Ao perder o filho Renato em 2003, Eudes Fernandes sentiu que parte do seu mundo desabara. Somou a força que o filho lhe dava para seguir em frente com um bar na Rua 9 de Julho e o cansaço de tantos anos atrás de um balcão, para dar adeus à profissão que abraçara.
Dezesseis anos depois estamos diante de Eudes, agora com 93 anos de idade e a mesma disposição para contar histórias buscadas nos tempos do grupo escolar de Uchoa, cidade onde nasceu e viveu parte da sua adolescência. Chegando agora aos 94 anos de vida (27/agosto), ele casou-se em 1957 com Inocência Conde Fernandes, em São Paulo, mudou-se para Araraquara no ano seguinte para cuidar de seu pai Raphael Fernandez.
O emprego conseguido com Tuffy Jorge na Feira das Meias em Araraquara foi apenas o começo para quem estava disposto a enfrentar a vida. Dois anos depois estava ele a dirigir a Cantina do Ieba que comprara em sociedade com o cunhado Ezio Fleury da Silveira, onde permaneceu por seis anos: “Um tempo de felicidade na cantina, pois convivia com os jovens e o Ieba estava despontando como uma das melhores escolas da região”, lembra Eudes.
Foi em 1969 que Eudes Fernandes estava entendendo que este seria o momento certo de investir em algo que fosse seu; deixou a Kibelanche e o agradecimento de Apparecido Dahab, o “Aparício da Kibelanche” pelos anos de convivência. Comprou um restaurante na Vila Melhado para atender os caminhoneiros que descarregavam laranja na Cutrale e por quatro anos ali ficou, até surgir a oportunidade de chegar ao centro da cidade emergente.
Com o Bar do Eudes que havia sido recomendado pelo amigo Sebastião Costa, Eudes retornou aos olhos da clientela que havia conhecido na Kibelanche: “O que não faltava pra mim, era o apoio da Inocência que fazia uma torta de sardinha jamais saboreada. Era o X da questão”, comenta ele até com certa euforia.
A esta altura, o filho Renato estava com 11 anos e crescendo foi ajudando o pai nos afazeres, detalhe que se ajustava à educação antiga dentro do meio familiar. Era praticamente um ambiente de trabalho entre Eudes, Inocência e acompanhado de perto por Tereza que durante 14 anos prestou serviços ao pequeno e agitado café.
No entanto, a morte do filho Renato com 42 anos de idade (hoje estaria com 57) e casado, o abalou: “Era ele praticamente que vinha assumindo o bar; me entristeceu e resolvi parar”, relembra. A esta altura, o outro filho Cláudio, seguia em frente com sua atividade profissional, casado com Neusa e residente em São Carlos O casal tem uma filha, chamada Maíra. Já o Renato casado com Ana, tem a filha Thaís. As duas netas simbolizavam a felicidade da família.
A VIDA COMO ELA É
Pronto para comemorar 94 anos, Eudes recorda o romantismo da 9 de Julho entre os seus dois períodos de convivência. Um deles o leva aos tempos da Kibelanche com a sede do 27 de Outubro na porta da lanchonete e de tantos outros bons vizinhos – A Esmeralda da família Saba, a Casa das Linhas com dona Olga e Juarez; a própria King Lanche, do Gordinho, ao lado da Kibelanche. São coisas, diz ele, que não dá pra gente esquecer e cada vez que lembramos, nos aprofundamos ainda mais neste tempo de alegria, amizade e fraternidade.
Da Kibelanche ao Bar do Eudes as coisas mudaram muito embora tivessem ocorrido em uma faixa de pouco menos 10 anos; ocorre que a cidade vivia um período emergente com os anos 70/80 emplacando o desenvolvimento econômico: “O que fica na gente é a saudade dos clientes, dos amigos que formamos e não há dinheiro que pague a alegria da convivência”.
Ao baixar as portas do bar em 2003, depois de 30 anos de trabalho, Eudes se vê mergulhado na companhia das noras, netas e do filho Cláudio, já com 60 anos de idade. “Na vida tudo passa”, comenta Eudes.