem em um lugar insalubre. Falta também responsabilidade de quem abandona, fiscalização e multas pesadas a quem acredita que animais são descartáveis.

Local dentro da Subestação, onde os moradores dizem que a prefeitura coloca veneno, devido a dengue

O número da ação que tramita no MPF é 0003229-28.2014.403.6120. A tramitação pode ser consultada aqui.

Íntegra das alegações finais do MPF