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Músicos de Araraquara relatam dificuldades na pandemia

Redução do horário de bares e restaurantes durante a semana e fechamento aos finais de semana estrangulam ainda mais a categoria

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André Peres: seis meses parado e metade dos shows semanais durante a pandemia

Com a redução de eventos e do horário de funcionamento dos bares e restaurantes em Araraquara, músicos da cidade perderam muitas oportunidades de trabalho durante a pandemia. Quem dependia exclusivamente dos shows, chegou a parar totalmente por pelo menos seis meses no ano passado. A Lei Aldir Blanc foi um alento para quem conseguiu aprovar projetos nos editais lançados pelo município, mas, em geral, toda a categoria vem sofrendo para pagar as contas e continuar vivendo de música.

Um dos músicos mais atuantes nos bares e restaurantes de Araraquara, André Peres fazia cerca de cinco apresentações semanais antes da pandemia. A partir de março, seus shows cessaram e ficou parado por seis meses, até agosto, quando teve início a flexibilização do Plano São Paulo. “A partir daí até dezembro meus trabalhos caíram para menos da metade. Passei a fazer duas datas em média por semana. Mas a partir de 20 de dezembro parou tudo de novo”, explica.

A dificuldade, conta André, só não foi maior por conta da lei Aldir Blanc, na qual ele foi contemplado em cinco editais. “Esses projetos estão me garantindo até este mês de janeiro, começo de fevereiro. Mas depois não sei como será?”, lamenta.

Ele, como outros músicos que tocam na noite, sofreram mais um golpe com a nova determinação do Plano São Paulo, que obrigou bares e restaurantes a fecharem as portas às 20h durante a semana e proibiu a abertura aos finais de semana. “Nas apresentações que fiz nesses locais durante a pandemia no ano passado me senti muito seguro e nunca voltei para casa com medo de ter sido contaminado”, avalia Peres.

Josapha: redução de três shows para um por semana e “lives” nas redes sociais

Outro músico conhecido da noite araraquarense, Josapha Dantas fazia uma média de três shows semanais antes de março de 2020. “Com a pandemia, parei totalmente de tocar em bares até setembro, voltando com uma data por semana. Tinha semana que passava em branco. Neste ano, fiz uma apresentação e tenho uma data marcada para fevereiro, mas não sei se vai se confirmar”, completa.

Professor aposentado, Josapha não depende apenas dos shows em bares e restaurantes para se manter, mas não consegue viver sem a música. Durante a pandemia, ele passou a fazer várias “lives” nas redes sociais, mantendo contato com seu público.

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Jussara Vargas: paciência, fé, resiliência e compreensão para suportar

A cantora Jussara Vargas também sentiu o impacto da pandemia tanto na redução de shows na noite quanto no número de alunos que recebia em sua casa para ensinar a arte do canto. “Fazia bares, festas particulares, aniversários e também recebia alunos em casa. Foi preciso me reinventar. Parei com os shows, até porque tenho mãe com 88 anos. Passei a dar aulas online e buscar outras alternativas não habituais. Até bolo pensei em fazer para vender”, acrescenta.

Apesar de ser servidora pública e não depender apenas da música para viver, ela sentiu no bolso a paralisação dos shows. “Cheguei a vender coisas minhas para entrar dinheiro, mas ao mesmo tempo procurei fazer da crise uma oportunidade de crescimento. Estudei bastante música, montei projetos, fiz serenatas online, serenatas de dia das mães, dia dos pais. Procurei diversificar. Não adianta ficar reclamando nas redes sociais. Vamos aguardar a vacina. É um processo passo a passo. Temos que ter paciência, fé, resiliência e compreensão para suportar, sempre olhando pra frente”, finaliza Jussara.