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Instituto Cultiva promove integração social em Araraquara com Programa Comunidades Educadoras

A entidade é dedicada à valorização da democracia e participação social, com foco na capacitação de profissionais da educação e no desenvolvimento de políticas públicas voltadas ao bem-estar coletivo

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Experiência de Araraquara serve como exemplo do potencial transformador de uma abordagem educativa integrada

O dado mais recente do IBGE (Pnad/2024) revela que quase 400 mil crianças e jovens de 6 a 14 anos estão fora da escola. Embora 94% dos alunos estejam na etapa escolar adequada, 5,4% abandonaram a escola em 2023. Além disso, 9 milhões de estudantes não concluíram o Ensino Médio, com uma maior evasão entre negros (71,6%) e na região Nordeste, onde apenas 45,6% completaram o ciclo do ensino básico. Das causas para o abandono escolar, a possível falta de interesse nos estudos (23,5%) é um dos destaques.

Resolver esse cenário vai além de realizar mudanças em sala de aula. Entender o que acontece na casa desses estudantes e descobrir os desafios que afetam sua comunidade são ações que podem trazer respostas mais efetivas. Essa é a premissa do projeto “Comunidades Educadoras”, promovido pelo Instituto Cultiva, que teve início em Araraquara em 2022 e já começa a colher frutos no município, ao mudar a vida de centenas de estudantes e suas famílias. O programa promove a integração de ações sociais com o ambiente do educando, permitindo que a escola não apenas se preocupe com o desempenho acadêmico dos alunos, mas também com o bem-estar geral das famílias.

A iniciativa, implementada pela Secretaria Municipal de Educação, parte da criação de um profissional chamado de “Articulador Comunitário”, responsável em visitar semanalmente a 

casa desses estudantes, monitorando sua condição de vida e analisando fatores que possam comprometer seu desenvolvimento. “Esses encontros são fundamentais para identificar queda na frequência escolar, sinais de abandono social, evasão, trabalho infanto-juvenil e violência”, explica cientista político Rudá Ricci, presidente do Instituto Cultiva.

Um dos relatórios do projeto exemplifica a importância desta iniciativa. Em uma das visitas realizadas por constantes faltas de uma criança, foi descoberto que ela sofria com um problema de saúde – um “furinho” no pescoço que se abria periodicamente, liberando secreção. Graças à observação da articuladora Elaine Esteves, o menino foi encaminhado imediatamente ao médico da família, que recomendou à avó da criança que a levasse ao posto de atendimento o mais rápido possível. “Se não fosse por vocês, ele ainda estaria naquela aflição. Era muito sofrimento para ele e para nós”, declara a avó do garoto.

A atuação das articuladoras comunitárias tem sido central para o sucesso do programa, proporcionando um elo eficaz entre as escolas e os demais serviços públicos, especialmente nas áreas onde faltam Centros de Referência de Assistência Social (CRAS). Para aplicar o Comunidades Educadoras, se equalizou o calendário do projeto com o cronograma educacional do município, realizou a formação dos articuladores comunitários, assim como a sistematização e análise dos dados coletados nas visitas. Também levou a discussão e os encaminhamentos detectados pelo projeto às escolas e aos órgãos de assistência social e saúde. 

O impacto do programa tem sido significativo, trazendo melhorias expressivas na comunicação entre profissionais da educação e famílias. As 33 escolas participantes, que antes se concentravam majoritariamente nas atividades em sala de aula, agora adotam uma visão mais ampla, reconhecendo as múltiplas dimensões das vulnerabilidades dos estudantes, que vão além do simples monitoramento da frequência escolar.

“Após a chegada da professora educacional em nossa escola, eu consegui focar mais nas questões pedagógicas, antes eu só apagava incêndio”, afirma Thaiza Mattos, diretora da escola, CER Prefeito Clodoaldo Medina. Ela avalia que essa colaboração tem permitido que a educação se torne um ponto focal na rede de apoio às famílias, ultrapassando a simples relação com os alunos, tornando esse acompanhamento mais próximo e integrado conforme a necessidade de cada estudante.

Além das visitas domiciliares, as escolas participantes criaram Comitês Gestores Regionais, compostos por representantes sociais dos bairros, para definir os encaminhamentos dos casos observados. “Essa estrutura fortalece o protagonismo da educação no contexto social, promovendo uma visão mais ampla e integrada dos desafios enfrentados pelas crianças e suas famílias”, acrescenta Castellari.

Outro ponto de destaque foi a criação de canais de comunicação mais eficientes, como grupos de WhatsApp que conectam representantes da saúde, assistência social e educação, permitindo uma resposta mais rápida e coordenada às necessidades emergentes.

Para a articuladora Kátia Cristina, uma das experiências mais marcantes foi a visita à casa de uma senhora responsável por cuidar de duas crianças, ambas no espectro autista. Uma delas, com grau de suporte nível 3, estava sem tratamento médico e sem acesso à medicação, o que resultava em frequentes faltas à escola. Após a visita, a responsável pela criança procurou Kátia para compartilhar a boa notícia: “Consegui um especialista, nosso pequeno está mais calmo e logo voltará a estudar”, disse.

“A experiência de Araraquara serve como exemplo do potencial transformador de uma abordagem educativa integrada, que busca construir uma rede de proteção eficaz e acolhedora para todas as crianças e suas famílias”, avalia Castellari. “Para nós, do Instituto Cultiva, é muito gratificante contribuir para o desenvolvimento dos alunos e auxiliar as famílias sobre as questões do seu cotidiano. Queremos que os estudantes tenham um ambiente mais acolhedor, onde possam relatar suas dificuldades e contar com o apoio dos integrantes da escola e da família”, finaliza.