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Prêmio Zumbi homenageia Maria José Gregório nesta segunda

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Merendeira do CER Carmelita Garcez desde 2005, ela trabalha na Prefeitura de Araraquara há 35 anos

Maria José GregórioMaria José Gregório, homenageada nesta segunda-feira na Câmara Municipal

A sessão solene de entrega do Prêmio Zumbi, realizada pela Câmara Municipal de Araraquara, será realizada nesta segunda-feira, 12 de novembro, às 19 horas, na própria Câmara. Em sua 14ª edição, o Prêmio irá homenagear Maria José Ferreira Gregório, e é uma das atividades de destaque da programação do mês da Consciência Negra.

Maria José Ferreira Gregório, 65 anos, se considera “araraquarense de coração”, já que veio criança para a cidade, e é aqui que viveu a maior parte de sua vida. Nascida em Ibitinga, a homenageada é viúva de Edson Souza Gregório.

Maria José, atualmente, é merendeira do CER Carmelita Garcez I (desde 2005) e trabalha na Prefeitura de Araraquara há 35 anos. Começou quando o prefeito era Waldemar de Santi – época que não havia concurso e foi registrada como serviçal, depois teve o cargo mudado para merendeira.

Na creche do São José, que antes era Cristo Rei, atual CER Carmelita Garcez, Dona Maria relata que haviam três funcionários: uma cozinheira, uma para a limpeza e uma recreacionista, sendo sua função. Quando abriu o CER Carmelita 11, a mesma passou a trabalhar ainda como recreacionista e depois como merendeira.

“A creche é meu tudo”, revela, lembrando que gostaria de parar de trabalhar mesmo só quando morrer, pois sempre sente falta de tudo: dos colegas e, principalmente, das crianças.

Com uma trajetória de vida de orgulhar qualquer um, Maria José sempre foi batalhadora e conseguiu com que seus dois filhos estudassem até o Ensino Médio. Com um filho dependente químico, ela luta por dias melhores. Aliás, seus filhos são sua maior riqueza. “Ter meus dois filhos, mesmo com o problema da dependência química, é a maior alegria da minha vida”.

Maria José conta que nunca sofreu preconceito, pois sempre foi bem resolvida com sua “cor”, mas um dos seus filhos já foi vítima e, por isso, com sabedoria, sempre conversou com as crianças explicando a importância do orgulho de serem negros.

“O preconceito não leva a lugar nenhum, pois todos somos seres humanos e levamos daqui só o bem que fizemos. Todos juntos deveríamos lutar por um mundo melhor, não só para a gente, mas para nossas crianças que merecem um futuro e uma educação sem preconceitos”, finaliza a homenageada.

Prêmio – A escolha da homenageada do Prêmio Zumbi é realizada por meio de votação, através dos integrantes do COMCEDIR – Conselho Municipal de Combate à Discriminação e ao Racismo.

A escolha do homenageado leva em consideração alguns atributos, como: reconhecer e valorizar o trabalho de pessoas e entidades que lutam pela defesa dos direitos dos negros e negras e pelo combate ao racismo e preconceito étnico-racial; incentivar ações da sociedade civil em defesa dos direitos humanos e pela igualdade racial; e firmar o compromisso do Legislativo Municipal araraquarense na defesa dos direitos dos negros e negras e na busca de igualdade étnico-racial.

A presidente do COMCEDIR, Rita de Cássia Ferreira, aponta que o Prêmio Zumbi tem o intuito de dar visibilidade à população negra araraquarense. “Maria José é uma merendeira que travou todas as batalhas na criação de seus filhos, dentro de um cotidiano que oprime a mulher negra e, hoje,  dentro de um CER, acolhe as crianças negras e não negras visando a equidade no sistema educacional”, aponta.

Rita ressalta que o COMCEDIR buscou na indicação da premiação: se aproximar do espírito quilombola, dar voz aqueles que muitas vezes estão invisíveis na sociedade, dar o protagonismo a pessoas que dificilmente apareceriam como destaque de uma sociedade racista, sexista.

Vale lembrar que o Prêmio Zumbi homenageia o líder do quilombo dos Palmares, Zumbi – nascido em 1655, em Palmares, atual estado de Alagoas – uma comunidade livre formada por escravos fugitivos das fazendas. Zumbi é considerado um dos grandes líderes de nossa história. Símbolo da resistência e luta contra a escravidão, lutou pela liberdade de culto, religião e prática da cultura africana no Brasil Colonial. Por isso mesmo, a data da sua morte, 20 de novembro, é lembrado em todo o território nacional como o Dia da Consciência Negra.

A programação em Araraquara segue até o final do mês, com diversas atividades gratuitas, e pode ser acompanhada pelo site da Prefeitura.