O casal de noivos Fábio Christinelli e Grace Kelly Pereira estava com tudo pronto para o grande dia. Salão, buffet, vestido, terno, cerimonialista, fotógrafo, chinelos para as madrinhas e mães dos noivos, enfim, todos os detalhes já estavam acertados para a festa que reuniria 120 pessoas.
O casamento seria no dia 12 de junho de 2020. Porém, em março do ano passado veio a pandemia e eles viram a situação mudar. “Foi adiado para 25 de setembro deste ano, mas ainda não tenho certeza do que acontecerá, devido a não melhora dos fatos. Pode ser que seja adiado para o ano que vem”, lamenta Grace.
De acordo com a noiva, as restrições para festas em tempos de covid-19 inviabilizam o evento. “Algumas atrações, como cabine de fotos, não seria permitido pelo fato de aglomerar e não ter como esterilizar os adereços para tirar as fotos. Alpém disso, tem o distanciamento de mesas, não sendo permitido juntar mesas com família e amigos”, completa Grace
PADRINHOS NA UTI
Situação semelhante vive João Henrique Volpato da Silveira e Bianca Braga Romão da Silva. Eles iam se casar no dia 17 de outubro do ano passado, mas acabaram mudando a data para 2 de abril deste ano. “Torcemos para não ter que adiar novamente”, conta João. Com praticamente tudo pago, eles contam que o adiamento gerou multa e inflacionamento de preços por parte de alguns fornecedores.
Além das adversidades técnicas causadas pela pandemia, eles enfrentam a tristeza de ter padrinhos internados na UTI com covid. Diante dessa situação de incertezas, a lista de convidados foi reduzida de 270 para 60 convidados. “Não queremos carregar esse peso na consciência de juntar 270 pessoas”, acrescenta.
Eles lamentam o corte na lista de convidados e querem realizar a cerimônia assim que as regras permitirem, respeitando todas as restrições impostas pelo Plano SP. “É triste demais ter de reduzir a lista, mas já cansamos de adiar, então iremos casar assim que liberar a fase laranja aqui na cidade. Quem garante que adiando para dezembro estará tudo em ordem? Quem garante que não haverá outras cepas, outras doenças que irão proibir também os eventos. Então estamos optando por realizar o evento apenas para padrinhos, pais e avós”, salienta João.
NOIVA NA LINHA DE FRENTE
Fernanda Bradbury e Gustavo Siqueira Bugada também foram obrigados a jogar a data da celebração da união mais pra frente. O casamento estava marcado para 10 de abril de 2021, mas já passou para o dia 20 de junho. “Quase todos os nossos fornecedores estão quitados, vestido e terno já estão pagos. Decoração falta apenas uma parte que o próprio fornecedor solicitou que fosse pago antes da festa, a fim de acertar com os ajudantes. Tínhamos uma lista de aproximadamente 230 convidados, mas diminuímos para cerca de 120 e estamos tentando ainda fechar no 100. Temos as duas datas reservadas, mas provavelmente a certa será em junho”, revela Fernanda, que esperou até o último minuto para alterar a data.
Enfermeira da linha de frente do combate ao coronavírus, ela se divide entre a raazão e a emoção. “Vivemos duas realidades, uma que parte do coração e outra que parte da razão. Sou uma noiva enfermeira da linha de frente direta com o covid. Ao mesmo tempo que eu desejo muito que as pessoas fiquem em casa, se cuidem e que as medidas sejam mantidas, meu coração de noiva está apertado e muito traumatizado com o sonho que se viu ser levado por esse momento. Por mais que a festa possa acontecer com os protocolos instituídos, sabe-se bem que o desejo era abraço, sorriso, dança, suor, gente que sai descalça, cansada, sabendo que foi uma festa de arrasar”, emociona-se.
Fernanda sabe que a festa não será da maneira que sonhou, pois as pessoas estarão mais temerosas e distantes, com pouca proximidade dos nossos queridos amigos e familiares e sorrisos cobertos por máscaras. “Isso se assim for possível para o mês de junho”, pondera.
FESTA COM RESTRIÇÕES
A cerimonialista Paloma Pompeu Fusco, da Praticidade Eventos, conta que 90% dos casamentos foram adiados, alguns até cancelados por conta da pandemia. “De uma média de quatro casamentos que estávamos realizando por mês, caiu para um em dezembro e janeiro, que ocorreu apenas porque estávamos na fase laranja do Plano SP. Há casais que já adiaram até cinco vezes a data.”
Ela explica que, nesses casos, todos os protocolos de distanciamento e higiene são seguidos, porém, com tantas restrições, a festa acaba perdendo em diversão, com algumas atividades proibidas nesse tipo de evento, como a pista de dança, para que a aglomeração de pessoas seja evitada.
Além disso, existe uma distância maior entre as mesas e só podem permanecer na mesma mesa pessoas que residem na mesma casa. Em relação ao buffet, ele deve ser servido obrigatoriamente por um funcionário de máscara, sendo que o convidado também deve estar de máscara.
“Por isso, os casais têm optado por adiar a data das cerimônias para poderem realizar a festa de seus sonhos da forma que desejam, já que é um investimento pessoal importante que marca toda a vida das pessoas envolvidas”, analisa Paloma.
UNIÃO SEM FESTA
De acordo com Wilian Luciano Haddad, escrevente autorizado a efetuar casamentos no 1º Cartório de Registro Civil de Araraquara, houve redução de mais de 40% nas uniões civis durante a pandemia. “Antes, em períodos normais, fazia entre 10 e 15 casamentos por sábado, em que a cerimônia era seguida de festa. Quando teve início a pandemia esse número caiu para três ou quatro. Com a flexibilização, a quantidade de casamentos registrados voltou ao normal, mas voltou a cair nas fases mais restritivas do Plano SP para uma ou duas por mês”, informa.
Porém, por ser considerado serviço essencial, os cartórios permanecem em funcionamento e muitos noivos acabam optando pela união civil mesmo sem festas. No último sábado (13), foram realizados oito casamentos no 1º Cartório de Registro Civil de Araraquara, mesmo assim, com algumas restrições de pessoas, já que é permitida a entrada de no máximo sete pessoas, que seriam os noivos, quatro padrinhos e um fotógrafo.